DIRCE 13/02/2013
Leitura obrigatória. Leitura transformadora.
Quando eu cursava o primário ( ontem mesmo), não tínhamos acesso a livros e nossas leituras, que eram o terror dos alunos, para mim não passavam de puro deleite. Eu me deliciava com as falas daqueles animais que me passavam ensinamentos que carreguei ao longo da minha existência e que serviram para “moldar” a minha maneira de ser. Por que estou falando sobre isso? Porque na medida em que eu avançava na leitura consolidava-se a ideia do quão valioso seria se o livro O "Filho de Mil Homens" fosse leitura obrigatória nas escolas. O quão valioso seriam os aprendizados transmitidos por Crisóstomo, Camilo, Isaura e o filho da Matilde ( Antonino – o maricas) 4 retas paralelas que , malgrado - ou devido os meandros da vida -, se encontram neste livro do Valter Hugo Mãe, livro que na minha opinião, se resume em uma fábula, só que as personagens não são animais dotados de características humanas como as da minha infância, são sim são seres humanos – demasiadamente humanos (o Nietzsche deve estar virando no túmulo, agora).
“O Filho de Mil homens” é um livro que fala sobre ausências, mas essas ausências não são preenchidas por um laptop, por um celular de última geração ou por uma viagem à Disney, elas são preenchidas pelo afeto, pela presença humana.
O Filho de Mil Homens é um livro que fala sobre o nosso anseio primordial: encontrar um modo de ser feliz. Crisóstomo encontrou seu modo de ser feliz: por meio da doação. Na página 188 ele diz para o Camilo: “Todos nascemos filhos de mil pais e de mais mil mães, e a solidão é sobretudo a incapacidade de ver qualquer pessoa como nos pertencendo, para que nos pertença de verdade e gere um cuidado mútuo”. Uma frase tão profunda, tão bela, mas que vista por outro lado, é assustadora: somos filhos de mil homens, de mil histórias, de mil passados onde o preconceito imperava – somos filhos dos velhos Alfredos – que geraram uma sociedade preconceituosa ( velada, mas preconceituosa) a exemplo de Matilde que renegou Antonino por ele ser, na sua visão e das pessoas que o cercavam, diferente. Somos filhos de mil homens incapazes de enxergarem a beleza das pessoas pelos olhos da Isaura. No meu entendimento, se “O Filho de Mil Homens” fosse uma leitura obrigatória nas escolas haveria a esperança de um futuro com uma geração de mais Crisóstomos e Isauras e menos Alfredos, pois, sem dúvida, é uma leitura transformadora. Mas como tudo não passa de uma cogitação, de um devaneio meu, resta a esperança de que no mínimo não deixemos o respeito do lado e que não esqueçamos da regra básica de convivência: o meu direito termina onde começa o seu ( e vice-versa).
Para encerrar, “O Filho de Mil Homens” é um livro de apenas 204 páginas, mas apaixonante e transformador. Demorei muito para terminar a leitura – não me interessava o final da história - tudo o que eu queria era prolongar o máximo a leitura, absorver cada frase, esperando aprender, como Camilo aprendeu, a ver as pessoas com os olhos da Isaura . Claro que um livro que me levou a tantas reflexões não poderia ficar fora dos meus favoritos.