Heliton 09/09/2021
A mais letal das armas dele não é uma de fogo, mas sim a sua sagacidade e o seu humor provocativo.
Em último caso, o Win seria a sua cartada final, porém você não seria louco de fazê-lo chegar neste ponto...
"Quebra de Confiança" é o meu primeiro contato com a escrita do Harlan Coben, é também a obra que faz a estreia da série de maior sucesso dele, composta por outros 10 livros além deste. Felizmente, todos estão devidamente traduzidos para o Brasil; considero isso até um alívio e uma preocupação a menos na vida de um leitor br que sofre desde sempre pelas publicações incompletas de suas sagas ou séries favoritas em território nacional.
Como era de se esperar para este primeiro livro, o personagem central, Myron Bolitar, de 31 anos, nos é descrito, apresentado e familiarizado pelo autor no decorrer da narrativa ao mostrar a sua rotina de trabalho, seus gostos, as suas habilidades físicas, pessoais e interpessoais, manias, relações afetivas e sociais, e sobre o seu passado. É com essas informações e características que formam a sua personalidade que o acompanhamos na resolução de um crime cometido há quase um ano e meio atrás no momento em que se inicia a leitura.
Uma quebra de expectativa da minha parte foi supor que Myron seria algum agente criminalista ou alguma outra coisa do gênero. No capítulo inicial é mostrada uma parte da sua rotina como empresário esportivo, isso mesmo, e m p r e s á r i o. Neste ponto eu estava me perguntando, por qual motivo uma pessoa com tal profissão começaria a fazer uma investigação acerca de um crime praticado há tanto tempo? O que a polícia não conseguiu fazer de diferente para resolver este caso que uma pessoa sem relação alguma a esse ramo pudesse acreditar que poderia resolvê-la? É possível imaginar algumas hipóteses para isto, mas na narrativa o tempo de pensar sobre essa questão é muito curta, sendo respondida logo em seguida, onde as coisas começam a ter um sentido lógico.
Myron é uma figura com um modo de fala bem sarcástica, vários são os momentos em que ele se expressa usando o sarcasmo em seus diálogos. Para dizer a verdade, até os outros personagens fazem a mesma coisa hora ou outra, deixando a leitura com aquele clima bem divertido subsequente ao seu uso; digo isso na perspectiva de leitor, pois entre os personagens é gerada uma tensão lógica de provocação, humor e, em certas ocasiões, de malícia :|
Percebe-se que não falei muito sobre o crime a ser resolvido até então, não é? Então, isso eu deixo para quem for ler, para que tire as suas próprias conclusões sobre e se divirta sendo um investigador, as pistas estão lá, muito mais à vista de quem está lendo do que para os personagens que estão em busca das respostas; apesar de não ser nada tão complexo assim de se resolver, achei bem elaborado e construído pelo autor.
Preciso mencionar também sobre um detalhe, até comum da época em que se passa a história, sobre os aparelhos telefônicos móveis. Não lembro em qual ano exatamente ocorrem os acontecimentos da narrativa, mas considerando o ano de publicação original, ou seja, em 1995, se nota que era uma época onde a tecnologia de celulares ainda estava começando a ganhar forma, ainda estava no modo tijolo, mas ainda assim já era comercializada, apesar de que só era acessível para a elite mais rica; tanto é que o personagem Win às vezes emprestava o seu ao Myron (quando este não estava em seu carro, pois o carro levava um telefone), pois para as pessoas em geral, em suas residências, os telefones fixos eram muito mais comuns que os móveis. Era essa a época onde os personagens se encontram aqui no livro, e onde terão que encontrar as pistas que os levem diretamente para o/os responsável/eis pelo crime.
Como citei um pouco mais acima, sobre a rotina de trabalho do Bolitar atuando como empresário esportivo, o livro todo mescla entre esse mundo de negócios dos esportes e os acontecimentos da investigação feita pelo personagem. Acompanhado por pessoas próximas a ele, de amigos, familiares e de sua ex-namorada, Myron usa todas as suas habilidades adquiridas no passado para cuidar da vida pessoal e profissional de seus clientes e, ao mesmo tempo, prosseguir na resolução de um caso que se liga a várias pessoas deste seu círculo social.
O autor Harlan Coben, pela impressão que tive ao término deste livro, tem uma escrita bem direta, sem fazer longas enrolações, sem detalhes muito técnicos de perícia, na qual eu não entendo nada, apenas baseada em narrar e desenvolver uma história que contém, além daquele clima sério de um romance investigativo, uma narrativa bem divertida de se acompanhar, com um humor característico, com uma dinâmica entre narrar o desenrolar de uma investigação, as atividades e problemas da vida pessoal de um agente esportivo ainda novato neste ramo. Se eu estava com receio por começar esta série e depois me arrepender por isso, bom, diria que vou me preparando desde já para ler o próximo.