Leite derramado

Leite derramado Chico Buarque




Resenhas - Leite derramado


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Samyle 01/10/2013

Sabe aquele livro que te conquista na primeira linha, na primeira palavra, te encanta, te toca com uma singeleza e um sentimento ímpar? Pois é.
"Mas se com a idade a gente dá para repetir certas histórias, não é por demência senil, é porque certas histórias não param de acontecer em nós até o fim da vida." Pág. 184

Eulálio de Assumpção é um senhor com mais de cem anos, filho de gente rica, de alta estirpe, ligados à política e íntimos de toda a História do Brasil, mas que agora, no quase fim da vida, está num hospital público, à base da morfina e sonhando em reconstruir sua vida lá fora, até mesmo pedindo em casamento a enfermeira que o trata.

"Estou pensando alto para que você me escute. E falo devagar, como quem escreve, para que você me transcreva sem precisar ser taquigrafa, você está aí?[...] Mas hoje a moça não está para conversas, voltou amuada, vai me aplicar a injeção. O sonífero não tem mais efeito imediato, e já sei que o caminho do sono é como um corredor cheio de pensamentos.[...] Até eu topar na porta de um pensamento oco, que me tragará para as profundezas, onde costumo sonhar em preto-e-branco."

Eulálio vai narrando toda a sua vida, sem ordem cronológica, às vezes se contradizendo, começando com algo e terminando com outra coisa que não tem nexo algum com a primeira, demonstrando perfeitamente bem uma mente confusa e desgastada com a idade.

"Vai ver que estou delirando, e de bom grado voltarei a falar somente de coisas que você já sabe. Se com a idade a gente dá para repetir casos antigos, palavra por palavra, não é por cansaço da alma, é por esmero. É para si que um velho repete sempre a mesma história, como se tirasse cópias dela, para a hipótese da história se extraviar. Pág." 96

Achei incrível o fato de haver passagens comentando (brevemente) um acontecimento histórico e que fez parte da vida das personagens, não como um livro de História, mas são meras menções com lembranças, da vida de alguém que supostamente presenciou tudo ou ouviu dos pais sendo narrado como história de família.

"As pessoas não se dão ao trabalho de escutar um velho, e é por isso que há tantos velhos por aí, o olhar perdido, numa espécie de país estrangeiro." Pág. 78

Há partes que me deram um dó tão grande.Fiquei com medo de envelhecer, confesso. É um abandono tão grande, embora ele tenha histórias incríveis, uma vida fantástica e um modo de falar tão aconchegante. Imagina se ele fosse mais um qualquer, quão pior seria? Esse é um daqueles livros que te fazem pensar sobre uma porção de coisas, são memórias registradas desse personagem que é humano, você vê seus defeitos, mas o compreende: o que passamos nos marca permanentemente. Me apaixonei por esse livro, só iria lê-lo porque gosto muito do Chico, mas ele me provou que é um ótimo escritor também.

"É uma tremenda barafunda, filha, você nem vai me dar um beijo? É desagradável ser abandonado assim, falando com o teto."
Fernanda 09/11/2013minha estante
Sam, faço minhas as suas palavras! Chico me conquistou na primeira linha também! Haha
Parabéns pelo comentário!




Marcel 03/03/2024

Decadente
O livro contra a estória de um senhor de uma família tradicional carioca em decadência, lembrando-se de seus tempos de mordomia, com seus preconceitos etc, com a qualidade de um autor vencedor do prêmio Camões.
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aquelesuin 27/11/2009

Brilhante!!
Ao terminar de ler “Leite Derramado”, o romance do genial compositor, cantor e autor Chico Buarque, posso afirmar que, mesmo não sendo, é um livro cuja leitura se faz imprescindível. Lembro que comentei tanto acerca do mesmo por aqui antes de ler e, posso dizer em bom português que realmente valeu a pena. O li em apenas três dias.

A estrutura narrativa soa extremamente original com sua ordem lógica e cronologica mesmo sendo em alguns momentos repetitivos por lapsos de memórias do ancião, como quando ele repete incontáveis vezes sobre como conheceu sua mulher. E passamos por vários fatos históricos, história da arte, marcas famosas da época e ect. e tal.

A história de Chico Buarque é mais do que uma metáfora de que não adianta chorar pelo leite derramado, é um ensaio dedicado à solidão. É o tipo de livro que nos faz pensar no modo como queremos guiar nossa vida antes que seja tarde demais. É sobre a certeza de que devemos aproveitar cada chance e que o tempo não retrocede jamais. E aí, irmão, não adianta mesmo chorar pelo leite que já derramou.
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Lara 30/03/2022

Eu gostei. Quando você passa o olho na versão física, o livro tem tudo pra desanimar a leitura: não tem parágrafos, é um monólogo de um velho metido a antigo rico de Copacabana. Mas a leitura surpreende.

Na verdade, o Chico mostra como a maestria do domínio da língua portuguesa pode fazer milagres num enredo de história. Eu cansei de me deparar com best sellers de literatura contemporânea brasileira que não chegam aos pés da escrita do Chico nesse livro (que é o primeiro que leio do compositor).

Então é isso, eu gostei do livro. Entendo quem não tenha gostado, eu mesma se tivesse lido em formato digital teria abandonado porque acharia a ausência de parágrafos algo abominável. Mas como li a versão física, só me resta recomendar para quem gosta de ler coisas bem escritas.
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Monique 11/04/2010

Surpreendente
Nunca fui fã do Chico, nem de suas músicas, nem de seus romances. Cheguei a Leite Derramado por uma indicação e me surpreendi com o que vi.

O livro é a narrativa das memórias de um velho centenário. Eulálio Montenegro D'Assumpção, nascido em 1907, vem uma linhagem antiga de figurões importantes da elite brasileira, que remonta a príncipes europeus. O pai havia sido um senador da República Velha e bastava dizer seu nome para que as portas da política carioca e brasileira se abrissem aos seus. Eulálio nasceu e cresceu em meio a isso, frequentando a alta sociedade e, mesmo que sem o brilho de Eulálio Pai, se valeu muito dos privilégios herdados da importância política familiar. Sua mãe falava francês em casa e estava acostumada a promover banquetes no palacete da família.

Entretanto, quando conhecemos Eulálio, ele já está velho, deitado num leito de hospital e se queixando de dores. O livro é narrado todo em primeira pessoa por ele, conforme conta a quem quiser ouvir os episódios de sua infância e idade adulta. Tudo é descrito como a memória de um velho delirante, que se lembra claramente dos episódios passados há mais de 80 anos, mas por vezes não reconhece nem os próprios netos. Pelo mesmo motivo, as memórias não são lineares, como se elas se atropelassem na mente do velho, que ao falar da mulher Matilde, por vezes confunde episódios reais com desejos não realizados, por exemplo de que ela voltasse para casa um dia.

As informações são apresentadas em capítulos curtos, de forma concisa, alternando presente e passado na mesma ideia, sendo que às vezes seja preciso avançar páginas e páginas até entendermos exatamente do que o narrador falava lá atrás. A memória é cheia de buracos e, conforme vamos avançando, alguns deles vão sendo preenchidos, mas outros são simplesmente substituídos por novas informações que tornam tudo ainda mais confuso. É o caso de Matilde, a esposa de Eulálio. A personagem aparece durante todo o romance, mas a verdade é que até o final as informações a respeito dela são bastante contraditórias.

Outra parte legal é rumo que toma a descendência de Eulálio. Conforme o narrador conta a saga de sua família, caminhamos pela decadência dos Assumpção, que de moradores de palacetes perdem um pouco de cada vez até chegar a um barraco de um cômodo só em uma favela carioca qualquer e ao leito de hospital público.

O livro é realmente MUITO BOM. O que tem de melhor é o estilo da narrativa guiada pela inconstância do velho e pela sua memória imperfeita e contraditória. A ironia de seu discurso também é algo muito refinado, o que me fez dar mais de um risinho ao longo da leitura. Para não falar da própria história da família em si, que deixaria a pobre mãe de Eulálio xingando em francês se tivesse vivido para ver. Foi uma leitura surpreendente, que conquista o leitor de mansinho, que é confusa demais em alguns momentos, mas cheia de subentendidos em outros.

Vale super a pena.

Texto completo: http://oaragornehlindo.blogspot.com/2010/03/review-leite-derramado-chico-buarque.html
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Bruno 11/12/2009

O velho Francisco...
Chico Buarque é um gênio em tudo que se prontifica a fazer. Leite Derramado é mais uma prova de sua qualidade como escritor, muitas vezes ofuscada pela sua própria carreira musical. O livro é belo, mas de uma beleza singular, despida de qualquer artificialidade poética. É a natureza humana exibida crua, algumas vezes sem piedade, mas com força e coragem. O "Carioca" mostra mais uma vez que não é preciso ser antigo para se tornar clássico.
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Leticia Muniz 13/07/2010minha estante
Também associei com a música O Velho Francisco! :)




adriscie 08/12/2021

Genial
Primeiro livro do Chico Buarque que li, e apesar de já admira-ló como compositor e cantor, não esperava que fosse gostar tanto do livro, então me surpreendi de uma maneira muito boa.
Foi muito interessante acompanhar o
monólogo de Eulálio, e a maneira como Chico o construiu achei genial. Nós mesmos acabamos nos perdendo nos devaneios do personagem, e me vi envolvida na sua história de vida, acompanhando a decadência de sua família, e sem conseguir separar imaginação da realidade.
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Nessa Gagliardi 19/08/2010

Se tenho idolatria por alguém, certamente é pelo Chico. A fluência da escrita dele é extasiante e sempre fui contagiada por suas palavras e suas melodias. Ao arriscar ler um romance dele pela primeira vez, estava nesse desespero louco de continuar a ser tragada por seu jogo de palavras, suas construções verbais e métricas perfeitas. O escolhido, à época, foi "Budapeste" que, infelizmente, pouco correspondeu à minha expectativa. A monstruosidade de Chico (adjetivo que o próprio abomina, mas que me vem sempre à cabeça para me referir a ele, monstro) não se revelou ali para mim.
Ao ter "Leite Derramado" em mãos para ler, encarei-o sem grandes esperanças, já conformada em permanecer fã apenas do Chico-músico-letrista, e não do Chico-romancista. Talvez esse tenha sido o grande presente do livro para mim. Ao não esperar muito, pude me deixar ser levada e arrebatada pelo brilhantismo do meu ídolo.
Com uma história simples, lembranças de um velho moribundo, Chico consegue nos deliciar com um labirinto de sub-histórias, que se confundem umas às outras e se embrenham ao emaranhado de lembranças dos Eulálios. Leitura para ser devorada em poucas horas, ou degustada por alguns anos.
Lindo, maravilhoso, delicioso, contagiante.
É Chico, né?
*Carina* 19/08/2010minha estante
Ótima resenh para um livro maravilhoso! E acho que a leitura dele se presta às duas coisas: devoramos em poucas horas e continuaremos degustando-a por alguns anos. Como o próprio Chico disse, "certas histórias não param de acontecer em nós até o fim da vida".
Beijos!




Teca 12/06/2010

Da tela branca eu brincava de escrever sobre o mundo. Às vezes me perdia no meu, quase sem graça e de tão branco chegava a doer à vista. Na mesma tela branca, tentava entender o mundo, às vezes turva, as vezes colorida, as vezes branco, como a mesma tela do começo.
Na tela de sempre me enxergava nela, mesmo quase sempre não vendo nada...
Na tela branca do dia a dia que já era passado eu me perdia, e observava escandalizada a que eu ainda não tinha visto, tocado, dito ou ate mesmo imaginado...
Na tela branca amigos apareceram e sumiram ressurgiram e morreram de vez, como se fossem uma fita VHS sendo rebobinada, só que em tempo desapropriado.
Na tela branca vi desaparecer romances e ilusões, [re] vivi frios na barriga e decepções, percebi que só escrevo e arquivo nela o que desejo, mas as vezes umas linhas desagradáveis aparecem ...
Na tela branca posso dizer quem sou, posso apagar e mentir e dizer quem não sou... Como numa mente sem memória posso jogar o tal arquivo fora...

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Texto - quase resenha - que escrevi ainda com o livro de Chico no colo. Tão simples e tão mortal.
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Rond 19/08/2009

Narrativa bem humorada. Prende atenção, apesar de seus momentos de confusões proporcionado pela idade avançada de Eulálio Assumpção.
Fique muito comovido pelo fracasso da nobre família do personagem.

"Memórias bem contadas de um delirante nobre falído..."
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Aline Maziero 24/06/2009

Impossível parar de ler. Livro denso, sem perder a leveza, pra sr lido de uma vez, sorvidm grandes goles
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Henrique Pariz Filho 13/11/2021

Leite Derramado
?? GATILHO: Violência, Racismo, Machismo

?Não adianta chorar pelo leite derramado.? - dito popular

O livro é um imenso quebra-cabeças, hora com peças demais hora com memórias quebradas, um mosaico dentro do velho homem no hospital.

?É como se dizia antigamente, pai rico, filho nobre, neto pobre.? - Pág. 38

Chico ironiza com as desigualdades de classe e raça, com a pobreza, e mostra um relato retrato da elite brasileira, um povo ainda com traços do imperialismo colonizador português.

?? [Leia completa em @palavrasmargina_es no Instagram]
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Isadora 06/03/2022

Memórias de um idoso
As memórias confusas do narrador compõem relatos que parecem ser de algumas poucas histórias contadas das formas mais variadas possíveis. É cativante tentar entender o que de fato aconteceu na vida desse narrador que é um senhor com pensamentos e falas problemáticos, mas familiarmente humano.
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