Sonic Judeu 05/04/2024
Bois com inteligência.
S. Bernado é mais um livro intrigante de Gracilianos Ramos. Onde conhecemos a história, ou melhor a tragédia de Paulo Honório. Crescendo sem ter realmente familiares, e vivendo pelo mundo rural, e trabalhando e buscando melhores condições de vida com seus serviço, aos poucos ele passa de um mero trabalhador para um grande empreendedor. E dono de um dos lugares onde eles mais venera. Sr. Bernado. Apartir da sua aquisição é onde nossa narrativa começa a tomar forma com uma maestria, e objetiva. Vemos o sujeito de Paulo Honório, que é um tremendo de um egoísta. Vemos como esse tempo todo vivendo sendo uma pessoa bruta, torna o tipo de sujeito ignorante que ele é. Suas escolhas que só visam o seu lucro, e pouco se lixando para os outros, desde que ele saia por cima. E é nisso que ele se perde, e também perde tudo
Ao ler, me lembrei muito de obras como, os filme Scarface, O homem do ano, e a série Breaking Bad. Personagens que vieram de um nada, e aos poucos conseguiram ascendir, seja com riquezas, ou progesso na vida, conseguindo tudo o que eles sempres quiseram. Mas no fim, deixaram o ego tomar mais conta do que a razão, e o que era certo e eles começam a ficar tão cego, que não enxegam o precipício.
Até cairem.
Paulo Honório é um sujeito que toma posse de tudo o que ele gosta, sempre foi assim, ele queria e então ele fez de tudo pra tomar. E é então que ele começa até mesmo a querer ter posse das pessoas. Nesse momento onde entra Madalena. Apesar de eles se casarem de repente, Madalena era uma boa pessoa, repreendia o Paulo Honório quando ele fazia mal a alguém. Tentavam lhe mostrar os erros dele, e fazia de tudo pra ter o máximo de respeito com seu marido, até o seu fim. Que de tanto o marido a importunar, querer ter posse sobre ela, como se ela fosse apenas uma propriedade, e não um ser humano, como ele também tratava mal seus funcionários, ela não mais suporta. Poe um fim em tudo.
"Madalena entrou aqui cheio de bons sentimentos e bons propósitos. Os sentimentos e os propósitos esbarraram com a minha brutalidade e o meu egoísmo." pag. 221
E é apenas ai, cheio de melancolia, saudades, e remorso onde Paulo reconhece que errou, se vê no espelho até mesmo como monstro, olha suas maos calejadas e tem medo do que vê, pois percebe todo mal que causou a sua volta.
"Foi este modo de vida que me inutilizou. Sou um aleijado. Devo ter um coração miúdo, lacunas no cérebro, nervos diferentes dos nervos dos outros homens. E um nariz enorme, uma boca enorme, dedos enormes.
Se Madalena me via assim, com certeza me achava extraordinariamente feio."
O que é o fim, também é o início do livro, onde o que apenas resta a Paulo Honório, é reescrever suas memórias sobre tudo o que passou nesses anos, numa tentativa e pois se sente atraído, e escrever todos seus pecados nesse livro, para que talvez, possar aliviar a dor, e também tomar consciência, de quem ele realmente é.
"O que estou é velho. Cinquenta anos pelo S. Pedro. Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado é que endureci, calejei, e não é um arranhão que penetra esta casca espessa e vem ferir cá dentro a sensibilidade embotada." pag 216
É uma obra que dói, como todas do Graciliano Ramos pois toca na ferida, mostra o ser humano como ele é. Seus livros mostram partes dos Brasileiros e do ser humano, muitas vezes não são mostrada, e põe toda essa angústia na sua escrita para ser lido.
O que eu tiro desse livro, é que temos que ter empatia com o próximo, aprender a amar de verdade, confiar e ter consciência que nossas ações podem sim afetar os outros, ver que o nosso ego nao é tão importante e existem coisas melhores na vida do que apenas dinheiro ou propriedade, que é o carinho, algo que vem se tornando raro. e escasso. por tanto não deixe ele se esvair de você e não deixe se ele se esvair de alguém quem você ame. Cultive isso. E talvez ai, você realmente tenha felicidade, uma além do seu egoísmo.
"Já viram como perdemos tempo em padecimentos inúteis? Não era melhor que fôssemos como os bois? Bois com inteligência" pag 176
Obrigado, Graciliano Ramos, por essa experiência.