Ana Costa 09/12/2013
"Eu respirei fundo e ouvi a velha pancada do meu coração. Eu sou, eu sou, eu sou."
O romance semi-autobiográfico da poetisa Sylvia Plath me marcou como ferro em brasa. Curiosamente, este fim de ano comecei a ler alguns livros mais densos, e algo dentro de mim implorava para finalmente lê-lo.
Eu já conheço o trabalho, a vida e a história de Sylvia há algum tempo, então sabia onde estava me metendo. O que eu não sabia era que meu passado cairia em cima de mim como o teto de uma casa, desabando enquanto eu lia A Redoma de Vidro.
Algumas semelhanças do romance com a minha própria vida são enlouquecedoras; em várias páginas eu quase me imaginava como a protagonista Esther Greenwood, uma jovem que lenta e imperceptivelmente, entra em depressão e enlouquece.
Esther, que estava vivendo dias de intensas experiências ao ganhar um trabalho na redação de uma conceituada revista em Nova York, enfrenta uma enorme decepção quando seu maior sonho se despedaça diante de seus olhos. Sem notar, a decepção vai se transformando em apatia e resignação, e a personagem se vê internada em um manicômio após tentar se matar. Os dias passam e ela não consegue dormir, nem comer, nem tem ânimo para trocar de roupa ou pentear os cabelos. Ela forja meios para cometer suicídio nas cenas mais cotidianas, e se vê fazendo tratamentos de eletrochoque para tentar se curar do que, nas décadas de 50 e 60, era considerado loucura e não doença.
"Eu engatinhei de volta para a cama e puxei o lençol sobre minha cabeça. Mas mesmo isso não bloqueou a luz, então eu enterrei minha cabeça sob a escuridão do travesseiro e fingi que era noite. Eu não via o porque de me levantar. Eu não tinha nenhuma expectativa."
A autora, Sylvia Plath, que teve um duro convívio com a depressão, fala com uma propriedade escandalosa sobre o dia a dia de sua personagem enfrentando seus demônios. Ela se suicidou aos 30 anos, pouco depois do lançamento de sua única prosa, que considerava apenas mediana. O livro se tornou símbolo do movimento feminista, graças aos constantes questionamentos de Esther sobre a função da mulher na sociedade, em temas como a perda da virgindade, casamento e sua escolha de não ter filhos.
Eu não considero A Redoma de Vidro um livro para entreter. Assim como "Walden", de Thoreau, é um livro para ser lido em um momento em que se busca por auto-conhecimento. Qualquer pessoa, independente de gênero, que tenha tido um contato mesmo que superficial com a depressão, vai se identificar profundamente.
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