Vanessa1409 03/10/2023
Suspense Cansativo
Narrado em primeira pessoa, o texto tem toques divertidos, um humor inteligente que cativa. Na cena do julgamento, o patologista discorre sobre os ferimentos da vítima com detalhes técnicos precisos, voz fria, detalhes angustiantes para os leitores. Um dos destaques é o racismo que reinava no Mississipi na década de 70, e o autor deixa o fato bem explícito em vários capítulos. A linguagem coloquial é carregada de acuidade, com algumas palavras arcaicas, porém, condizentes com a época em que a história se passa. O começo do livro é enfadonho, cansativo. Depois, tudo se agita, ao ponto de instigar o leitor a absorver os capítulos com uma sede ansiosa. E novamente tudo volta ao ponto maçante. Descrições desnecessárias, que nada acrescentam à trama principal. Quando, já nos últimos capítulos, tudo parece trazer uma grande surpresa, aquele clímax que um leitor voraz adora, a decepção se faz presente. Tudo é muito óbvio, muito previsível. Os pontos altos ficam no meio do livro, e nenhuma surpresa nos é apresentada no desfecho, deixando muito a desejar. Para ser sincera, eu tinha esperanças de que o autor me provocasse a sensação de ?plot twist?, fato que não aconteceu, infelizmente. Acho que coloquei uma expectativa alta... Há o esboço de um romance entre Willie e Ginger, irmã de Rhoda, a vítima. Mas é tudo muito superficial, e nesse ponto concordo com John, um gênero de suspense não tem muito espaço para romance. Para finalizar, o autor deixou pontas soltas que poderia ter explorado melhor, crimes não solucionados e abordados superficialmente. O paradeiro final de Lydia Vince, testemunha álibi de Danny Padgitt, ganharia um toque interessante, bem como o desvendar do assassinato de Malcom Vince, ex-marido de Lydia, que refutou o testemunho da ex-mulher com veemência. E tudo ficou no ar, decepcionante e insuficiente para o mesmo autor de Tempo de Matar.
GRAMÁTICA: A tradução e a revisão foram muito bem feitas, meticulosas, exemplares. Se o enredo atendesse às expectativas, teríamos um conjunto delicioso para enriquecer a literatura. Grisham elaborou boas frases impactantes, chamativas, pecando apenas na parte criativa. Não tenho muito o que dizer sobre esse quesito, a equipe de edição fez o seu trabalho de maneira exímia e merece os aplausos. Ênclises e próclises em perfeitas colocações, fazendo-me vibrar com esse cuidado da revisão. Encontrei até as ?famigeradas? mesóclises corretamente alocadas nas falas do promotor durante o julgamento, um êxtase aos amantes da língua portuguesa. Um único incômodo, porém, não um erro: numerais. Prefiro quando são escritos por extenso, faz mais sentido para mim, prefiro que a matemática fique com os números, e o português, com as letras. No entanto, como já disse, não é um erro, apenas um senso de estética que grita aos meus olhos.
NOTA FINAL: Para quem leu Tempo de Matar ? ou assistiu ao filme ?, não espere pelo mesmo nível de trama. Ainda estou tentando entender se o título tem a ver com Willie como testemunha final de uma vida ou se está entrelaçado com um dos assassinatos. Não é uma leitura que eu indicaria sem as ressalvas certas. É um suspense cansativo, decepcionante... e o pior: sem suspense! Tudo é previsível, escancarado, sem aquela epifania deliciosa. O ponto alto, além do assassinato principal, é a afronta ao racismo, e isso o autor explorou devidamente. De zero à cinco, minha nota é dois (pelo racismo denunciado nas páginas).