E depois

E depois Natsume Soseki




Resenhas - E depois


7 encontrados | exibindo 1 a 7


Marcos606 24/03/2023

Mais propenso a pensar do que a agir, Daisuke, protagonista do romance do mestre japonês Natsume Soseki, é a versão da era Meiji de um filósofo do sofá, que passa seus dias em Tóquio lendo livros de sua biblioteca, escrevendo correspondência para seus conhecidos no exterior, visitando gueixas e reforçando sua filosofia de vida.

Periodicamente, ele viaja para a casa de seu pai rico para receber sua mesada. Ele é, acredita, independente, e pensa que apenas ser um espectador do mundo ao seu redor o posiciona melhor para ser um crítico dele.

Através dos olhos dessa criança adulta, somos apresentados à meditação de Soseki sobre os perturbadores primeiros anos da idade adulta, uma época ainda mais complicada pelas mudanças sociais que estão assolando o Japão moderno. Aos vinte e tantos anos, Daisuke aperfeiçoou um tipo de existência, cuja superfície plácida começa a rachar quando Hiraoka, um velho amigo de escola, retorna a Tóquio com sua frágil esposa, Michiyo. Esta última é uma figura por quem Daisuke parece fatídica e fortemente atraído, apesar da certeza da ruína social, se ele tentar reivindicá-la como sua.

Mas esta não é uma história de amor, mas uma ode à autoconsciência. Daisuke é o tipo de pessoa que sente dor física devido à sua sensibilidade altamente evoluída e que se distingue reflexivamente do mundo em que vive. Observador atento do que o rodeia, vive em estado de separação perpétua, encontrando pontos de diferença em cada quadro da sua vida.

O autocontrole dá lugar a uma tentativa fracassada de viver no mundo real. Longe de ser lúdico como em 'I Am a Cat', esta é uma obra mais densa, psicológica e filosófica
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Mario Miranda 24/08/2020

E Depois?
"E Depois", segundo livro do que seria a trilogia envolvendo "Sanshiro" e finaliza em "O Portal", narra a história de um homem fora de sua sociedade: Daisuke. Daisuke é um "Estrangeiro" no próprio conceito Camusiano: ausente em sua própria vida. Sem projetos ou ideais, vivendo as custas da sua família, apesar de já ter 30 anos.

Incapaz de acatar as decisões paternas, das quais a necessidade de casar-se, o personagem pouco a pouco vai retomando o controle do seu psicológico, culminando em uma paixão com uma mulher já casada. Incapaz de ser aceito dentro do seu núcleo familiar após desonra-la, Daisuke poderá finalmente emancipar-se de sua existência restrita que até então vivera. Ou não?

E Depois não é uma obra fechada; Relacionando-se com o próprio título, "E depois" não se encerra em si próprio, deixando lacunas para o leitor concluir a sua leitura por si só.
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Kleber 03/05/2014

O que vale mais: a batata ou o diamante?
E Depois, um dos maiores clássicos de Soseki, é um romance que lhe é bem típico, remontando a elementos comuns de sua obra. Pois aqui temos Daisuke, um protagonista bastante letárgico que muito me lembra o personagem-título de Sanshiro. E é claro, está presente uma temática sempre presente nos livros de Soseki: a modernização do Japão, a súbita e meteórica transformação de um país feudal de ideais e costumes bárbaros (conforme a visão de Daisuke) para um país industrializado e aberto aos costumes ocidentais.

Mas mesmo em um país que se abriu tão rapidamente à modernização, os japoneses continuaram se agarrando com unhas e dentes ao seu tradicionalismo conservador de diversas formas, em especial, o matrimônio. Não apenas uma mera convenção social, mas a principal de todas, para o Japão da época, era uma desonra chegar a certa idade sem se casar, o que seria abordado brilhantemente no clássico As Irmãs Makioka de Jun'ichiro Tanizaki (E Depois teria exercido alguma influência neste livro?!), e esse é o principal drama de Daisuke: resumindo, ele não quer se casar.

Não bastasse, não quer trabalhar. E é aí que entra a sua veia filosófica, afinal, para um país que está tentando progredir e se modernizar, será que não se apegavam demais a valores antiquados? Daisuke insiste nesse ponto, mesmo que por vias verborrágicas, de uma forma até certo ponto coerente. Seria Daisuke um homem ainda mais moderno do que o já moderno Japão? Estava tão a frente do seu tempo, mais do que os que já se julgavam dessa forma? Ou era apenas um rapaz acomodado que se valia de sofismas baratos para justificar sua acomodação?

O mais importante questionamento do livro é levantado duas vezes, de tal forma que na cabeça de Daisuke parecem consistir em duas dicotomias: a batata e o diamante; a pena e a espada.

O que mais vale? A batata ou o diamante? Para Daisuke, a escolha pela batata seria sinal de decadência e vulgaridade. Mas seria a escolha pelo diamante tão nobre como ele imagina? Por mais que, possivelmente, as pessoas ao seu redor estivessem mergulhadas em uma mediocridade, em se dedicar a uma vida de aparências tal qual o casal de amigos, o quanto essa escolha pelo diamante viria ao caso ou justificaria sua posição? Acho uma escolha fora da realidade.

Já entre a pena e a espada, aqui Soseki parece, talvez, através de Daisuke, dar vazão a um desejo pacifista, que esse tal progresso do Japão, mediante a uma elevação cultural, poderia desapegar o japonês de seu passado e de sua tradição de guerreiro. Aqui, é claro, exemplificado como que em forma de metáfora o conflito entre passado e presente (e/ou futuro) representados, respectivamente, pelo pai de Daisuke e o próprio.

Ou talvez, não. Pelo menos, é o meu ponto de vista que deixo nesse texto, arriscando talvez a algumas ambiguidades (tal qual Soseki, não?). Mas temos de convir que é difícil avaliar os complexos questionamentos éticos e morais dos livros de Soseki com fórmulas prontas e respostas definitivas. Soseki não é um escritor de fórmulas prontas. E essa é a graça desse brilhante escritor.
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Literatura 18/12/2012

O ócio como metáfora
E depois (Estação Liberdade, 280 páginas) de Natsume Soseki se inicia com uma cena de isolamento extremo: o personagem acaba de despertar olhando fixamente para o teto com a mão no peito, sentindo seu coração bater. Parece que ele constata se está vivo? Daisuke Nagai, o protagonista, é um solteirão de 30 anos, de família abastada, sensível, inteligente, vaidoso, frequentador das altas rodas, grande apreciador das artes e das gueixas. Estudara numa universidade de prestígio, em um momento que o Japão contratava professores ocidentais para ensinar em suas recém-fundadas instituições superiores. A visão crítica que tem de tudo o que o cerca, no entanto, está longe de torná-lo um rebelde padrão, tampouco sem causa. São muitas as causas e razões desse protagonista, como revelam suas digressões mordazes.

O romance apresenta um homem que tinha um grande futuro pela frente e que, agora recluso, se sente à deriva, pois ao ver seus ex-colegas lutando para sobreviver naquele momento da história japonesa, desiste de viver lutando para procurar um lugar ao sol. E a única maneira de preservar seu pensamento é se entregar a ociosidade, em especial, após considerar as ocupações que poderia fazê-lo procurar um emprego, conclui que é incapaz de fazer outra coisa senão mendigar. Consequentemente, sua relutância em entrar no "mundo dos homens", amplia o abismo entre ele e seus ex-amigos, que o vêem como um preguiçoso e um “filhinho de papai”. Ao contrário de seu pai, Daisuke não possui nenhum apego à sociedade tradicional japonesa e sabe que o mundo é vasto o suficiente para ser confinado aos limites traçados pelo tradicionalismo.

Historicamente, a narrativa reflete as transformações provocadas pela Restauração imperial Meiji, iniciada em 1867. Nessa época, o Japão era ainda um país periférico que visava igualar-se às grandes potências. Para Daisuke, esse desejo resulta em uma nação preocupada em esconder suas mazelas, ainda que sob uma inclinação de abertura para o Ocidente.

Veja resenha completa no site:
http://migre.me/cqUaM
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