spoiler visualizarlulis 05/04/2024
E quando a vida perde sentido?
Atenção: a obra resenhada aborda questões sobre depressão.
O livro “A Redoma de Vidro” (1963) é o único romance escrito por Sylvia Plath, autora norte-americana reconhecida pela sua vasta produção literária de poemas, contos e crônicas. A obra é frequentemente identificada como semiautobiográfica, ou seja, tanto o enredo quanto as personagens possuem conexões com relatos íntimos da história Sylvia lidando com a depressão.
O livro conta a história da jovem Esther Greenwood, uma estudante de jornalismo que consegue um estágio de prestígio em uma revista de moda, em Nova York. Ao chegar à metrópole americana, a protagonista se surpreende pela dificuldade que tem em tentar compreender as novas informações da cidade e do trabalho, assim como conviver com pessoas diferentes.
Porém, o que mais preocupa e causa anseios a Esther é o início da vida adulta, que traz à tona a maior responsabilidade de suas ações e, consequentemente, do controle de seu novo cotidiano. O que era para ser uma grande oportunidade na carreira da personagem, acaba lhe trazendo frustrações que alimentam suas primeiras crises.
“A Redoma de Vidro” tem como foco as interfaces de Esther: a descoberta de uma depressão profunda e a desconstrução de seus pensamentos, que partem com boas expectativas do futuro mas passam a se tornar visões pessimistas e depressivas.
A protagonista passa por um processo de desconstrução: de uma vida ideal universitária e estagiária com grande potencial, volta às suas questões mais íntimas como a chegada da vida adulta, sua sexualidade e as pressões de ser mulher em uma sociedade machista.
O interessante da obra é demonstrar que, desde o início da história, Esther já é uma mulher transformada pelas suas crises e pelas pressões da sociedade, mas, ao longo do livro, as suas angústias ganham mais destaque ao relembrar vivências decisivas nessa transformação.
A protagonista não é perfeita, está muito longe de ser. Esther tem seus preconceitos provindos da sociedade americana dos anos 1960, principalmente pelo ciclo social em sua volta. Sua família e seus vizinhos estão constantemente preocupados com o arranjo de um par ideal para ela, tanto para o casamento quanto para a criação de filhos.
Então, por mais que seja revoltante ler alguns pensamentos da personagem que são completamente distantes de 2024, é importante ressaltar que o contexto histórico da obra e as influências dessa época moldaram Esther.
No entanto, ao invés de se apegar aos paradigmas de uma sociedade de 60 anos atrás, veja a personagem como a representação da autora que passou por um processo muito difícil: desde os sintomas da depressão até o internato em dois hospitais psiquiátricos e o tratamento de choque.
Reforço: essa leitura não é para qualquer pessoa, principalmente aquelas que estão vivendo momentos complicados ou são diagnosticadas com depressão. Em várias partes do livro a personagem/autora descreve explicitamente pensamentos depressivos, pessimistas e até suicidas.
Mas, não podemos ignorar essa pauta. De acordo com dados do último mapeamento sobre a doença realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 5,8% da população brasileira sofre de depressão, o equivalente a 11,7 milhões de brasileiros.
Mesmo que a obra tenha sido escrita há muitos anos, sua história é atual.