Maltenri 23/07/2011
O Porto das Brumas - Georges Simenon
“O Porto das Brumas” é um pequeno romance policial escrito por Georges Simenon em 1932. Conta a investigação acerca da morte do capitão Joris, modesto capitão de um porto no noroeste francês. Ele é encontrado vagando em Paris, com uma soma considerável no bolso, amalucado e trepanado. O comissário Maigret se encarrega de sua escolta até sua residência no porto de Ouistreham. No decorrer da primeira noite de volta, Joris é assassinado.
Como de costume, Maigret, apesar de seu raciocínio lógico excepcional, prefere avançar vagarosamente nas suas investigações, se impregnando do estilo de vida do meio onde aconteceu o crime. Prefere também confiar desmedidamente em seus instintos, atirando acusações e deduções para forçar confissões.
No entanto, nesta obra, ele é tirado de seu procedimento habitual, forçado pelo silêncio de todos os envolvidos na trama. Desta forma, vemos um Maigret mais irritadiço, mais nervoso do que o habitual, tentando forçar por diversas vezes situações, o que é contrário ao seu modus operandi. Temos aqui uma característica interessante do interior francês: a cumplicidade entre os habitantes de um lugarejo, aversos a estranhos.
Este livro é um dos primeiros da carreira de Simenon. Percebe-se um estilo pouco definido, alternando bons momentos, perspectivas e ritmos. Por vezes, o autor parece conversar com o leitor. Outras, tem-se a impressão que o autor está escrevendo um roteiro de algum filme, ou posicionando o cenário de uma peça de teatro.
Apesar disso, ele consegue estabelecer um clima denso, pesado e misterioso. Utiliza-se das brumas do título para criar um lugar pouco definido e pouco povoado, onde se vê vultos e escutam-se vozes, sem ter certeza de nada. Tudo é indefinido, do trabalho principal das pessoas até seu ritmo de vida, ditado pelas travessuras de mãe natureza; tudo é boato e meia-verdade.
A trama aparece complicada, com vários elementos que parecem não se encaixar. Porém, a medida que acompanhamos Maigret, este nos apresenta com simplicidade as conexões entre cada peça do quebra-cabeça.
O final é inesperado, muito diferente do que poderia supor o resto da trama, com culpados não tão culpados e inocentes sem inocência.
Tudo levado em conta, a obra é interessante. Prende a atenção do inicio ao fim, com diversas reviravoltas. A leitura é rápida, afinal a trama é relativamente curta. Um bom livro para divertir-se, garantia de bons momentos.