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Amós Oz fará parte do meu “Olimpo”
Demorei uma vida para concluir a leitura deste livro “ De Amor e Trevas”, mas não pelo fato da leitura não me agradar, muito pelo contrário, foi um suplício ter que adiar a leitura. O que aconteceu foi que meus olhos resolveram me pregar ( e continuam pregando) uma peça impossibilitando a leitura.
Trata-se de um livro autobiográfico e muito envolvente, porém, mesmo sendo um livro autobiográfico, fiz uma leitura muito pessoal.
Nascido em Jerusalém ( 1939) a infância de Amós OZ coincide com a criação do Estado de Israel , cuja independência se deu em 1948.
Seus pais foram emigrantes que fugiram da perseguição nazista. O pai ( Árie) era ucraniano e a mãe ( Fania) polonesa , ambos intelectuais, mas Israel precisava de braços fortes para sua construção , e não, de eruditos. Havia mais professores do que alunos, de forma que seu pai consegue ser apenas um bibliotecário na Biblioteca Nacional e sua mãe se transformou em uma mera dona de casa.
Sua mãe aos poucos adoece, torna-se deprimida, passa noites e noites insones e todas as tentativas de tratamentos foram inúteis.
É muito doído ver aquela mãe com o olhar perdido segurando seu copo de chá ou limonada ( não me recordo bem). Lembrei-me de uma frase do Ferreira Gullar : “ A arte existe porque a vida não basta”. Será que se a mãe do Amós pudesse ser uma escritora ela seria salva? Talvez, mas a arte não salvou V. Woolf.
Amós Oz era um apaixonado pelos livros desde a mais tenra idade. E que criatividade!!! Ele se definia com um menino com fome de história, e eu me defino uma leitora apaixonada. Apaixonada pela forma que ele me transportou para o mundo das suas fantasias infantis. Apaixonada pela forma que me conduziu pelos meandros da História, pela forma que ele recriou com seus "brinquedos" a História , pelas suas angustias retratadas - até sua ingênua angustia amorosa ele nos relata, pelas citações de inúmeros e inúmeros escritores, e também pela forma que narrou a expectativa dos seus conhecidos, por ocasião votação da ONU para a criação do Estado de Israel, e a alegria que tomou conta de todos.
E que Ser peculiar!!! Após a morte de sua mãe e do casamento do seu pai, rompe com a família, muda o seu sobrenome para Oz, até então, era Klausner e passa a viver em um Kibutz, onde se casa, tem suas filhas e lá vivem por mais de 30 anos ( talvez quase 40 anos, também não me lembro bem). [ Ai, ai será que essa passagem do casamento e das filhas, li no livro ou em minhas pesquisas (???)]
Embora meu comentário seja frio, a leitura que fiz me falou de perto, mexeu com as profundezas da minha alma. Amós fala sobre tiros que atingiram pessoas, mas esse seu livro me atingiu tal qual uma bala que penetra em um órgão vital.
Eu li no livro Malaquias da Andrea Del Fogo uma descrição belíssima da morte. Pois é. Nas “penas” de um (a) artista até a morte se torna bela, e nesse livro, no final da obra , a descrição que Amós faz da morte da mãe é de uma beleza angustiante. Chorei, chorei e estou chorando ao lembrar desse final.
Eu li esse livro no Kindle, mas vou comprar o livro físico. Quero ter Amós Oz, no “Olimpo” junto com os meus escritores (as) preferidos (as) : Guimarães Rosa, Camus, Clarice Lispector , Virginia Woolf e o único escritor vivo : o meu, o nosso Mia Couto. Lamentavelmente Amós Oz faleceu em 2018. Que perda!! Um pacifista. Um ser humano e um escritor tão único como uma impressão digital. Os escritores que falam a nossa alma são sempre seres único ,e , dessa forma, talvez eu esteja sendo redundante. AMEI, AMEI , AMEI...