Paula 21/08/2012Um AcalantoMorri de amores por esse livro. Tanto que já nem sei mais quantas vezes o comprei para presentear amigos em aniversários, quantas vezes o recomendei. Tanto que essa semana comecei a lê-lo novamente, pela segunda vez.
Há tanta sinceridade nessa história, que é quase impossível não se apaixonar pelos personagens, não lhes querer bem. Em algum ponto, nos identificamos com eles, principalmente em relação a essa vontade de ser feliz.
Fiquei ainda mais apaixonada pelo Valter Hugo Mãe quando vi um vídeo dele falando sobre o livro e do quanto ele próprio torceu para que os personagens encontrassem a felicidade. (O vídeo está disponível aqui: http://www.youtube.com/watch?v=1aIYO5CtF5k)
Nessa procura pela felicidade os personagens enfrentam tudo: a solidão, a morte, o preconceito, a inveja, mas a esperança transborda de forma poética de cada página. Tudo gira em torno da vontade de ter um filho e do quanto isso significa que acreditamos em um mundo melhor. Sem falar na história de amor, que é contada de um jeito tão bonito, que só o Valter Hugo Mãe para fazer.
Definitivamente passou a ocupar aquela prateleira especial dos livros preferidos, pois é para mim um acalanto. Um lembrete daquela esperança que às vezes fica esquecida.
Recomendo com todas as estrelas.
"Para entreter curiosidades, o velho Alfredo oferecia livros ao menino e convencia-o de que ler seria fundamental para a saúde. Ensinava-lhe que era uma pena a falta de leitura não se converter numa doença, algo como um mal que pusesse os preguiçosos a morrer. Imaginava que um não leitor ia ao médico e o médico o observava e dizia: você tem o colesterol a matá-lo, se continuar assim não se salva. E o médico perguntava: tem abusado dos fritos, dos ovos, você tem lido o suficiente. O paciente respondia: não, senhor doutor, há quase um ano que não leio um livro, não gosto muito e dá-me preguiça. Então, o médico acrescentava: ah, pois fique sabendo que você ou lê urgentemente um bom romance, ou então vemo-nos no seu funeral dentro de poucas semanas. O caixão fechava-se como um livro. O Camilo ria-se. Perguntava o que era colesterol, e o velho Alfredo dizia-lhe ser uma coisa de adulto que o esperaria se não lesse livros e ficasse burro. Por causa disso, quando lia, o pequeno Camilo sentia se a tomar conta do corpo, como a limpar-se de coisas abstratas que o poderiam abater muito concretamente. Quando percebeu o jogo, o Camilo disse ao avô que havia de se notar na casa, a quem não lesse livros caía-lhe o teto em cima de podre. O velho Alfredo riu-se muito e respondeu: um bom livro, tem de ser um bom livro. Um bom livro em favor de um corpo sem problemas de colesterol e de uma casa com teto seguro. Parecia uma ideia com muita justiça." (página 69)
Valter Hugo Mãe. O filho de mil homens. São Paulo: Cosac Naify, 2011. 208 pp.