Amanda 12/02/2016A garota dinamarquesaLivro: A moça de Copenhague.
Autor: David Ebershoff.
Editora: Rocco.
Número de páginas: 332.
Estrelas no Skoob: 4
"Sim, foi essa a sensação que ele teve naquela primeira vez: a seda era tão fina e arejada que parecisa uma gaze - uma gaze encharcada de bálsamo, e que jazia delicadamente sobre a pele em tratamento." Pág. 18
A moça de Copenhague, agora também conhecida por A garota Dinamarquesa graças a adaptação cinematográfica, é uma biografia (bem) romanceada de Lili Elbe, a primeira mulher transexual a fazer a cirurgia de mudança de sexo.
Passado no começo da década de 20 em Copenhague, Dinamarca, o livro conta a história do pintor Einar Wegener, muito conhecido pelas suas paisagens pantanosas de sua infância, e de sua esposa, Greta, que pinta retratos para os burgueses e está lutando para ser mais reconhecida. O casamento dos dois era como qualquer outro, até que um dia Greta pede para que o marido coloque um vestido para que ela possa terminar um quadro, e tudo acaba mudando.
De uma brincadeira entre marido e mulher, Einar acaba descobrindo que dentro dele há uma moça chamada Lily, e que ela precisa ser mostrada para o mundo. Ela passa a posar usando vestidos para que sua mulher possa pintá-la, e a sair na rua assim, chamando a atenção de rapazes. O que antes era diversão acaba se tornando uma vida, e uma questão de saúde. A história mostra como Einar transiciona no dia-a-dia de Einar para Lili, como sua mulher e seus conhecidos reagem a isso e como ela sacrificou toda a vida que conhecia para viver uma que realmente valesse a pena.
"Ah, caramba, era só o que me faltava, jantar com meu marido vestido de mulher. MAs guardava esses pensamentos para si mesma, mordendo os lábios até sentir o gosto do próprio sangue." Pág. 82
No fim do livro David deixa bem claro que este é um romance quase que absolutamente não baseado em fatos reais. Afinal, não há como saber como o casal lidou com o fato de Lily ser uma mulher. Apenas sabe-se que Greta a apoiou completamente. Então o autor teve uma bela gama de possibilidades para explorar. Uma coisa que não me agradou muito, foi como ele descreveu essa descoberta da transexualidade de Lily. Foi de um modo... Peculiar. Durante a primeira metade do livro parece, na verdade, que Einar sofre de personalidades múltiplas, como se Einar e Lily fossem duas pessoas totalmente diferentes - tendo até partes em que quando ele está vestido de Einar não se lembra das ações de quando estava como Lily e vice-versa. E aos poucos é como se Lily passasse a tomar conta do corpo inteiro. Então isso foi algo que me desagradou - como se colocasse a questão da transexualidade em segundo plano.
Graças ao maravilhoso trailer do filme, eu fiquei com altas expectativas - tanto para ele quanto para o livro - o que dificultou um pouco a minha leitura e acabou me deixando ligeiramente desapontada. Apesar de ter gostado bastante do livro, ainda esperava bem mais dele. Acredito que David optou por uma história mais utópica, pois imagino que, se ser uma mulher transexual já é difícil hoje, naquela época deveria ser bem mais difícil. Pesquisando sobre a história real, da para descobrir que Lili teve seu nome e sexo trocados legalmente na Dinamarca e, por isso, teve seu casamento anulado. Mas, com certeza, não deve ter sido algo fácil conseguir isso - e durante o livro só há uma linha que menciona o fato, além de que quase não há ninguém chocado e/ou repugnado com o fato de ser transexual. Como se fosse algo extremamente comum na época.
Tirando essas pequenas decepções, a leitura do livro é bem gostosa, apesar de eu ter achado lenta, e é bem interessante ter essa base para o filme, que eu estou achando que será abordado de uma maneira diferente (e melhor k).
"Greta perguntou-se porque continuava falando de Lili como se ela fosse uma terceira pessoa. Einar se sentiria esmagado, e ela podia até imaginar aqueles ossos finos desmoronando, se ela admitisse, pelo menos em voz alta, que Lili nãp passava de seu marido de vestido. Mas essa é que era a verdade" Pág. 111.
P.S: Vários nomes e datas foram mudados - como as de nascimento, morte de Lily e a de casamento com Greta (Gerda).
Filme
Devo dizer que estava apreensiva com o filme, porque na véspera de ver o Ruan veio e me falou que era bem parecido com o livro nos quesitos que não gostei acima. Mas devo dizer que, mesmo assim, eu gostei muito.
Eles pegaram todas as principais cenas e momentos no filme e, óbvio, complementarem com novas que deixaram a história mais fluída do que no livro. A maior alteração, que eu pude notar, foi a grande diferença no relacionamento de Einar e Greta. No livro, eles já estão em um ponto do casamento que eles praticamente não fazem sexo ou se tocam. Na adaptação cinematográfica eles optaram por fazer justamente ao contrário: deixaram-nos extremamente apaixonados e afetivos desde o começo.
Acredito que essa escolha foi muito melhor, porque assim pode ser mostrado o desenvolvimento da relação deles por causa da transformação até Lili - a dor de ver Greta realmente perdendo seu marido, mas, ao mesmo tempo, abraçando a nova amiga. Porque no livro eu achei que ela era fria e quase não se importou.
Vi MUITA GENTE metida a especialista de filme falando que a atuação do Eddie como Lili foi igual ao Stephen Hawking em A teoria de tudo: esse povo precisa de óculos porque ele foi fabuloso e, para mim, tinha que levar o Oscar, assim como a Alicia Vikander (Greta)
O filme é extremamente tocante e sensível. Eu achei que iria chorar, mas isso não aconteceu. (Minha namorada chorou horrores, em compensação).
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