joaoggur 05/06/2023
Dedos em feridas cálidas.
?Para a pessoa dentro da redoma de vidro, vazia e imóvel como um bebê morto, o mundo inteiro é um sonho ruim.?
Sylvia Plath tem um renome estranho. Sua fama não se dá por sua poesia ou por seu único romance; e sim pelo fato de aos trinta anos ter enfiado sua cabeça em um fogão. É uma pena. Reduzir uma incrível escritora a seu suicidio é lamentável. Depois de anos postergando, finalmente li A Redoma de Vidro.
A história narra Esther, uma garota do interior que ao ganhar uma bolsa de estudos, parte para a sonhada Nova York para na cidade tentar a vida de escritora. Creio que o ponto alto da obra não é a história em si, mas sim a abordagem da escritora. Sua técnica mistura um certo fluxo de consciência com inúmeros flashbacks, mesclados em uma mente nostálgica e melancólica da protagonista.
E, para os leigos, a história de Esther mistura-se com a vida de Sylvia Plath, e vice-versa. Imagino que este romance seja muito mais que uma história banal; os toques autobiográficos, a pessoalidade da obra em relação a autora é ímpar. Em contrapartida da genialidade, vemos como essa história foi um pedido de socorro. A protagonista está sempre em momentos melancólicos, no limite de um precipício, gritando e pedindo ajudas em pequenos gestos. Nesses momentos, quando Esther clama por ajuda, é impossível não ver a autora ali. A autora tem uma habilidade, típica de poetisa, de ser capaz de tocar nas feridas do leitor; todos que já passaram por situações como a dela, se identificam e se emocionam.
A Redoma de Vidro é um livro pesado, mas muito bem escrito. Posso dizer que é meu estilo favorito literário: aquele tipo de romance que é muito mais profundo, muito mais denso do que parece ser. É uma leitura de muitas camadas, e extremamente triste. Vale a pena conferir.