marrdduda 08/11/2023
Poético, reflexivo e bonito
Vi muitas opiniões ruins sobre este livro, o que me deixou triste. não que as pessoas precisem concordar comigo para eu me sentir satisfeita, mas percebi uma certa rejeição injustificada. pessoas dizendo que o autor tentou copiar (miseravelmente) O pequeno príncipe, outras dizendo ser confuso e repetitivo e ainda dizendo que traz discussões rasas e óbvias!
bem, darei minha opinião agora.
sim, claramente o livro faz referência ao clássico aclamadíssimo (e com toda a razão) O pequeno príncipe, de Antoine Exúpery, e uso a palavra "referência", não cópia. Sou apaixonada pelo clássico e gostei muito da forma como gabriel chalita usou de alguns elementos estruturais da mesma em seu livro ? o menino-anjo e o homem mais velho, a linguagem verbal e não-verbal repleta de metáforas, analogias e reflexões, e por aí vai...
sobre o livro especificamente, posso dizer que fiquei encantada. ele brinca com sentimentos e ações tanto ruins quanto boas e tão humanas de forma muito bonita. gostei demasiadamente do recurso das "estações" para expressar de forma artística comportamentos humanos. as discussões criadas muito me agradaram também. ah, e me emocionei em certas partes do livro; em especial no final: fiquei feliz por ver uma melhora na forma do protagonista de pensar e agir, por ele ter entendido as mensagens que o menino queria passar.
finalizarei, então, com algumas citações da obra:
"haverá um dia em que os interesses serão maiores pela essência do que pela aparência! Um dia em que os nossos sentimentos poderão ser convidados a conviver, sem disfarces, com os nossos outros convidados. Como eu gostaria de acreditar que haverá um dia em que a palavra essencial será o respeito! Isso mesmo, o respeito. O outro não será apenas uma necessidade transitória. O outro não será descartável. Nada de redomas, menino!"
"E, com muita limpeza e organização, descartavam as que vinham com algum defeito. E os adultos faziam isso, várias vezes. Eu entendi que era algo semelhante à escolha de um sorvete, em que se provam vários sabores até se encontrar o adequado. Olhei para o menino, que não movimentava nenhum músculo da face. Quis dizer do meu descontentamento, mas tive receio de ir contra o que todo mundo estava fazendo.
? É sempre assim?
? O quê?
? É difícil ir contra o que aparentemente é consenso?
Com certeza."
"Que estranho! Eu queria água para limpar toda aquela lama. Mas a água era lama. E lama não lim- pa lama. Sem perceber, eu comecei a me cheirar. Não tinha cheiro de nada. Os meus pés deviam estar cheios de lama também, mas não estavam. Era como se nada daquilo nos atingisse. Ou não. Eu não sei.
? Eles eram feitos de lama ou estavam sujos?
? Que diferença faz?
? Toda diferença. Se eles foram feitos de lama, não há o que fazer. Se estiverem sujos, basta limpá-los.
? É difícil saber a origem. Viemos de onde? Fomos feitos por quê? Para quê? O que é nosso de verdade e o que nos foi grudado? Se não foram feitos de lama, a lama se tornou tão natural que talvez seja muito difícil perceberem a própria lama. É isso o que veem, é isso o que sentem. Se não foram feitos de lama, acostumaram-se com ela."
"? Por que os adultos não ensinam o que é correto?
? Talvez porque não saibam o que é correto."
"O essencial está nas mãos que conseguimos enlaçar, nos abraços que conseguimos dar. Toda a beleza da música irá se esvair enquanto não conseguirmos compreender o amor em que nascemos e o amor que haveremos de crescer. Se não enfrentarmos a nossa solidão, a música será incapaz de nos levar à tenda preparada cuidadosamente para o que virá depois. Sozinhos, não haverá depois!"