Driely Meira 11/08/2016
Diferente e interessante
Glória não imaginou que seria selecionada para participar de um projeto de teatro sobre El Cid, um cavalheiro espanhol que vivera na Idade Média, e muito menos que se apaixonaria durante a viagem, para total surpresa e espanto da menina. Junto com outros adolescentes, Glória passaria suas férias vivendo num mosteiro como se realmente estivesse no século XI, sem internet, sem tecnologia, sem roupas normais. E é lá que ela conhece Sérgio, que, ao vê-la, sente como se a conhecesse há anos, e o mesmo acontece com Glória. Por que será?
Voltando mil anos, durante a Idade Média, conhecemos Sancho, um cavalheiro cristão espanhol que lutava em nome de Rodrigo Diaz, também conhecido como El Cid. Seguindo seu senhor para onde quer que fosse, Sancho acaba sendo exilado juntamente com El Cid pelo rei Alfonso, rei de Castela e de Leão. Acusado de roubo, El Cid fora exilado, mas, assim que saiu das terras de Alfonso, começou a conquistar outros lugares, juntamente com os vários homens leais que o seguiram.
Sancho pensou que nunca, em toda sua vida, tinha visto uma imagem tão bela e, independentemente de sua vontade, sentiu que seu coração voada para junto daquela donzela desconhecida. Gostaria de aproximar-se, dobrar o joelho à sua frente e oferecer-lhe sua espada. Para sempre. – página 81
Sancho acaba tendo uma história de amor com Guiomar, uma moça nobre que, por coincidência, é enteada de uma das “amantes” de Sancho, uma mulher fria que não aceitava ser passada para trás. Mas o amor de Sancho e Guiomar era tão puro que eles ignoraram todas as etiquetas da época, a moça pouco se importava com o fato de que Sancho era pobre, e deixaram de lado também Brianda, a viúva que não queria casar-se de forma alguma, pois perderia suas terras, que passariam, mais uma vez, a serem governadas por um homem.
Mas o romance entre Sancho e Guiomar acaba não tendo um felizes para sempre, e, amaldiçoados, eles não conseguem ficar juntos. Mil anos depois, Sérgio e Glória começam a sentir e ver coisas estranhas enquanto ensaiam para o teatro, e as coisas começam a ficar estranhas e assustadoras. Estaria alguém tentando se comunicar com os dois? E por que Bárbara, a professora deles, parecia odiar Glória com todas as forças, pelo fato de a menina estar tão próxima de Sérgio?
A narração intercala entre a história de Sancho/Guiomar e Sérgio/Glória, então as duas acontecem ao mesmo tempo, mas, ainda assim, o livro é bem previsível, apesar de conter alguns mistérios e maldições aqui e ali. Achei interessante o fato de a autora mesclar as narrações e “reencarnar” alguns personagens, parece que a nossa torcida para que o casal fique junto no final só aumenta com isso.
“Sei que parece idiota e novelesco, mas sim, eu a amo de um jeito que antes eu teria rido. E nem mesmo sei muito bem por quê. Quase não nos conhecemos e, no entanto, é como se tivesse passado toda a minha vida procurando por ela. ” – página 224
Gostei do cenário das histórias também, e os personagens secundários tiveram grande importância na história, principalmente os vilões e os amigos dos quatro personagens principais. Sem contar que o livro tem uma carga histórica enorme e incrível: as guerras e batalhas cristãs contra os muçulmanos na Espanha, a Reconquista Espanhola, a vida de El Cid (mesmo que ele não seja o protagonista), etc. É um livro incrível e que vale muito a pena ser lido. Sem contar que a editora mega caprichou na edição: está linda!
A escrita da autora é simples e flui rapidamente, mesmo com alguns nomes estranhos e a linguagem formal usada pelos personagens do século XI. Também gostei de ver as relações de amizade no livro, e fica bem claro que, sem a ajuda dos amigos, nem Sancho, Guiomar, Glória ou Sérgio estariam vivos ou ficariam juntos, no caso dos dois primeiros.
Como encontrar-se com alguém que só existe na própria imaginação, como ver na vida real a figura de um sonho, como recuperar algo enormemente valioso que se achava perdido para sempre, como... como apaixonar-se, simplesmente? – página 46
Enfim, tirando o fato de ser um pouco previsível em alguns pontos, o livro está impecável. Ainda não tinha lido nada da Élia, mas já me tornei uma fã, e estou doida para conhecer mais histórias da autora, que, pelo o que consta na sinopse, é conhecida como Dama Negra da literatura espanhola, principalmente por combinar bruxaria, maldições, romance e história em seus livros.
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