Rosa Santana 10/05/2015
A ARTE E SEUS RETRATOS!
O Palácio de Espelho, Amitav Ghosh, Alfaguara, 574 páginas
Segundo livro de Amitav Ghosh que leio. Ele é sempre um abridor de portas para iluminar culturas das quais pouco sabemos porque quase nunca estão na mídia, nas redes sociais, dado o fechamento político a que são submetidas.
“O Palácio de Espelho” narra fatos que começam na Birmânia, século XIX, e terminam no final do XX, sendo que os personagens tenham se distribuído entre Malásia, Índia e, logicamente, voltado à Myanmar, nome atual da Birmânia.
Nesse período o autor retrata a invasão dos ingleses à Birmânia e a conseqüente devastação do país. Os personagens se mudam, constituem família e seguem o “Assim Caminha a Humanidade”: vivem os dramas da incompatibilidade; filhos se casam reproduzem, morrem, tios se juntam, amigos se vão de um país para outro, são levados pela iniludível, com a guerra ou sem ela, enfim, vivem os dramas humanos das famílias e, pior, os causados pela II Guerra Mundial.
Indignei-me com o domínio inglês sobre os nativos e tudo o que isso acarreta: aviltamento, ultraje, desvalorização... As reflexões sobre a guerra e sobre a hierarquia dentro do exército inglês, entre ingleses e indianos acentuou esse sentimento.
Achei muito significativo o autor começar o livro focando no Palácio de Espelho, - residência do rei da Birmânia que é deposto e segue para o exílio. Aqui o nome do imóvel significa a opulência, a magnificência, o esplendor, a exuberância e a grandeza que fenecem – e terminar também com um outro “Palácio de Espelho”, agora como estúdio fotográfico, onde o filho do personagem central dá, a quem o procura, seu espelho, a visão real desse eu que se posta frente à sua câmera, num dado momento! Um espelho que se perpetua, ao longo do tempo e do espaço, pela arte!
Assim também Amitav, com sua literatura, construiu um espelho desses países por onde andaram seus personagens e despertou em mim um grande desejo de conhecê-los in loco, a ir além do que aprendi nas pesquisas que fiz, ao longo da leitura!
E viva a arte e os espelhos que ela produz!!
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Trechos:
"O que um homem toma para si, ninguém pode lhe negar." - 144
"Cada vida deixa para trás um eco audível àqueles que se dão o trabalho de escutar." - página 574.