Resenhas - Amigos, Amantes, Chocolate

regifreitas 11/12/2022

AMIGOS, AMANTES, CHOCOLATE (Friends, Lovers, Chocolate, 2005), de Alexander McCall Smith; tradução Ivo Korytowski.

Fazia tempo que não lia algo que me arrebatava tanto. Que livro delicioso!

Desde as primeiras páginas me vi imerso na história, nas questões pessoais e éticas vividas pela protagonista, Isabel Dalhousie. Na faixa dos quarenta anos, editora da Revista de Ética Aplicada, Isabel é uma mulher de curiosidade aguçada, sempre disposta a encarar boas discussões filosóficas e debater os princípios morais e éticos presentes nas situações mais cotidianas.

Ao assumir temporariamente a gerência da delicatéssen da sobrinha, que tem que se ausentar por uns dias, Isabel, acostumada a viver cercada de manuscritos e livros, se vê envolta num mundo de chás, queijos, vinhos, chocolates e outras iguarias exóticas. Um dos clientes da loja desperta-lhe a atenção. Ian acaba de receber um transplante de coração, e, após a cirurgia, passa a ter sonhos ou visões com um rosto desconhecido. Com o novo órgão teria ele também herdado memórias do doador anônimo?

A teoria da "memória celular" de fato existe, e Alexander McCall Smith a utiliza aqui como um dos motes do seu enredo. Através de Isabel são levantadas diversas questões sobre esse tema e de todas as implicações envolvidas por ele caso a teoria se demonstrasse verdadeira.

Mas esse não é o único tema da trama, nem o mais importante. Embora a obra seja vendida com uma história de mistério, essa não é a chave correta de leitura para este romance. A investigação e as descobertas de Isabel são o que menos importam. As relações entre ela e os demais personagens é que merecem ser verdadeiramente degustadas aqui.

Já tinha lido outro livro do autor, MORALIDADE PARA GAROTAS BONITAS, que não tinha me agradado tanto. Agora sinto que preciso relê-lo, pois o fiz da forma errada da primeira vez.

Depois de uma sequência de livros mais densos, é muito bom encontrar algo que seja divertimento puro. Entretenimento de primeira, sem ser frívolo ou vazio. Com leveza, McCall Smith acaba discutindo temas sérios e relevantes.