Jaqueline 12/09/2012"Encontro às Cegas" se revelou uma das leituras mais gostosas, despretenciosas e divertidas que fiz nesse ano! Neste envolvente chick-lit da autora argentina Carolina Aguirre acompanhamos a história de Lucía, uma mulher de 30 anos que trabalha em uma editora de revistas em Buenos Aires. Urbanóide, ganhando pouco, decepcionada com sua rotina casa-trabalho-casa e constantemente humilhada pela mãe pelos seus “15 quilos acima do padrão”, ela sofre o drama cotidiano de toda solteirona contemporânea: a falta de pretendentes decentes no mercado.
Todas as suas angústias de solteira atingem um novo patamar quando ela ouve uma aposta feita por sua mãe com sua encantadora irmã mais nova, Irina, que está prestes a se casar: se Lucía não fosse sozinha, encalhada, vestida de preto e com disposição apenas a ficar bêbada na festa de casamento da “hermana”, mas acompanhada por um namorado sério, sua mãe arcaria todos os custos da recepção. Chocada e com pouco mais de 200 dias para mudar sua situação, nossa protagonista decide virar o jogo e começar uma árdua jornada em busca de um namorado a partir de uma série de encontros desastrosos e hilariantes.
O primeiro da lista pertence ao risível grupo dos solteiros de seu trabalho, que sempre almoçam juntos e saem para o boliche no final do expediente da semana, o feioso Marcelo Ugly, um hippie que curte artesanato indígena e toma chimarrão ao invés de café. É claro que após um final de semana no meio do mato o tiro sai pela culatra, levando Lucía a reencontrar antigos casos, como o ex-namorado Rodrigo e o pão duro Eduardo, com quem teve apenas alguns encontros.
Conforme fiquei sabendo depois, o projeto "Encontro às Cegas" começou como um blog pessoal da autora e depois tornou-se série de televisão. A parte da identificação com a história fez toda a diferença para mim, que sou e conheço umas 5 "Lucías" no meu círculo de amizades. Mesmo se você não for uma solteira “desesperada”, certamente conhece alguém nesse estilo, com uma auto-estima completamente nanica e muita acidez para lidar com um dia-a-dia sofrível e amigas casadas que vivem querendo lhe arranjar um parceiro “que tem tudo a ver” com você, mas que se provam verdadeiras ciladas.
A parte onde ela encara seus potenciais "futuros namorados" após se cadastrar em um site de relacionamentos é pequena em relação ao resto do livro, e confesso que a considerei a mais sem graça. O melhor de "Encontro às Cegas" é a importância dos personagens secundários na história, que agitam a dinânica do livro e nos divertem com suas próprias situações. Os comentários venenosos e espontâneos da mãe de Lucía, assim como as crises de noiva histérica de sua irmã são um show à parte! Pessoalmente, me identifiquei horrores com seus comentários sarcásticos sobre a vida cotidiana e o perfil de seus pretendentes.
“Encontro às Cegas” tem uma linguagem simples e um ritmo extremamente agradável. Li o livro em apenas um dia, sem grandes expectativas, mas depois dos primeiros capítulos eu já não queria que ele acabasse nunca. O final feliz é garantido, apesar das muitas desilusões que Lucía sofre pelo caminho. Em diversos momentos ficamos sem saber que rumo a história vai tomar, uma vez que o grande "Príncipe Encantado" da história se mostra um verdadeiro canalha ainda na metade do livro. Várias referências ao cotidiano da província de Buenos Aires também estão presentes do livro, o que mostrou-se um bom diferencial do livro em relação ao gênero chick-lit. Vale a pena ler e se divertir!