Checha 29/12/2010
Sexo, uma necessidade visceral.
Diz a lenda que após receber a encomenda de um livro sobre luxúria para a coleção Pecados Capitais, João Ubaldo Ribeiro recebeu em seu prédio um envelope com os manuscritos anônimos, que ele viria a editar e publicar.
Não dá pra saber se isso é realmente verdade ou não, e boa parte da graça em ler o livro está nisso. De fato, a linguagem não é muito familiar ao estilo do autor. Mas a narrativa é muito bem construída, e a narradora consegue prender muito bem a atenção.
Aliás, a história é a de uma senhora de quase 70 anos, em seus dias atuais portadora de um aneurisma, que conta as várias experiências sexuais que teve, desde criança. Percebe-se que é uma pessoa rica, de bons costumes, muitíssimo culta, principalmente pelos níveis de suas citações filosóficas e literárias.
Porém apesar desses fatos, é interessante a naturalidade e o despudor com que ela fala de suas experiências, nomeia órgãos, posições. E o quanto ela assume sem máscara alguma o seu gosto pela experimentação do sexo: incesto, orgias, menàges, diferentes tipos de pessoas, homossexualidade.
Eu particularmente me tornei muito fã desta heroína, porque vejo o sexo de uma forma como poucas pessoas vêem, sem pudor, sem amarras da sociedade. Achei brilhante as descrições das situações, e a forma totalmente não arrependida com que ela conta tudo. Aliás, nas palavras da própria, só se arrepende do que não foi feito.
Enfim, uma ótima leitura, nota 10. Leve, gostosa, tem alguns erros de português (segundo João Ubaldo Ribeiro, o texto original foi preservado ao seu máximo) totalmente perdoados pelo nível intelectual da narradora. Difícil não terminar um capítulo ou outro cheio de tesão, ou pelo menos, com a imaginação revirada. E um ótimo começo pra quem quer se livrar das amarras morais castradoras do prazer natural.
Termino esta resenha com um trecho do fim do livro, em que a narradora comenta sobre seus objetivos ao compilar sua experiência:
"Porque eu tenho a convicção de que a maior parte das mulheres e homens é como eu e pensa que não, cada um pensa que é único em suas maluquices. Não é, não, somos todos iguais. [...] Quero que as mulheres fiquem excitadas, se identifiquem comigo, queiram me comer e comer todo mundo que nunca se permitiriam saber que queriam comer, quero criar um clima de luxúria e sofreguidão".
Comigo a missão foi cumprida!!