spoiler visualizarEder 20/06/2013
Uma Dança sem Dragões
Finalmente, após um longo hiato (9 meses), retomei e concluí minha leitura de A Dança dos Dragões. Esta pausa foi involuntária. Eu queria ler muitos livros ao mesmo tempo (algo que nunca consegui com eficiência, infelizmente) e ainda estava em meu último período na Universidade, portanto me forcei a postergar para dedicar à obra a devida atenção. Não tinha pressa mesmo, afinal Ventos do Inverno ainda está longe de ser lançado... Agora, porém, decidi que era o momento de retornar à Westeros e às Cidades Livres. Pensei que poderia encontrar alguma dificuldade de compreensão devido ao longo tempo afastado daquele universo, mas felizmente estava enganado.
O quinto volume d’As Crônicas de Gelo e Fogo, é focado basicamente em Jon, Tyrion e Daenerys, os personagens favoritos da maioria dos leitores da série (mas não os meus) e os principais ausentes de O Festim dos Corvos. Teoricamente, isto era para ser perfeito. Mas não é. Em minha opinião, neste livro, George Martin se mostrou um excelente escritor de enrolações. Existem muitos capítulos onde nada se desenrola, porém lá no finalzinho do capítulo acontece algo surpreendente deixando aquela vontade de ler o próximo capítulo logo em seguida, dando a falsa sensação de que o livro é muito bom. A Dança dos Dragões apresenta 73 capítulos, com 18 POV diferentes. Destes, 8 estão viajando, resultando em nada menos do que 37 capítulos descrevendo andanças. Ainda por cima, apenas 3 destes viajantes alcançam algum destino, sendo que 1 morreu e os outros 2 viajarão ainda mais, aparentemente.
Somado a isto, ainda temos infinitas descrições de roupas, comida, vinhos, cabelos, tatuagens, etc. Ou seja, muitos detalhes que não agregam em nada ao desenvolvimento da trama. Não que eu não goste de passagens descritivas. Pelo contrário, acho-as fundamentais quando se está apresentando um novo universo ao leitor, mas A Dança dos Dragões é o quinto livro da série! Outro detalhe que me desagradou foram repetições de algumas frases como “Para onde as putas vão?”, “Você não sabe nada, Jon Snow.”, “Palavras são vento.”. Aliás, Palavras são vento deveria ser o título desde volume já que os dragões demoram quase o livro todo para aparecerem. Isto não era para ser uma dança com dragões?
Chama atenção, também, a ausência de personagens femininos fortes em Dança dos Dragões, ao contrário dos outros livros. Asha e Arya são mulheres com comportamento masculino, não contam. Cersei, depois de humilhada perante o povo se tornou submissa, só querendo ficar perto de seu filho, o rei menino. Enquanto Daenerys agora é uma rainha indefesa, com fantasias sexuais, maçantes ao extremo, com um mercenário, em nada lembrando a líder guerreira dos outros livros. Seus capítulos me davam uma desculpa para comer, ir ao banheiro, dormir, etc. Aparentemente, para Martin, uma mulher forte tem que carregar uma espada. A possível exceção é Melisandre, mas ela só tem um capítulo, infelizmente.
Tyrion foi outro que me decepcionou, já que passa boa parte do livro em viagem e nesse meio tempo se torna um beberrão, chegando inclusive, a disputar justas montado em um porco, como os anões do casamento de Joffrey. Que tal? O anão assassina um dos personagens mais fascinantes da série, seu pai, para em seguida virar um palhaço de circo. Já Jon é ainda mais prejudicado. Seus capítulos são meras descrições de sua rotina como Senhor Comandante e sua convivência com os selvagens e a corte de Stannis.
Apesar disso, o livro é bom. Conta com novos personagens e novos POV’s bastante interessantes, tais como Quentyn Martell e seus companheiros de viagem, Jon Connington e seu “filho” e um epílogo com Kevan Lannister. Por sinal, o epílogo é sensacional, dando mostras do que será o terceiro ato desta sangrenta peça. Gostei também dos capítulos de Bran, Barristan e principalmente Davos. O último capítulo sob o POV de Davos me deixou arrepiado, afinal, “O Norte se lembra...”. Vida longa a Rickon! Uma pena os melhores capítulos serem daqueles que receberam pouca atenção neste volume.
Outro ponto positivo é o “renascimento” de Theon Greyjoy, que eu julgava morto. No início do livro ele está irreconhecível, um mero escravo de Ramsay Bolton. À medida que sua história vai se desenrolando, porém, ele vai recobrando seu juízo e ganhando importância. Curioso é notar esse desenvolvimento também no que se refere aos títulos de seus capítulos, que vão mudando ao longo do livro, de Fedor até finalmente se tornar novamente em Theon. Capítulos estes, que figuram entre os melhores do livro, tornando Theon o principal coadjuvante deste volume, com 7 capítulos no todo.
Há um senso comum que inibe criticas aos livros da série, mas é preciso ser sincero. O autor levou quase 6 anos escrevendo o livro e ao final deste tem-se a impressão de que a história avançou quase nada. E, a julgar pela nota do mesmo, no final do livro, fica-se com a impressão que ele não sentiu prazer em escrevê-lo. Talvez isso explique a demora e a queda na qualidade da obra.
Em minha resenha de O Festim dos Corvos, afirmei que o livro era o mais fraco da série. Agora posso dizer que A Dança dos Dragões toma este posto. Permanentemente, espero.