Insólito

Insólito Paulo Fodra




Resenhas - Insólito


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Heidi Gisele Borges 18/01/2012

Resenha + Entrevista com o autor
Cruel, intenso, rápido como tudo pede hoje.

Como o próprio título diz, são microalucinações, microcontos, ou algo assim em poucas linhas. Essas muito bem escritas. Passam raiva, angústia, alegria, sensações boas, ruins, más...

Como quando o senhor Estronho (vulgo M. D. Amado) gritou ao meu lado justamente no momento em que eu lia o conto:

“Vinte facadas foi pouco para aquela atriz nojenta que roubara sua realeza. A avenida era toda sua, outra vez. Avante, bateria!”

Tirando a capa, percebi que muitas vezes nos livros do selo Três por Quatro da Multifoco há essa moldura para se passar por um selo... O que deixa as obras parecidas demais e sem uma identidade. Não é uma série, não havia necessidade de se parecerem.

Mas o que vale é a obra, e Paulo Fodra (autor convidado, juntamente com a autora Nikelen Witter, para a antologia Livros organizada por mim – e é neste momento que os dois descobrem o convite, pois não tinham sido avisados – ainda a ser divulgada para seleção) escreveu com conhecimento. Os contos possuem início, meio e fim, o que é muito complicado quando temos apenas duas, três linhas para contar uma história inteira. E as que compõem Insólito – microalucinações (Multifoco – selo 3x4, 2011, R$30) prendem o leitor do início ao fim do livro.

Há sensibilidade

“Foi só o doutor bater o olho na radiografia pra entender o motivo de tanta indecisão. No peito da moça batiam três corações”.

Há humor

“O fracassado lutador de sumo fugira do Japão em desonra. No Brasil, encontrou a felicidade: todo fevereiro, virava Rei!”

Há realismo

“O gato matou o passarinho dentro da gaiola. Todos ficaram tristes, menos o morto. Livre, enfim, sua alma voou até o céu”.

E muito mais. Enfim, um livro recomendado para quem gosta de vários gêneros literários, pois vai passear por todos em poucas páginas bastante ricas.

Entrevista com o autor:
Mundo de Fantas: Como foi escrever "Insólito – microalucinações", conte-nos o processo e as inspirações.

Paulo Fodra: Comecei a escrever micronarrativas como exercício de concisão, por influência do escritor Luiz Roberto Guedes. Ele me apresentou uma série de microcontos fantásticos da Martha Argel, caracterizados pelo humor sarcástico e afiado. Fiquei impressionado com o grau de complexidade e expressão que as enxutas linhas possibilitavam. Brincando com essa proposta, experimentei registrar ideias completas para contos longos com a menor quantidade de palavras possível, tentando manter tudo ali – começo, meio e fim – sem perder de vista o tema e a intenção da trama. Logo percebi que algumas das histórias que eu inventara só funcionavam de fato no formato micro. A partir daí as micronarrativas começaram a ganhar vida própria. Na cola do humor sarcástico apareceram o humor negro e os temas mais sombrios. Surgiu também a curiosidade de testar a recepção dos leitores a esses microdelírios. Postei alguns deles em meu perfil do Twitter e me surpreendi com a repercussão que alcançaram. A partir daí virou hábito. Através do Twitter, acabei conhecendo bons microcontistas como Wilson Gorj, Denison Mendes, Agnelo Ronenberg, Tiago Moralles e Felipe Carriço. A troca de experiências e os sarais virtuais espontâneos, que acabaram surgindo madrugada adentro, me ajudaram a encontrar o estilo insólito que caracteriza a maior parte da minha microprodução. A minha inspiração vem do cotidiano e da quebra do raciocínio linear. Pode tanto vir dos absurdos políticos e sociais brasileiros quanto da interpretação "ao pé da letra" de expressões idiomáticas que usamos, muitas vezes sem consciência disso, no dia a dia. Existem muitas coisas por aí que nos parecem estranhas, absurdas ou mesmo revoltantes, mas que são consideradas absolutamente normais em certos contextos. Esse choque de realidade também é um terreno fértil para o insólito, um verdadeiro berço de microalucinações.

MdF: Deixe dicas de leitura, pode ter a ver com o assunto do livro e outros que achar importante indicar para seus leitores.

P.F.: Na seara da microficção, recomendo os livros Bonsais Atômicos, do Denison Mendes, e Prometo Ser Breve, do Wilson Gorj, ambos lançados pelo Selo 3x4 da Editora Multifoco, especializado em micronarrativas, que também publicou o meu livro e do qual o Wilson é editor. Tanto o Wilson quanto o Denison são econômicos e contundentes na escolha das palavras e o resultado acaba se revelando poético mesmo ao falar do cotidiano. Outros dois livros fantásticos, dos quais só tomei conhecimento depois de ter escrito o Insólito, são 111 Ais, do Dalton Trevisan e Crimes Exemplares, do Max Aub. O primeiro livro foi lançado em 2000, e o segundo, em 1957, o que prova que a microficção já existia como forma literária muito antes da explosão das redes sociais, ou seja, não se trata de um simples e efêmero modismo.

Sou grande fã de Edgar Allan Poe, H.P. Lovecraft, Neil Gaiman, Stephen King e Joe Hill e considero que os livros Histórias Extraordinárias (Poe), e Fumaça e Espelhos (Gaiman), são verdadeiras aulas de como tratar o terror e a fantasia com profundidade, fugindo de clichês e construindo imagens poderosas e duradouras na mente do leitor. Na literatura fantástica nacional, meu destaque vai para o livro Fragmentos do Inferno, recém-lançado pela Editora Estronho. Coescrito por um time de novos talentos, é um romance de linguagem tensa e fragmentada, que dá uma amostra rica do potencial criativo da nova geração de escritores nacionais. E para aqueles que acham que contos de fada são coisas de criança, recomendo a leitura de O Reino das Névoas, escrito e ilustrado pela talentosa Camila Fernandes.

MdF: Obrigada por participar desta rápida entrevista e parabéns pelo seu trabalho, adorei mesmo seu livro.

P.F.:Muito obrigado. Quero aproveitar para agradecer a oportunidade e parabenizar o Mundo de Fantas pelo excelente trabalho na divulgação da literatura fantástica nacional!

*****
Outras resenhas: Mundo de Fantas no mundo dos livros
http://mundodefantas.blogspot.com/
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Amanda Reznor 14/10/2012

Cortes, abraço, algodão...
Paulo cria imagens sucintas que florescem, frondosas, em nossa imaginação!
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Carol Mancini 16/05/2012

Inspire. E no segundo seguinte, ao expirar, nada será como era.
É claro que ao ter em mãos um livro curto cuja sinopse sugere que ali se encontram pequenos textos, já se sabe que a leitura será dinâmica. Mas preciso confessar que essa se fez em menos de quarenta minutos. Bom, eu não cronometrei, mas foi isso que me pareceu.
E também não, eu não fiz leitura dinâmica e nem seria necessário, pois os microcontos, do autor Paulo Fodra, são como jujubas (é... eu gosto de alusões). Aquelas balinhas coloridas e de sabores diferentes que te fazem não sossegar até que todas acabem?
Alguns contos são bem azedos, outros são doces e sublimes, alguns inusitados que demorei um pouco mais para apreciar e compreender, pois mesmo curtos são tão complexos e paramentados que o olhar para eles precisa ser treinado. Há ainda aqueles que, apenas com a palavra final, lhe tiram do óbvio e do comum. Nesse é como se viesse escrito de branco no branco, assim invisível "Peguei você!"
Mas afinal, do que ele fala?
Os temas abordados por Fodra são inúmeros, tem um banquete de frases carnavalescas, suicídios, assassinos psicopatas, criaturas fantásticas, amor e... Eu acho que ele gosta de gatos.
Outra coisa interessante é que os textos são livres para fazer você rir, sentir náuseas, constatar verdades como fábulas ou simplesmente registrar essas passagens "alucinógenas" criadas pelo autor.
O projeto gráfico apesar de bem simples cumpre a função nas páginas do miolo. A numeração grande e o cabeçalho de mesmo padrão, dão um ar bastante concreto e limpo, como uma propaganda cujo nome precisa ser gravado. Assim, sendo muito simples, cumpri seu papel visual e informativo com um toque de criatividade e deixando tudo limpo para o que importa: o texto.
A capa é bastante curiosa (não achei outra palavra), ela não me disse nada sobre a obra, então fiquei pensando: "oras, mas sobre o que ela me falaria?". Não da para resumir (ou sugerir) a obra em uma imagem, pois não há uma linha de raciocínio, temática ou intenção. O texto simplesmente está ai. E pronto. Talvez como a marca da palma da mão? Um registro que se mostra sem pormenores, de maneira eficiente e objetiva. É claro que poderia haver algo mais bonito, mas também a beleza das linhas de Paulo seguem por outra vertente.
Suas imagens, apesar de desprovidas propositalmente de enfeites e arabescos literários, são grandiosas, concretas, na maioria das vezes fortes e cheias de veracidade (ou seria ferocidade?), criando realmente essa vontade de ler um atrás do outro.
O que também é uma boa pedida é reler o livro. Depois de lê-lo por completo, você pode voltar a ele e degustar esse ou aquele relato que lhe chamou atenção, e revisitar o livro inúmeras vezes.
Mas então, porque microalucinações?
Ao menos nesse livro, e resalvando uma ou outra crítica, Paulo Fodra parece mais disposto a surpreender do que ditar verdades ou nos impor seu modo de pensar.
Assim, o que parece realmente valer para o autor, é esse flerte incontestável e frequente com o inusitado, que hora, de inicialmente tão absurdo, parece também como uma paixão e entrega ao que é improvável, louco, destemido, inovador.
Alguns ainda, me parecem como um curto pesadelo quando se tem em um breve cochilo. Acorda-se sobressaltado e com aquela sensação latente em imagens.
Para ser clara, vejo as estruturas bem lapidadas (daí sendo paramentados com o que é inovador), porém sem palavras complicadas e figuras de linguagem excessivas, mas ainda, muito bem polidas, enxutas.

É uma leitura muito prazerosa, e um livro que vale a pena ter em casa.
No site do autor você descobre onde comprar e confere outras resenhas do livro. Além do mais, eu me segurei toda a resenha para não colocar aqui uma amostra do livro. Mas, se quiser ter esse gostinho, no link abaixo você também os escontrará, além da biografia do autor e links de outras resenhas.
paulofodra.com.br

Mais resenhas no blog: carolinamancini.blogspot.com
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Dechiare 30/01/2013

O livro do meu insólito amigo.
Um universo de microalucinações com o qual me identifiquei, principalmente com o microconto do diabético.
Microcontos não são, ou melhor, não eram uma tradição editorial brasileira. Espero que mais venham, afinal estórias insólitas e curtas são viciantes e apaixonantes.
Mas, sou suspeito para falar afinal, Paulo Fodra é meu amigo.
E você? Tá esperando o quê? Para de ler esssa resenha e vai correndo comprar e ler o livro, pô!
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