Phelipe Guilherme Maciel 05/11/2018Um relato jornalístico feito para a revista Life que virou livroHemingway era um apaixonado pelas touradas e pela Espanha. Nos anos finais de sua vida, após o grande sucesso de O Velho e o Mar, que lhe rendeu Pulitzer e Nobel de literatura, foi convidado pela revista Life para escrever um grande artigo sobre a temporada de tourada daquele ano na Espanha.
O relato tornou-se um livro, tamanha a devoção de Hemingway pela tourada e pela Espanha.
O livro é escrito em forma de um relato personalíssimo, como se a pessoa estivesse conversando com você enquanto mostra fotos de sua viagem. É uma leitura leve e envolvente.
Hemingway trás todo o universo da tourada e pela sua ótica, toda a beleza do esporte. O matador, quase um Deus, e o touro, uma outra divindade. Nesse embate divino, somente um sairá de pé.
Eu não sou vegano, nem defensor da causa animal, não sou ativista em nenhum sentido, mas acho os maus tratos a animais indefensável. Principalmente para divertir os outros. Rinhas de galos, touradas, caça esportiva, etc, são esportes que não me atraem.
Os relatos de Hemingway geralmente me deixavam com uma cara de asco, as artimanhas que usam para deixar o touro mais manso, para retirar sua defesa natural que são seus chifres, além de doparem touros mais bravos, tudo para facilitar a vida do toureiro, me deram ânsias de vômito.
Hemingway não esqueceu nada. Desde os complexos dos toureiros, seus medos, suas crueldades, ao negócio que envolve a tourada, os agenciadores, os negociadores, os apostadores, os criadores dos touros, etc, até as artimanhas que o público nas arquibancadas ignoram. Está tudo ali descrito.
É um livro agridoce, você percebe nas fotos uma felicidade de Hemingway estar ali na espanha, com amigos queridos, sua esposa, ambientes agradáveis, mas ao mesmo tempo o relato soa triste. Ele estava desconsolado com a vida, e desgostoso de ver que até mesmo a tourada havia perdido os seus tempos de ouro, assim como ele próprio, que se via no ocaso da vida, da criatividade, da virilidade. Antes mesmo do livro "O Verão Perigoso" sair em livro, Hemingway se suicidou com um tiro de espingarda de caça.
É um livro não indispensável, mas altamente recomendável para quem deseja entender um pouco do cruel esporte da Tauromaquia, e da alma do escritor, que foi sutilmente despida nas páginas do livro.