Rute.Lessa 31/03/2024
Luxúria (+18)
Esse livro foi lido em versão e-book de maneira clandestina. Guardado há muito tempo entre os meus arquivos, resolvi criar coragem para ler.
"A Casa dos Budas Ditosos", de João Ubaldo Ribeiro, publicado em 1999 como parte da série "Plenos Pecados" da editora Objetiva, é uma obra que trata do tema da luxúria. O mistério em torno dessa obra reside no fato de que, segundo o autor (e eu tive que dar uma pesquisada sobre), ele recebeu uma série de pacotes contendo fitas e depoimentos de uma senhora, o que levanta questionamentos sobre a veracidade dessas alegações.
"O título que eu ia botar era "Memória de uma libertina", mas não vou mais botar, é bom gosto demais para esse povo que nunca leu Choderlos de Laclos, não vou desperdiçar, jogar pérolas aos porcos. Em Fulânea, Citrânia e Beutrânia não se pode ser realmente fino, com o título fino desses ponto, tem que ser pseudofino como eles, pronto, a casa dos budas ditosos, satisfaz, satisfaz, é mais tranquilo, me garante contra indicações geradas pela burrice e pela ignorância. Claro que no fundo odeio esse título de bom gosto ao qual acabo de ceder, mas cedo, de resto vão todos pastar, em verdade vos digo."
O autor mergulha nas memórias sexuais de uma mulher de 70 anos, desafiando as normas convencionais de idade e sexualidade. O relato, aparentemente baseado em um depoimento real recebido pelo autor, apresenta uma narrativa crua e autêntica, mantendo os problemas de linguagem da protagonista para preservar sua personalidade, o que achei bem interessante, porque a nossa protagonista é estudada, classe média, viajada e conhecedora de muitas línguas e outras partes sexuais.
A protagonista, de origem alemã, expõe suas experiências sexuais desde a juventude até a terceira idade, incluindo relações controversas como incesto e até mesmo zoofilia. Suas reflexões sobre igualdade sexual das mulheres e a hipocrisia da sociedade oferecem um vislumbre da mentalidade de épocas passadas, desafiando as noções morais e éticas do leitor. Tanto que quando se lê há um incômodo tamanho, porque, ao mesmo tempo que incomoda, excita e é muito estranho. Quero acreditar que imergi como a protagonista sendo levada na narrativa e me adequando à época sem trazer para a contemporaneidade de hoje.
O narrador provoca o leitor ao explorar os limites da sociedade por meio da protagonista e suas experiências sexuais fora do comum. A obra confronta tabus e preconceitos, convidando o leitor a refletir sobre suas próprias convicções e preconceitos em relação à sexualidade.
Uma leitura provocativa e audaciosa, que mergulha nas complexidades da sexualidade humana e desafia as convenções sociais. Com uma narrativa franca e personagens marcantes, um tanto narcisista também. Mas como leitora de Bukowski, esse escreveu bem, narrou, descreveu, excitou.
Vale a pena.