Matheus Nunes 31/07/2022
As Vantagens de Ser Invisível
O Olho não é Lolita, não é Machenka, (e nem de longe o autor aqui comete aqueles erros de escritor iniciante, como ele próprio revelou posteriormente...) não é e nem pretende ser poético como o Fogo Pálido, nem modernista-satírico-desmiolado como é o A Verdadeira Vida de Sebastian Knight (estreia do autor de seus escritos em inglês), este livro é diferente.
Esse quarto romance de Vladimir Nabokov é mais que excelente, e não pelos motivos mais esperados de quando se trata de um livro excepcional como este. Smurov é o personagem mais estranho escrito pelo Nabokov que eu já li até aqui, acho que o único personagem que eu já tenha lido que se equipara a ele em termos de complexidade é o Vitangelo Moscarda, do também incrível Um, nenhum e cem mil, de Luigi Pirandello.
Há um pouco de tudo neste livro mesmo que ele tenha tão poucas paginas, há até mesmo o espaço para odiar com todas as forças algumas das atitudes finais do protagonista, o Nabokov sabe como ninguém escrever protagonistas odiosos na mesma medida em que ele escreve e amarra tudo em uma narrativa veloz, sucinta mesmo em meio a devaneios, tudo isso regado a pitadas de um "amor" doentio que se confunde com uma espécie de irresponsabilidade existencial para com o mundo, para com as coisas.
Smurov na minha opinião se destaca dos demais personagens Nabokovianos pelo fato de ser um personagem que acredita que há vantagens em se tornar homem invisível, enquanto outros pensam em deixar um legado de forma quase que obsessiva, este, só quer desaparecer, ou destruir tudo a sua volta por acreditar que tudo irá se esvanecer consigo.