POLÍTICAS DO ESPAÇO

POLÍTICAS DO ESPAÇO José Carlos G. Cortes




Resenhas - POLÍTICAS DO ESPAÇO


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Darlan 02/06/2018

Resenha - Políticas do Espaço
Cortés parte do pensamento de Henri Lefebvre e sua noção de produção social do espaço, na qual reivindica-se um espaço de acentuação das diferenças históricas e culturais, em que haja o direito à multiplicidade – dando grande destaque à influência desse pensamento na fundação da Internacional Situacionista, em 1957, movimento que buscou levar a termo o que se denominou como uma “arquitetura da inclusão”), para nos apresentar os conceitos do filósofo Michel Foucault, originados nos anos de 1960, paralelamente ao debate sobre a cidade e ao espaço que ocorria na Europa no período.
São especialmente relevantes para as reflexões propostas por Cortés o conceito do “outro” e a noção de “heterotopia” propostas por Foucault. Essas proposições rejeitam um sujeito de caráter universal e a noção de uma verdade objetiva, que segundo o autor estão sempre ligadas ao ponto de vista do homem branco ocidental. Contudo, enquanto as análises de Foucault (assim como as dos Situacionistas) centravam seus interesses em espaços de caráter mais genérico e político (prisões, hospitais, escolas, etc.), Cortés leva a discussão para outros espaços da vida cotidiana, questionando o sentido hegemônico do espaço urbano e a configuração das cidades em toda sua complexidade social e cultural. Suas reflexões abordam ainda as formas de da estruturação e organização do controle social e suas atuações no sentido de reprimir desejos, através de dois aspectos básicos: a criação de “espaços dóceis”, fáceis de vigiar e controlar, e os esforços para obter “corpos ausentes”, que visam promover o desaparecimento dos desejos do corpo no espaço público.
Assim, a obra se organiza em duas grandes partes que focalizam em cada um desses aspectos fundamentais. Na primeira parte, Cortés foca nas contribuições da arquitetura como instrumento de controle social. Sua principal referência ainda é a obra de Foucault, que define a arquitetura como uma máquina de produzir sujeitos que se vigiam e se reprimem mutuamente, numa “sociedade de controle”, noção posteriormente aprofundada por Deleuze em sua definição de “sociedade punitiva”(???).
Na segunda grande parte, o autor aborda as formas como a arquitetura tradicional manteve reprimida a sexualidade no espaço, através de hierarquias e prioridades que favorecem determinados valores e anulam outros. Nesse contexto, a arquitetura teria importante papel no processo de invisibilizar outras possibilidades de sexualidade e de gênero, contribuindo para “descorporificar” o solo da cidade. Sob essa perspectiva, a descrição do pan-óptico feita por Foucault pode ser utilizada como uma metáfora muito apropriada para analisar o papel do heterossexismo e o poder de uma visão exclusivamente masculina na organização dos espaços sociais, na medida em que o olhar masculino tem a mesma função controladora da máquina de visão total do pan-óptico, funcionando como um instrumento de coação ideológica.
Por fim, o autor apresenta algumas experimentações artísticas e arquitetônicas que apontam para possibilidades de criação de espaços de transgressão e subversão das tradicionais distinções binárias que organizam a convivência social. Para Cortés, esses locais geradores de dinâmicas descentralizadoras, que buscam reconhecer as diferenças e questionar as estratégias de poder da cidade hegemônica, espaços que não precisariam de um nome específico, mas que são chamados pelo autor de “espaços queer”.
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