bobbie 21/01/2020
O erotismo sob o viés filosófico de Bataille.
Iniciei a leitura deste livro no final de dezembro de 2019. Quando, ainda no processo de leitura do mesmo, iniciei a leitura de A alma imoral, do rabino Nilton Bonder, deparei-me com dois livros que, apesar do abismo metodológico que os separa, conversam intrinsecamente entre si, resguardadas algumas terminologias, obviamente. Bataille fala sobre o erotismo como pertencente à esfera acéfala do ser humano - ou sua natureza, aquilo que é avesso à moral, à cultura. Em Bonder, há o paralelo com o mundo moral (cultura) em oposição ao desejo, à natureza do ser humano, o seu lado animal (o imoral, sua alma). No mundo moral, religioso, cercado das mais distintas leis, o erotismo torna-se aquilo que provoca à fuga ao controle de si e que, por isso, é condenável. Entra aqui o conceito dos interditos da alma, da natureza humana, das transgressões. Bataille sabe, bem como Bonder, que a transgressão, o erotismo, não apenas supera como COMPLETA o interdito. Ou seja: transgredir é necessário. Através de uma análise profunda, Bataille nos surpreende ao mostrar que, em estágios pagãos das religiões, o erotismo era responsável pela fundação do sagrado. Rituais e sacrifícios representam isto. No paganismo, apenas a transgressão tinha o poder de abrir as portas para o sagrado, ao contrário do que pensam as religiões modernas. Outro ponto fundamental deste livro, que faz com que os subsequentes livros História da sexualidade, de Michel Foucault se aproximem dele, é a questão da economia do trabalho, que faz com que o homem se afaste de sua animalidade original e suprima, de certa forma, seus impulsos eróticos. No geral, não se trata de um livro para ser lido para deleite das horas vagas. Trata-se de um profundo e complexo tratado filosófico que, basicamente, serve para explicar que o erotismo é intrínseco ao ser humano e por que a entrega a tal aspecto fundamental da nossa humanidade representa, na maioria dos casos, uma aberração tamanha às sociedades entregues ao pensamento religioso.