Zuckerman acorrentado

Zuckerman acorrentado Philip Roth




Resenhas - Zuckerman Acorrentado


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Anica 11/10/2011

Zuckerman Acorrentado (Philip Roth)
O escritor norte-americano Philip Roth é dito por muitas pessoas como um dos melhores de seu país atualmente – já ganhou prêmios como o Man Booker e o Pulitzer para reforçar essa ideia. Por conta de suas origens, um tema constante em sua obra é a questão da identidade dos judeus nos Estados Unidos, o que pode ser visto em muitas de suas obras, como por exemplo Nêmesis, que ganhou tradução recentemente pela Companhia das Letras. No mesmo mês foi lançado também pela série listrada a coletânea Zuckerman Acorrentado, que conta com três romances e uma novela envolvendo a personagem Nathan Zuckerman, considerado o alter ego do escritor.

Nesta coletânea, talvez até por termos Zuckerman em cena a questão da identidade do judeu abre espaço para uma combinação entre essa mais a questão da identidade do escritor. O quanto da vida de alguém que vive da escrita está refletido em suas obras, de como por pertencer a um determinado grupo social o autor acaba carregando consigo uma espécie de obrigação em falar de seu povo, e mais – falar bem. São essas as questões que tomam conta de Zuckerman Acorrentado, alinhavando os três romances e o que é considerado seu epílogo.No primeiro romance, O Escritor Fantasma, Zuckerman aparece como um jovem talento indo visitar um escritor que admira, Lonoff. Ele tem um tom mais melancólico do que os outros textos da coletânea, parece de alguma forma mostrar para Zuckerman que Lonoff faz as vezes de oráculo, mostrando-lhe seu futuro como escritor. Lonoff em dado momento diz “Se sua vida se resumir em ler, escrever e olhar a neve, vai acabar como eu. Trinta anos de ficção”. É até irônico avançar na leitura do livro e ao chegar no terceiro romance, Lição de Anatomia, ver um Zuckerman mais velho se queixando exatamente disso.

O segundo romance, Zuckerman Libertado vai além na discussão sobre o que é ser escritor, trazendo para a história o peso da vida pessoal de quem escreve, especialmente se esse em algum momento torna-se um sucesso, como é o caso de Zuckerman, que aparece aqui como um escritor já consagrado após a publicação do romance Carnovsky, de natureza bastante polêmica. Tal como um Prometeu, ele deu vida a suas personagens e acabou sendo condenado e punido por isso, tendo que conviver com o fato de ser sempre “o cara do Carnovsky“, além da família e outros judeus que o acusam de apresentar uma imagem negativa de seu próprio povo. Algumas pessoas fazem a relação de Carnovsky com O Complexo de Portnoy, no caso Zuckerman Acorrentado seria uma forma do autor despejar alguns anos desse peso acumulado.

Dá para notar uma diferença gritante no tom do primeiro para o segundo romance, que apesar de ácido ainda assim parece ser mais leve e até mesmo engraçado. Em parte isso pode se dar pela mudança no foco narrativo, que sai do confessional foco em primeira pessoa para um pouco mais distante foco em terceira pessoa, o que permite um olhar mais sarcástico e menos sentimental para os eventos narrados.

O terceiro romance é provavelmente o mais engraçado da coletânea, sendo o humor do texto diretamente proporcional ao azedume de Zuckerman, agora mais velho e sofrendo de fortes dores no corpo, mal conseguindo escrever. Dá para ter uma ideia desse tom geral do romance com a abertura do segundo capítulo: “Zuckerman perdera seu tema. A saúde, os cabelos, e o tema”. Como se o rompimento com suas raízes (causado pela morte dos pais e o distanciamento do irmão) fosse de certa forma responsável pela crise que está passando. Zuckerman não quer mais escrever. Vê em um crítico, Milton Appel, uma espécie de inimigo e fica completamente obcecado por ele – pelo menos por uma forma de prejudicá-lo, como uma forma de revidar a provocação de Appel.

E no meio disso novamente a questão sobre aqueles que escolheram (ou melhor, tem) a literatura como profissão, como na conversa com Diana, na qual a moça consegue apontar exatamente quais eram os problemas de Zuckerman (não conseguir superar o romance Carnovsky e o efeito dele em sua vida, a relação com o pai, etc.), e em dado momento eles trocam as seguintes palavras:

Diana: (…) Só quer saber de ficar aí deitado com esses seus óculos prismáticos, fazendo castelos no ar, sonhando com a ideia de virar médico e ter um consultório com um retrato de uma mulher de médico em cima da mesa e poder voltar DO trabalho PARA casa e sair PASSEAR e ser você o sujeito que se levanta da poltrona do avião quando a aeromoça pergunta se tem algum médico a bordo.

Zuckerman: E por que não? Qando um passageiro desmaia em um avião, elas nunca perguntam se tem um escritor a bordo.

O epílogo é a novela A orgia de Praga, o texto mais fraco da coletânea, mas ainda assim necessário para fechar o ciclo. Voltamos à narrativa em primeira pessoa, com anotações de Zuckerman sobre sua viagem para Praga comunista, buscando os contos de um autor para publicá-los nos Estados Unidos. Há um retorno também para o tom melancólico, ao menos no desfecho – até porque boa parte da novela é recheada de situações um tanto inusitadas. De qualquer modo, após a leitura de romances tão bons acredito ser natural que um texto mais curto acabe parecendo “não tão bom”.

Assim, considerando o tema principal que aparece no livro, para os que gostam de escrever, ou ainda, para os que amam literatura, Zuckerman Acorrentado é um presente. É gostoso de ler e se deixar levar pelos pensamentos do protagonista, mas melhor ainda é refletir a condição daqueles que escrevem, ver “o outro lado”, de como pesa para o escritor ser finalmente reconhecido mas ser lembrado apenas por uma obra ou ter a vida pessoal confundida com a de seus personagens, por exemplo. No final das contas foi a primeira vez que li Philip Roth, e fiquei com vontade de ler mais.
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jota 23/04/2017

Overdose de NZ...
Zuckerman Acorrentado é bastante volumoso: compreende cerca de 550 páginas e abriga três romances e uma novela protagonizados pelo alter ego de Philip Roth, Nathan Zuckerman, em diferentes fases de sua vida. São textos escritos entre 1979 e 1984.

Vamos encontrar NZ como um jovem autor em O Escritor Fantasma, também publicado no Brasil como Diário de Uma Ilusão. Ele tem trinta e tantos anos em Zuckerman Libertado e aparece já quarentão em Lição de Anatomia (apresentando dores pelo corpo todo) e numa viagem à então Tchecoslováquia (anos 1970), contada na novela A Orgia de Praga. Como pensava em ler apenas duas histórias, a primeira e a terceira, já fiz comentários sobre elas aqui mesmo no Skoob, é só procurar se interessar.

Sobre Zuckerman Libertado: quem conhece um pouco da história de Roth vai logo verificar que NZ passa pelos mesmos problemas que o autor passou com o enorme sucesso de O Complexo de Portnoy, livro que na ficção de NZ se chama Carnovsky. NZ transforma-se numa celebridade; está rico e famoso mas quase sempre só, não consegue se relacionar bem com as mulheres etc.

Ele entra em crise com o crescente assédio e exposição na mídia, sofre a perseguição de um fã que também quer se tornar escritor, sente o desgosto de sua família e o desprezo de parte da comunidade judaica pelas coisas que publicou etc. Várias pessoas próximas dele acreditam até mesmo que seu pai ficou doente por conta daquele livro; algumas situações narradas em Zuckerman Libertado também ocorreram com Roth.

Finalmente, na novela que fecha o volume, A Orgia de Praga, Nathan Zuckerman viaja à capital da Tchecoslováquia para recuperar alguns contos em posse da ex esposa de um amigo tcheco exilado nos EUA e que foram escritos pelo pai dele. O filho diz que são verdadeiras obras-primas e NZ vai tentar resgatá-los. Mas ele acaba envolvido numa aventura ao mesmo tempo sexual e política contada com muita comicidade. Pois Olga (a ex esposa do amigo) é não apenas ninfomaníaca e escandalosa também doida de pedra.

Nas quatro histórias de Zuckerman Acorrentado temos Roth falando, como sempre, da comunidade judaica americana, de família, mulheres, sexo, envelhecimento, doenças, história moderna, artes, literatura etc. Não adiantaria enumerar as qualidades de seus livros: o melhor a fazer é lê-los (ou relê-los, já que parou de escrever ficção há alguns anos). Sua literatura encerra o mesmo valor atribuído às obras de grandes autores americanos, como John dos Passos, William Faulkner ou Saul Bellow, entre outros. Isso não é pouco, de modo algum.

Lido entre 05/01 e 22/04/2017. Minha avaliação: 4,5.
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luizguilherme.puga 09/09/2021

Coletânea reunindo 4 excelentes obras de Philip Roth, contando momentos diferentes da vida de seu alterego Nathan Zukerman. Como sempre o autor tem uma língua mordaz para colocar os problemas da comunidade judaica, e como ele mesmo conviveu com a publicação dos seus livros e toda a critica que os Judeus americanos fizeram a ele.
No primeiro romance ele narra a admiração de um escritor por um outro, trazendo a tona ai da a discussão sobre uma grande personalidade judaica. Discussão sobre sucesso e clausura dão a tona da obra; O segundo ele narra toda a tensão causada em sua família após a publicação de sua grande obra, sua relação com o irmão e o falecimento do seu pai. O terceiro o próprio escritor Zuckerman, aparece atordoado por uma dor incrível no pescoço, juntamente com o falecimento da sua mãe, suas peripécias sexuais e todos os fantasmas do seu passado recente. Por fim o ultimo livro se passa em Praga com o escritor atrás de uns manuscritos escritos por judeu na época da segunda guerra. Experiência sensacional. Recomendo.
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Biblioteca Álvaro Guerra 24/07/2019

O volume reúne os três romances e a novela que serve de epílogo à trilogia em que Roth dá vida a uma de suas criações mais geniais: o escritor Nathan Zuckerman. Com uma arquitetura intricada e narrativas bastante diversas, essas obras formam uma investigação totalmente nova e altamente cômica sobre as consequências imprevistas da arte.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. De graça!


site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788535919233
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