Marcos 15/04/2016A Morte em Veneza e Tonio Kröger são duas histórias independentes do escritor alemão Thomas Mann. Elas foram compiladas nessa edição da Companhia das Letras que está republicando suas obras em uma coleção que leva o seu nome. Por tanto, essa resenha será dividida para cada uma das obras apresentadas.
A Morte em Veneza traz a história do escritor Gustav von Aschenbach, que vai à Veneza em busca de repouso em uma espécie de férias para buscar inspiração para seu novo livro. De lá, ele partiria para outra cidade, porém em seu hotel encontra-se hospedado um jovem chamado Tadzio, por quem Gustav logo se encanta. Ao longo e sua estadia, Gustav e Tadzio não trocam sequer uma palavra, pelo contrário, o escritor o admira o tempo todo, à distância, com medo de lhe proferir algo. O máximo que conseguem é uma troca de olhares aqui e acolá.
Porém, as mudanças repentinas do tempo fazem com que Gustav fique com a saúde abalada. Mesmo assim, sua paixão por Tadzio faz com que ele não queira deixar Veneza de jeito algum. Posteriormente, isso lhe trará um custo alto.
Essa história é um clássico da narrativa de Mann. Nela veremos como o autor gosta de abordar os seus personagens, gosta de nuances na escrita e de trabalhar os vários significados que o texto possa ter através da vasta gama de possibilidades de leitura que o leitor possa fazer sobre ele.
Uma questão que se faz presente é a polêmica relação dos protagonistas da história. Uma vez que Tadzio é descrito como ainda um adolescente recém-saído da fase infantil e Gustav um adulto já experiente, teremos aí uma relação que tende para a pedofilia, o que faz com que o livro seja sempre citado em listas que abordam essa temática na literatura. Mesmo estando com narrativa em primeira pessoa, o leitor atento percebe que toda a situação do romance só ocorre na cabeça de Gustav e Tadzio, em nenhum momento, lhe dá esperanças de que isso vá acontecer. Trata-se quase que de uma obsessão doentia por parte do escritor por sobre o jovem. É um texto polêmico, que daria margem para muitos debates.
Já em Tonio Kröger teremos a história do personagem homônimo, um escritor que, ao longo de sua vida, lida com a contradição de conhecer o seu eu e de se dedicar à arte. O livro aborda muito a relação arte-artista, trazendo o ponto de vista do escritor por sobre a sua existência e o mundo à sua volta. É interessante como Mann, nesse caso, é bastante sucinto e objetivo em situar o leitor na vida de Kröger, fazendo essas passagens brevemente e focando em suas reflexões. Percebe-se que, sendo o protagonista também um escritor, Mann usa-o para desvelar e trabalhar em cima de fatos autobiográficos, abordando seus sentimentos e sua própria profusão de ideias.
No geral, esses textos são ótimas formas de começar a ler o autor, uma vez que são curtos mas pungentes no que tange à sua narrativa. Vários traços das características conhecidas de Mann podem ser encontrados neles. Vale destacar também a edição maravilhosa que a Companhia das Letras fez, com capa dura e diagramação bem trabalhada. Sem dúvidas já quero essa coleção inteira na minha estante.
site:
http://www.capaetitulo.com.br/2016/04/resenha-morte-em-veneza-e-tonio-kroger.html