Kris Monneska - Conversas de Alcova 21/12/2016Romance Histórico Pagão e Maravilhoso.Oieee gente ♥
Paganus para mim foi uma daquelas surpresas que acontecem aos 45 minutos do segundo tempo e salvam tudo, no caso aqui, o meu relacionamento com a literatura nacional em 2016, porque quem acompanha o blog e leu minhas ultimas resenhas, tem ciência de que eu vim de leituras nacionais que me decepcionaram muito. Mas, Paganus veio como um sopro de ar fresco e me resgatou dessa ressaca nacional.
Paganus é um romance histórico que nos conta a história de uma linhagem de mulheres celtas que resistem aos perigos da inquisição e tentam manter vivas as tradições das suas ancestrais.
A Narrativa se inicia na casa de uma nobre família portuguesa, ali somos apresentados a dois importantes personagens dessa história ainda crianças, Diego e Diogo, são dois gêmeos de aparência idêntica, mas eles só têm isso mesmo de parecido. Enquanto Diego é doce e amável, Diogo é mesquinho perverso e chega a beirar a psicopatia e essas diferenças só são enfatizadas enquanto eles crescem. Diogo se torna cada vez mais arrogante, enquanto Diego, influenciado pela tia, pensa em se casar, gosta de festas e de cortejar garotas, algo que não agrada o seu pai, que após o evento marcante que aconteceu durante a infância dos meninos e é retratado no início do livro, tornou-se um homem seco e que considera o amor como uma fraqueza.
Sendo assim, no intuito de afastar Diego dos cuidados da tia, ele aceita um título e torna-se Dom Couto em nome da igreja e parte com os filhos para a província de Trás-os-Montes, onde deverá caçar e dizimar as bruxas e os hereges-pagãos.
É lá que nós conheceremos a jovem Adele e sua mãe Gleyde, duas mulheres pagãs e duas das poucas restantes da forte linhagem das filhas de Dana. E é a partir do momento em que eles se encontram que a história começa a se desenrolar de fato.
Uma das principais coisas que me ganharam na escrita da Simone foi o respeito dela com a cultura Celta e Pagã. Pois, nós pagãos (quem não viu na minha bio que eu sou pagã volta duas casas) estamos, infelizmente, acostumado a termos nossa religião retratada em obras literárias como fantasia e/ou muitas vezes demonizada, mas nas obras da Simone, não.
Outro ponto crucial, na paixão pelo livro foi o desenvolvimento desses personagens, cada um deles, desde os mocinhos até os vilões, foram estruturados de uma maneira humana e real, com características boas e más, que se alternam modulando o caráter de cada um deles.
Os personagens em quem melhor podemos observar essa grandeza de construção, são os gêmeos, pois apesar a semelhança física são extremamente diferentes e precisam encarnar essas diferenças nos momentos que precisam representar um ao outro ao longo da obra. Quem também nos permite ver esse tom da construção dos personagens são as filhas de Dana, cada uma com suas características pessoais mais marcantes, porém tendo a base de mulheres que pertencem a uma linhagem matriarcal, são donas de suas próprias vontades e vêem os homens como semelhantes ou subalternos (dependendo da personagem) nunca como um superior.
A escrita da Simone mescla Clareza e sutileza. Tudo no livro é muito bem explicado, sucinto e bem amarrado, não há rodeios e nem dramas desnecessários. A Narrativa é fluida e cíclica como as fases da lua. Os romances crescem de forma gradual e é maravilhoso acompanhar o amadurecimento da relação entre os personagens. E pelo que pude perceber à cada volume uma geração dessa linhagem terá o protagonismo.
O embasamento histórico da trama é maravilhoso, desde as referências a inquisição, até a imigração ao Brasil nas caravelas. A autora ainda retrata a escravidão e a maneira perversa que os europeus tratavam os africanos e acredito que isso será mais reforçado nos próximos volumes.
A ambientação do livro é um amor à parte, os locais são tão bem descritos que nos leva a imagina-los como se realmente os víssemos.
A linguagem utilizada para a construção da narrativa, também está excelente, pois faz juz a uma trama que se desenvolve em Portugal em meados de 1600, mas sem ser enfadonha devido ao peso e as diferenças linguísticas em relação ao português dos dois países. Tornando a leitura mais agradável do que se ela houvesse optado pelo português de Portugal e mais realista do que se ela houvesse optado pelo nosso português moderno.
A Parte gráfica do livro é um primor. A capa, é maravilhosa e faz alusão a uma das protagonistas, embora eu tenha visto críticas ao vestido da modelo ser moderno, acredito que isso seja um mero detalhe (ao contrário do que muita gente pensa, não é fácil encontrar uma fotografia com um figurino na década exata a da narrativa e com as mesmas características, sejamos compreensivos).A diagramação vem muito bonita, com detalhes emoldurando cada página, porém esses não interferem na leitura, a fonte utilizada é serifada (algo que eu adoro) e as páginas são amareladas, pontos que para mim facilitam bastante a leitura.
Portanto, pelo que puderam ver, eu só tenho elogios à obra e digo mais, é difícil expressar em palavras o tanto que eu gostei e me emocionei enquanto lia. Ler Paganus, foi uma experiência maravilhosa, em alguns momentos me senti dentro da história, como se de fato eu visitasse o passado. Me emocionei, sorri e chorei,em alguns momentos senti tantas emoções que era como se meu corpo vibrasse. Então, SIM! É lógico que eu recomendo a leitura para todos os públicos, e espero que vocês gostem tanto quanto eu gostei.
Visite Simone O. Marques e garanta o seu exemplar.
ALERTA DE GATILHO EMOCIONAL:A Obra relata episódios de estupro, a cena não é explicita, mas acho que vale a pena avisar aqui.
site:
http://www.conversasdealcova.com/2016/12/resenha-paganus-saga-as-filhas-de-dana.html