spoiler visualizarcaio.lobo. 21/02/2021
Afinal, era um jovem comum, egoísta, covarde, medíocre...
A escrita de Aluísio Azevedo não me encanta, a maior parte é uma escrita comum, nada de singular. Casa de Pensão não chega a ser grotesco como O Cortiço, não há aquele exagero de imundícia, porém Aluísio Azevedo sempre foca e exagera na cenad de sujeira, objetos quebrados e decadentes, escândalos, casas em ruínas. Há muitas descrições de cenas de belos espaços, grandes pianos, o jardim botânico que poderiam ser melhor "pintadas", mas Aluísio Azevedo passa batido muitas vezes. Dou um desconto por ter vivido no início da decadência do Rio de Janeiro, com o surgimento de feios cortiços e degradação da paisagem; como eu morei em São Paulo sei bem como é olhar ao redor e só ver cinza, sujeira e pichação, mas às vezes há ainda uma bela casa, belo jardim, uma árvore frondosa e eu aue não sou escritor consigo observar e descrever essas belezas sutis, por que Aluísio Azevedo que é escritor não deu um contraste nas cenas grotescas que ao mesmo tempo embelezam o todo da obra e deixa mais drástico o que é feio e decadente?
Sobre o enredo só quero salientar três pontos:
1) Amâncio sendo acusado de estupro, sendo que era inocente. Às vezes esquecemos que isso não ocorre só nos tempos atuais, onde uma pessoa acusa outra de um crime hediondo, que sensibiliza a opinião pública, somente para degradar a reputação de uma pessoa ou obter uma vantagem. Esses falsos crimes atrapalham muito as verdadeiras vítimas de estupro, sem falar que pode destruir toda a vida de uma pessoa inocente. Então cuidado com noticiários que tendem a ser parciais, pois nem tudo é o que parece ser, algumas vezes a vítima não é vítima e o inocente não é inocente.
2) Os ricos, no Brasil ao menos, que poderiam ser uma classe mais culta são muitas vezes ignorantes como as massas. O livro demonstra isso pela falta de gosto, requinte e conhecimento de seus personagen afortunados e isso não é novidade para mim, Aluísio Azevedo captou bem essa realidade, pois a elite brasileira é estúpida e ignorante como o povo em geral. O máximo que vejo de inteligência nos ricos e classe média alta é um conhecimento apenas técnico ou de nicho, não vão além disso e nem passam perto da erudição. O que temos de erudição no Brasil são algumas ilhas isoladas que não dependem de classe.
3) O enredo da Casa de Pensão é como ouvir as histórias medíocres de famílias de qualquer classe brasileira que se preocupam com coisas fúteis e mesquinhas, e pior, brigam por causas dessas inutilidades. Sabe as pessoas que discutem por causa de futebol, que somente falam de si próprias, que acham importante falar das atividades cotidianas que não tem nada de mais e que brigam com familiares por causa de misérias? Esses são os personagens de Casa de Pensão. Com personagens tão comuns na sua humanidade, Casa de Pensão daria uma boa comédia se fosse escrita pir Shakespeare.
A única figura redentora da obra é a mãe de Amâncio, que apesar de um pouco de culpa em todo o processo humano, é a única que tem um sentimento genuíno por apenas um personagem, seu filho. No fim só a morte salva Amâncio de ser totalmente mesquinho e inútil.