De amor e trevas

De amor e trevas Amós Oz




Resenhas - De Amor e Trevas


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Vania.Cristina 29/12/2023

Memória familiar, íntima, pessoal e histórica
Este é um livro de memórias que narra a história da família do autor, judeus oriundos de diferentes países europeus que imigraram para a Palestina antes mesmo da criação do Estado de Israel.

Não foi uma leitura fácil porque a opção do autor foi ir e voltar no tempo, tornando a narrativa um pouco "amarrada". Ele também repete propositalmente algumas passagens e reflexões como se estivesse digerindo suas lembranças e os sentimentos que elas acarretam.

No entanto, faz isso com domínio da escrita, costurando, remendando, construindo uma narrativa única e potente, ora usando depoimentos, ora lembranças, sem negar que tanto um quanto o outro podem ter muito de invenção.

Além da história de sua família, Amos Oz mostra a forma como os judeus da Europa foram expulsos, principalmente do leste europeu. Fala da chegada dos imigrantes sionistas e da criação de Israel.

Mas o livro é muito mais que isso, porque traz uma perspectiva íntima e pessoal, como se ele estivesse nos mostrando algo além das aparências. Destrincha a história de seus avós maternos e paternos, e de seus pais, buscando entender suas motivações, seus sentimentos e contextos.

Dessa forma, trás muito do pensamento sionista mas também revela como foi traumática a chegada, não tanto pelo jeito como foram recebidos pelos palestinos, mas pela visão de que estavam numa missão que exigiria sacrifícios.

Olhando de perto, essa missão não parece fazer tanto sentido, porque todo o movimento de fuga da Europa, e da busca de um lugar de pertencimento, se revela frágil e, acima de tudo, patriarcal. As mulheres judias da época tinham estudo, liam frequentemente, eram inteligentes, mas ao final serviam à vontade dos homens e viviam debaixo de suas sombras.

Ao imigrar para um lugar muito diferente das paisagens rupestres da Europa de suas infâncias, para lá tentar "reconstruir a Europa sonhada" esses primeiros homens e mulheres acreditavam que se tornariam, aos poucos, maioria, e mostrariam superioridade, sendo tolerantes com "suas minorias" árabes.

É fácil entender a necessidade de sentir pertencimento. É fácil entender que os judeus corriam risco de vida se continuassem na Europa. Mas o livro nos mostra como era frágil e ilusória muitas das convicções defendidas pelos sionistas, e como seu sonho estava apoiado em estruturas capengas.

Amos Oz é um pseudônimo, adotado quando o autor ainda era um menino e renegou seu sobrenome, como se abandonasse os valores familiares. Sua escrita é forma de buscar compreender o que significa crescer como um garoto judeu na Palestina. Ele está buscando se entender, olhando para sua família e suas origens, e compartilha com o mundo o processo.
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ANDER CELES 19/06/2022

Uma história boa, mas uma escolha narrativa...
Primeiro, livro denso. Precisa ser lido com cuidado. Com atenção. Mas, apesar de denso, a escrita é bem tranquila. De fácil compreensão. Qual é o problema com esse livro, na MINHA opinião?

A narrativa é muito bagunçada. Há uma escolha para que a narrativa não siga uma ordem cronológica. E aqui é um livro autobiográfico, então isso é péssimo. Dá pra entender o que o autor está dizendo, mas a sensação de ler é um pouco... bagunçada, acho que a palavra é essa.

E aí acho que o problema maior disso tudo é que entre esses trechos que misturam passado, presente, futuro, volta pro passado, tem uns trechos longamente descritivos, o que torna a leitura extremamente cansativa. Tem vezes que a leitura dinâmica é necessária. E parágrafos muito longos...meu Deus! kkkk. A leitura já é cansativa em muitas partes, com parágrafos extremamente longos!

Enfim...uma história interessante, mas ao meu ver, muito cansativa.
Tiana 22/01/2023minha estante
Tive a mesma impressão que a tua ? porém infelizmente não consegui terminar a leitura ?, mas ainda pretendo retomar mas não sei quando pois realmente para meu momento hoje ele se tornou muito confuso


ANDER CELES 24/01/2023minha estante
Olha...se eu parasse, com o meu pensamento de hoje, provavelmente não voltaria...kkk alguns acabo lendo na raiva msm pra não sentir o dinheiro gasto a toa.


DIRCE 29/06/2023minha estante
Eu, simplesmente , MORRI DE AMORES por esse livro.


Cicero26 15/07/2023minha estante
Eu também gostei muito. É longo, e às vezes ele repete umas coisas. Também a forma como culpa o pai é muito pouco generosa. Mas é um livro sincero, não dá pra negar.


DIRCE 15/07/2023minha estante
Oi Cícero! Mas ele era apenas um menino, quando perdeu a mãe de modo tão trágico. No livro " O mesmo mar " há im capítulo: minha mão no tronco da Janela que achei belíssimo e interpretei como uma declaração de amor e um pedido desculpa.


DIRCE 15/07/2023minha estante
Trinco da janela e, não, tronco.


Cicero26 16/07/2023minha estante
Hum, vou procurar esse outro, Dirce, ?O Mesmo Mar?.




Pablo Paz 07/09/2021

De livros, amor e trevas
"(...) enquanto as pessoas sempre nos abandonam quando percebem que não podem mais obter nenhuma vantagem, prazer, interesse ou pelo menos um bom momento de nós, um livro nunca vai nos abandonar. Você com certeza vai abandoná-los, algumas vezes por muitos anos, ou até para sempre. Mas eles, os livros, mesmo traídos, nunca vão lhe dar as costas: vão continuar esperando por você silenciosa e humildemente nas suas prateleiras. Eles nos esperam até por dezenas de anos. Não se queixam. Até que numa noite, quando de repente você vier a precisar de um deles, mesmo que seja às três da madrugada, e mesmo que seja um livro que você tenha desprezado e quase apagado de seu coração por muitos e muitos anos, ele não vai decepcioná-lo - descerá da prateleira e virá conviver com você num momento difícil. Não fará contas, não inventará desculpas e não se perguntará se vale a pena, se ele merece, se você merece, se você ainda tem algo a ver com ele, mas virá a você no momento em que você pedir. Jamais vai trair você." (Fania Klausner [1913-52] in Amós Oz, De amor e trevas, 2005, pp. 319-20).
Esse trecho é um dos mais bonitos que já li sobre a importância dos livros na vida de certas pessoas. Sim, de CERTAS e não de todas as pessoas porque o livro não é uma paixão universal como a música ou a dança; como na canção "Livros", de Caetano Veloso, está mais para um vício, como maços de cigarros para o fumante. Livro é um tipo de vício.
Para quem quiser conhecer um pouco da diáspora judaica contemporânea, em especial da emigração dos judeus da europa oriental (asquenazes) em meados do século XIX e de sua imigração para a Palestina nas primeiras décadas do séc. XX até a formação de Israel (em 1948), leia esta obra que você entenderá muita coisa do que aconteceu naquela região. Embora escrita no gênero do Romance, é uma miscelânea - autobiografia, narrativa histórica, filosofia e considerações sociológicas - sobre sionismo, guerra, destinos familiares, alegrias pessoais, fracassos individuais, suicídio, livros, alfim, descoberta do mundo para além da nossa aldeia. Escrito na maturidade do autor, mas com um dos olhos de quando era menino, vemos todas as mazelas de duas famílias asquenazes, os Mussman e os Klausner, tendo que deixar cada uma sua terra, sua língua, seus bens, sua cultura devido à intolerância, humilhação e perseguição antissemita. Numa prosa leve e com certo humor, Amós Oz (1939-2018) leva a sério a dica (apócrifa?) de Leon Tolstoi sobre escrever uma grande obra a partir de sua aldeia. A dele, a de seus pais e a de seus avós. Obra-prima.
Pablo Paz 07/09/2021minha estante
Sim, Rafa, tem passagens sublimes...


Patty 10/10/2021minha estante
Estou encantada com esse livro, mas estou ainda no começo. Mas com uma resenha dessas com certeza vou acelerar a leitura! Parabéns e obrigada! ??




Max 22/07/2023

Amor e ódio...
É um livro de não ficção, em que Amós Oz narra sua infância e com ela o nascimento do estado judeu. O período coincide com a emigração dos judeus já quase ao fim da 2o. guerra mundial. As tensões desse período perpassam todo o livro. Toda aquela violência e injustiça que vemos cotidianamente, até hoje, nos noticiários está lá de modo cru, nesta inconciliável relação de ódio entre árabes, judeus e o Sionismo.
Não vou fazer juízo de valor sobre o tema, que é infinito em argumentos de parte a parte, mas é interessante ver a perspectiva dele e de sua família.
O livro tem lá seus defeitos, por vezes confuso e repetitivo, mas a honestidade de sua visão sobre o que ocorre ao seu redor, principalmente a tragédia da morte da mãe, nos emociona e ao fazê-lo torna-o universal.
O livro é denso como chumbo, só consegui lê-lo aos poucos, mas deixará por muito tempo cicatrizes em mim...
Recomendo!
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Maria 13/04/2023

De amor e trevas
Que livro sensacional!
O autor narra de forma cronológica não linear a sua vida e eu me diverti, ri, chorei, fiquei indignada, compreendi, discordei, entendi, fiquei arrebatada, cansada, animada.
Que autobiografia emocionante e gostosa de ler, não queria que acabasse, aproveitei cada leitura!
Recomendo muito!
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Guido 29/12/2009

Magnífico
Este é talvés o livro resumo de todos os livros anteriores de Oz...

Sua auto biografia, iniciando na Europa Central, com os dois ramos Asquenazi que foram as famílias do pai (Dr. Klaustner) e da Mãe.

Sua infância, o episódio do discurso Menachen Begin no teatro Edson, em Jerusalem.. as diferenças do Hebraico Clássico falado na Europa central Culta, e daquele coloquial falado em Jerusalem..

Os massacres da guerra de independência..

É uma viagem na micro história da familia de Amos Oz, e na história humana dos últimos cento e poucos anos.

Recomendo lê-lo e encontrar uma escritor e ser humano fantástico.
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Jaciara44 13/09/2020

Auto biografia lírica.
Frase preferida: " Uma biblioteca cheira a cola envelhecida, sabedoria, segredos e pó".
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Leila 28/01/2023

Realmente Janeiro está sendo especial para as leituras, acho que fiz ótimas escolhas para começar meu 2023 literário, pois venho com mais uma leitura FANTÁSTICA, FODÁSTICA E SENSACIONAL. Que livro lindo, gente, triste também, mas muito lindo. Falar que amo o Amos Oz é chover no molhado né? todos já sabem do meu caso com o autor desde que li Judas, mas ler De amor e trevas foi uma experiência diferente, foi mergulhar nas memórias do homem com breves retornos às suas obras que já li e além, ainda conhecer seus gostos literários também. Sem contar com toda a parte histórica e política de Israel contadas pelo ponto de vista de quem viveu de perto. Muito muito bacana, de verdade. Acho que por mais que eu tente falar sobre esse livro, nunca conseguirei transmitir as emoções em palavras, mas uma coisa é fato, se eu tivesse o autor próximo à mim com certeza eu o abraçaria. Abraçaria a criança solitária que ele foi, abraçaria o pré-adolescente que perdeu a mãe tão precocemente, como também abraçaria o jovem que foi para o kibutz e o homem feito que se tornou esse escritor incrível. Foi muito bom já ter lido obras do Oz que sempre tem esses traços autobiográficos e aqui em De amor e trevas confirmar o que apreendi, foi sensacional descobrir suas influencias literárias e saber que li exatamente o mesmo livro que o arrebatou e reafirmou a sua vontade de se tornar escritor, o Winesburg, Ohio do autor Sherwood Anderson (que sempre confundo e chamo de Willians, por conta da marca de tintas, kkkk). O cara teve uma vida incrível cercada de intelectuais e personalidades políticas e literárias de sua época e ele nos conta tudo de uma forma tão simples e corriqueira que mais parecia que estava tomando um café com pessoas simples, meros mortais e não nomes que ficaram e ficarão imortalizados na História. Enfim, estou encantada e digerindo ainda toda a maravilhosidade que é esse livro. Leiam e depois me contem se o Oz não é realmente "o cara".
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André Vedder 13/03/2023

Sou um grande admirador da escrita de Amós Oz e ao término desse seu romance autobiográfico me transformo também em um simpatizante da pessoa por trás do escritor.
Seu foco aqui é o período da sua infância até os dezesseis anos, onde o escritor nos apresenta toda sua família e aborda todos os fatos e acontecimentos, como a Segunda Guerra e a Independência de Israel e todos demais conflitos na Palestina, sob a visão dele e de seus familiares na época.
Sua narrativa nos leva por Israel, entre suas ruas, casas, becos e habitantes, onde passamos a acompanhar os passos do menino Amós e com ele rimos, choramos e refletimos sobre os mais diversos aspectos da vida.
Amós conviveu desde criança com o mundo dos livros e o círculo social da família era composto por escritores, estudiosos, professores e demais intelectuais. Até tentou se desvencilhar desse caminho, mas para nossa sorte virou escritor.

"Muitas vezes a alma é a maior inimiga do corpo: não deixa o corpo viver, não o deixa ter prazer quando ele quer e não o deixa descansar quando ele implora por descanso. Se fosse possível tirar a alma com uma cirurgia simples, mais ou menos como extraímos as amígdalas, ou o apêndice, todos poderíamos viver saudáveis e satisfeitos por mil anos."
DIRCE 30/06/2023minha estante
Ótima resenha. Concisa . Esclarecedora. Eu só não disse se ele espirrou ou não.




Lílian 08/06/2012

Estou simplesmente apaixonada pelo Amós Oz.
Ele escreve como eu gostaria de escrever. E ainda descomplica um pouco para os que estão de fora, eu, por exemplo, a situação tão conturbada de Israel. Isto sob a visão de um judeu israelense que foi um dos fundadores do "Paz Agora", uma organização que luta pelo entendimento entre israelenses e palestinos.
Este livro é uma autobiografia maravilhosa e imperdível.
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Jessé 13/02/2023

Espetacular!
Esse livro autobiográfico do Amos Oz é fantástico. Além de o escritor ter um jeito muito cativante de contar histórias, a vida dele foi muito instigante.

Tanto ele como sua família participaram e viram eventos históricos impressionantes, como imigração dos Judeus para Palestina, segunda guerra (ao qual a família de sua mãe imigrou da Polônia, pouco antes dos eventos nefastos que se sucederam envolvendo os Judeus) a independência do estado de Israel, guerra dos 6 dias etc etc.

Como se não bastasse, o cara vem de uma longa linhagem de intelectuais e escritores, alguns verdadeiras referências da cultura judaica.

No meio de tantos fatos históricos, ele vai inserindo memórias que marcaram sua vida, sendo as que ele tem com a mãe, suas memórias mais importantes, e que praticamente servem como fio condutor para o livro.

Resumindo; história é o que não faltava para o escritor colocar no papel.

Um livro magnífico pra quem gosta de biografias, e pra quem gosta de história também. Inclusive o livro foi uma ótima porta de entrada, e que facilitou muito minha vida com a leitura do livro ?Israel uma história? da Anita Shapira, pois me deixou muito bem situado com alguns termos e eventos sem a necessidade de estar toda hora interrompendo a leitura para procurar informações.

Claro que terminei o livro querendo ler muito mais do escritor. Recomendadíssimo!
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JanaAna90 03/04/2023

Amós me fez testemunha das suas memórias
A cada resenha um desafio diferente, aqui fica a minha inquietação de como expressar os sentimentos que povoam o meu ser em palavras, ciente que não sou uma gota de Amós e de sua grandiosidade na escrita. Então estou tentando mergulhar em mim e arrancar um pouco do muito que foi ler cada memória dele. E, usando as palavras de Amós: ? é muito melhor procurar não no terreno que fica entre o escritor e sua obra, mas justamente no terreno que fica entre o texto e seu leitor.?
No livro que são as memórias do autor, e da sua busca que, penso eu, foi longa, dolorosa e essencial, para o descortinar de si mesmo; memórias da sua infância até sua adolescência e a história de sua família que teve como plano de fundo os fatos históricos de Jerusalém e o nascimento de Israel (um acontecimento que foi narrado de forma belíssima).
Logo no início percebi que iria amar o livro, porque Amós sempre foi uma criança que amava livros, inclusive ele dizia que queria ser livro (na justificativa me emocionei), um conhecedor dos grandes escritores, até cita vários livros, gostava de Tolstói, então não tem como não me apaixonar.
Sua escrita nos leva da gargalhada ao choro, em um passe de mágica; eu lia e me via fazendo parte, ou melhor, sendo testemunha da sua história de vida.
Conheci e aprendi um pouco sobre um país que até então, não sabia quase nada. Com um olhar apurado, sensível e profundo o autor nos coloca à frente do nazismo, do holocausto, da guerra e todo o horror e consequências vividas pelo judeu e árabes.
Uma infância triste, difícil e conturbada com a perda da mãe e todas as dificuldades vivida por sua família durante a guerra, mas a narração cheia de humor e também com momentos felizes e divertido que nos leva aos extremos da tristeza a alegria.
Uma adolescência de desafios e recomeços, reconciliação e encontros, marcaram a vida e essa grande obra e que, também deixou marcas profundas e intensas em mim.
Segundo o pai de Amós: ??se você rouba seus conhecimentos de um livro, não passa de um plagiador, mas se rouba de cinco livros, então é um pesquisador. Porém, se chega a roubar de uns cinquenta livros, aí você é um pesquisador emérito.? Hoje peço desculpas a Amós, porque serei uma plagiadora confessa de suas memórias, sua riqueza de conhecimento, vivências, aprendizados. Semearei suas palavras e seus livros por onde eu for, para despertar/plantar o amor pelos livros e pela beleza e riqueza das palavras de Amós.
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Luciana 03/09/2020

Temática interessante, mas escrita um pouco cansativa
Gostei da temática do livro. Eu não sabia muito sobre a história do povo judeu e da criação de Israel, e o livro explica vários episódios. Há também diversas passagens bastante profundas, de reflexões psicológicas bem escritas. Apesar disso, achei que o enredo carece de um fio condutor, indo e voltando na história o tempo todo (e se repetindo) - gostei do efeito disso no final do livro, mas no geral achei a obra um pouco cansativa e redundante por esse motivo. Creio que a intenção do autor foi justamente de conferir ao livro essa sensação de familiaridade com os acontecimentos narrados, mas, para mim, ficou prolixo. Em todo caso, considero uma obra valiosa e a solução que encontrei para ganhar fôlego foi alternar a leitura com outros livros menores e mais ágeis.
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Daniel Andrade 13/01/2022

Maravilhoso, perfeito, gigantesco.
Desde que tomei conhecimento da existência desse livro, fiquei interessado porém com medo de não gostar. Medo desnecessário. Que história incrível, delicada, engraçada e (muito) triste. O último capítulo é uma das melhores e mais angustiantes coisas que já li.
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Ramon Diego 12/04/2022

?Todas as manhãs, um pouco antes ou um pouco depois do nascer do Sol, eu costumo dar uma volta para ver o que há de novo no deserto. O deserto começa aqui, em Arad, bem no final da nossa rua?.
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É assim que o livro do escritor Amós Oz nos pega, como um sussurro das areias do deserto ao nosso ouvido, anunciando os caminhos solitários e, muitas vezes pouco ortodoxos que parecem nortear nossa jornada no mundo.
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Assim, seu livro ?De amor e trevas? publicado em 2002 pela Cia das letras parece, também, nos mostrar como o ato de ser no mundo se equilibra entre dois polos, tensionados ao máximo: o amor pelo próximo e pelo mundo e as sombras da ganância, da intolerância e do preconceito que parecem nos espreitar por todo canto. Em poucos mais de 600 páginas, esse projeto literário de desvendar o amor e as trevas, em um espaço que chama de seu, nos conduzem a importantes questões e reflexões.
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Para o escritor israelense, esse amor se transforma naquilo que nossa memória materializa em afeto, pela força de imagens líricas que nos enchem os olhos, partindo de figuras muito singulares, do que ele chama de ?sua aldeia?, figuras quase saídas de um mundo fantástico como a da Morá-Isabela, que ?era uma pastora de Gatos: aonde quer que ela fosse, estava constantemente rodeada por manadas de gatos admiradores que ficavam sempre em sua cola, esfregando-se nas suas pernas, rente à barra da saia?. Imagens que se fortalecem, sempre em relação ao outro, na lida com o outro.
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Na cidade de sua memória, no entanto, o lugar no qual se estabelece é, também corroído por sombras, dos discursos do ocidente sobre si mesmo e sobre os seus países irmãos. Assim, a escrita que é empreendida em ?De amor e trevas? nos encaminha ao limiar, entre o urbano e o deserto, entre o que se mostra e o que se esconde, reconstruindo uma imagem de Jerusalém, agora, moldada entre o real e a o desejo do real:

?A Jerusalém judia não era nem jovem, muito menos sólida e armada; era uma aldeia de contos de Tchekhov, atônita, confusa, aterrorizada, varrida por mexericos e boatos alarmistas?

Oscilando entre o gênero autobiográfico e o romance, entre a imaginação e a experiência cruel do real, entramos no mundo de Amós embalados por um passeio sensorial, em que os cheiros, os sons, as imagens e os afetos parecem compor uma Jerusalém em formação, cuja história da cidade é construída, de forma paralela a dos homens e mulheres que dela participaram.
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Por fim, o que posso dizer sobre esse livro é que ele é uma imersão não só na obra do escritor em questão, como nas disputas geopolíticas pós-segunda guerra. Ele nos fala sobre paz e guerra, sobre Israel e Palestina, sobre tolerância e ódio, no entanto, talvez sua maior mensagem seja a de que há sempre tempo de abrirmo-nos ao diálogo, mesmo quando ele é raro, mesmo quando pensamos que ele não mais adianta, pois é na falta de esperança ao compreender o outro e suas motivações, que as sombras de nossas ações se pluralizam nos interditos! Livraço!
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