Mika 11/05/2012Mais que os demais.Numa sociedade onde as pessoas são cheias de conceitos pré-concebidos, não deve ser nada fácil ser "diferente" da padronização que somos qualificados. Isso ocorre nos anos atuais, imagine nos anos 70. Desde a introdução desse livro, sentir afetação e o peso que ele trás, o peso do ensinamento que ele tem a proporcionar a todos aqueles que ama ler.
Como o título mesmo já insinua, Viagem Solitária é um relato de João W. Nery, o primeiro transexual masculino a ser operado no Brasil. O livro é narrado por ele mesmo, contando sua vida desde a infância até o momento da paternidade, seus lamentos, toda a angustia que passou por ter sido incompreendido pela maioria das pessoas, inclusive aquelas que ele mais amava. João nasceu com um corpo de mulher, assim seus pais o batizaram de Joana, mas eles não sentiam o que Joana sentia quando usava vestidos, eles não sabiam o que se passava no interior da sua filha.
É difícil aceitar que uma pessoa por ter um corpo feminino, não possa ser mulher e sim um homem, todos devem fazer o mesmo questionamento: mas ela tinha órgãos genitais femininos? Sim, mas as coisas vão muito além disso. O psiquismo está envolvido, o sujeito não é somente corpo. O gênero não parte do principio de uma opção, se fosse assim, eu suponho que você escolheu ser o que é, seja hétero, gay, lésbica ou qualquer outra denominação. Você realmente optou pela sua orientação sexual ou você acha que já “nasceu” assim?
Não adianta discutir uma questão com embasamentos do “achismo”.
Viagem Solitária – Memórias de um Transexual Trinta Anos Depois é muito mais que um livro, é uma fonte de informação para quem não sabe o que é transexualidade e confunde com homossexualidade, é uma história que afeta, que angustia, que gera discussões. É um livro para quem gosta de romances, política, drama, é um livro para se ler e se afetar.
Não tinha consciência que a editora Leya tinha lançado uma história assim, até o livro chegar em minhas mãos. Fico muito feliz por essa história está passando em mãos, o mundo precisa conhecer, João W. Nery foi apenas um, mas existem centenas de pessoas como ele. Aqui, ele demonstra que para ser homem não precisa de um pênis.
“Considerei-me por muito tempo um inválido sexual, que precisava de artifícios para poder ter prazer, quando talvez o problema estivesse mais na minha cultura com todos os seus significados, “que fazem de um simples gesto um critério clinico para definir se alguém é ‘verdadeiramente’ um homem ou uma mulher”, como citou Miguel Missé no ótimo livro El Género Desordenado.” (p. 290)
Suas dores são vivenciais e quando você olha para ele criança, você não acredita que seja o homem da foto do autor. Ele passou por todo o sofrimento da burocracia e das humilhações, mas ele encontrou pessoas maravilhosas que o ajudaram.
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