Marcelo.Silva 14/02/2023Recomendo a leitura!Comecei a gostar de poesia por volta dos 16 anos de idade. Desde então li vários poetas nacionais e internacionais. Do inglês Oscar Wilde ao estadunidense Allen Ginsberg; do japonês Daisaku Ikeda ao chileno Pablo Neruda; da poesia nordestina de João Cabral de Melo Neto à poesia sulista de Paulo Leminski; da macrorregional Cora Coralina à microrregional Mariana Anselmo; da octogenária Marina Colasanti à trintenária Rupi Kaur; entre tantas outras. Ao longo dessas leituras eu sempre me deparava com as obras de Carlos Drummond de Andrade, mas nunca as lia. Sempre me cobrava: “tenho que ler Drummond”. Mas não pegava para ler. Claro que eu já havia lido poesias soltas ou parte delas em livros didático, aulas de literaturas, etc. Mas pegar uma obra na íntegra para degustar eu ainda não havia feito. Hoje eu me pergunto o porquê de eu ter demorado tanto para ler um poeta tão sublime. A obra “Sentimento do mundo” é algo surreal. Me transportou para 1930 e até mesmo antes em algum cantinho de Itabira em Minas Gerais. Logo eu, mineiro de berço, me privei por trinta anos de viver essa epifania. Me lembro de ter lido a primeira poesia no mínimo umas dez vezes. Li, reli, reli novamente e continuei relendo por quase meia hora a mesma poesia. Me pus a pensar a que mãos se refere Drummond quando diz querer abraçar o mundo. Tive certeza de que não são as mãos capacitistas de alguém descuidado ao escrever, mas as mãos metafóricas do sentimento incansável de querer abraçar os problemas do mundo sendo um só mediante a imensidão. A inquietação burguesa daquele que teve ouro, gado e fazendas, mas o sentimento do mundo todo desfez restando apenas a própria carcaça para lhe servir como força de trabalho em uma burocrática repartição pública. Seria ele próprio um alienado inocente do Leblon que observa o proletário que trabalha ao mar. Não sei e não me meto a dizer o que deveria ser. Apenas fico pensando o que poderia ser, mas não o que deveria. De uma coisa eu sei, eu deveria ter lido essa obra antes. Como não fiz, que bom que li agora. As poesias “Sentimento do mundo”, “Operário no mar”, “Inocentes do Leblon” e “Elegia 1938” foram as que mais me impactaram; ainda que todas de alguma forma mexeram comigo. Sem dúvida, essa é uma obra que irá reverberar bom longos anos na história da humanidade; em partes pela beleza, mas principalmente pela denúncia da decadência político-moral humana. Recomendo a leitura!