Tuts 21/03/202424\7 Sylvia PlathO belíssimo livro de Sylvia Plath é sobre a Esther, uma jovem mulher que aparentemente vive uma vida normal, indo para um novo emprego numa revista de moda, mas o conflito da trama ocorre quando a personagem começa a desenvolver uma forte depressão, e o livro se centra nisso e como a personagem lida com esses sentimentos.
Com uma escrita que beira o impecável, Plath traduz os próprios sentimentos e se projeta na Esther, uma vez que o livro foi publicado semanas antes da autora cometer suicídio. Utilizando uma narrativa que centra nos pensamentos e impressões da protagonista, a autora consegue trazer de maneira intimista os anseios de Esther, sob diferentes perspectivas, utilizando-se de um lirismo impecável.
Um exemplo que considero emblemático é quando Esther resolve ir na praia, e pensa, ao observar o mar, o seguinte :
"A umidade parecia se desprender do próprio fundo do mar, onde peixes brancos e cegos atravessavam o frio polar se guiando pela própria luz. Vi dentes de tubarões e ossos de baleia espalhados lá embaixo como sepulturas."
O trecho é fenomenal, pois consagra a mentalidade mórbida da protagonista diante de sua depressão, que a autora já havia desenvolvido anteriormente, como o fato dela não ver mais sentido em nada, se sentir cansada o tempo inteiro e sem vontade de viver. Traduz também sua própria personalidade de escritora, poetisa e preocupação em não poder mais escrever.
Do meio pro final do livro, a melancolia é gritante como luz solar. O ápice disso se revela nas próximas passagens :
"Se a Sra Guinea tivesse me dado uma passagem para a Europa, ou uma volta ao mundo de cruzeiro, não teria feito diferença nenhuma, porque, onde quer que eu estivesse - no convés de um navio, num café em Paris ou em Bangcoc - eu sempre estaria dentro da mesma redoma de vidro, marinando no ar parado do meu hálito."
E numa cena, ela retrata isso num diálogo da protagonista com a mãe :
"Naquela tarde minha mãe tinha me levado as rosas.
-Guarda as rosas pro meu enterro - eu dissera.
O rosto da minha mãe se contraiu, e ela pareceu estar prestes a chorar.
-Mas, Esther, você não lembra que dia é hoje?
-Não.
Pensei em dizer Dia de São Valentim.
-É o seu aniversário"
E, quase como uma conclusão antecipada do romance, Plath nos impressiona com mais um soco no estômago :
"Vamos agir como se tudo isso tivesse sido um sonho ruim. Um sonho ruim. Para a pessoa que vive dentro da redoma de vidro, vazia e inerte como um bebê morto, o próprio mundo é um sonho ruim."
Em resumo, A Redoma de Vidro é uma livro excepcional, que aborda com uma visão poética e melancólica( e um pouco melodramática, também), a vida e os amálgamas de uma personagem que já não vê mais felicidade, nem esperança, em sua vida. Não poderia deixar de citar minha cantora favorita, Lana Del Rey, que tem Plath como uma de suas referências, já tendo explicitamente citado em sua música "hope is a dangerous thing for a woman like me to have - but i have it", uma música que tudo tem a ver com a atmosfera dessa obra :
I've been tearing around in my fucking nightgown
24/7 Sylvia Plath
Writing in blood on the walls
'Cause the ink in my pen don't work in my notepad
Don't ask if I'm happy, you know that I'm not
But, at best, I can say I'm not sad
'Cause hope is a dangerous thing for a woman like me to have
Hope is a dangerous thing for a woman like me to have
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