Tábata 04/06/2020
Tudo sobre cinema (dos EUA e Europa)
Eu gostaria de ter lido esse livro anos atrás, quando o comprei, antes de estudar qualquer coisa relacionada ao audiovisual. Teria aproveitado mais, uma vez que ele é direcionado justamente ao público não apenas leigo (até porque isso eu ainda sou), mas sem realmente nenhum conhecimento em cinema, ainda que mínimo.
Os autores (todos europeus ou estadunidenses, algo que fica bastante óbvio ao ler o livro) traçam um panorama bastante limitado sobre o cinema ao longo de seus mais de 100 anos de existência. Os textos sobre os movimentos europeus e norte-americanos são rasos, mas dada a proposta do trabalho, muito bons: trazem informações sobre o contexto histórico dos movimentos, os principais nomes, filmes e estúdios envolvidos e dão um bom ponto de partida para aqueles que quiserem se aprofundar. Aqui cabe ressaltar que, apesar do número massivo de páginas dedicadas a esses países, movimentos de cinema relacionados a minorias étnicas e sociais, como o New Queer Cinema, são apenas citados brevemente, sem ganhar uma ou mais sessões específicas.
Mas é ao falar sobre outras indústrias que as maiores limitações se mostram. Enquanto filmes de Hollywood são divididos em diversas categorias explicativas, incluindo algumas que parecem injustificadas (drama americano e drama psicológico, ambos falando apenas sobre filmes em língua inglesa, é um exemplo), movimentos importantíssimos como o Cinema Novo brasileiro e o Terceiro Cinema argentino, bem como tantos outros que tiveram influência a nível mundial, são tratados apenas em pequenos parágrafos dos textos das sessões genéricas sobre cinema latino, asiático e africano. Alguns (como nosso importante Cinema Marginal) sequer são mencionados. Em um livro chamado ?Tudo sobre cinema?, essa negligência é inaceitável, podendo dar uma falsa impressão de que a produção desses continentes é menos relevante do que aquelas do bloco hegemônico.
Outra deficiência marcante diz respeito aos documentários, que não ganham nenhuma sessão específica e são pouco mencionados dentro das existentes. Apenas um filme desse gênero é analisado em profundidade, e obras e diretores importantes, como Michael Moore, nosso Eduardo Coutinho (sequer mencionado) e os importantes Shoah (1985), de Claude Lanzmann, e Paris is Burning (1990), de Jennie Livingston, ficam de fora, bem como muitos outros.
Obviamente não seria possível falar sobre toda a história e movimentos do cinema mundial em apenas um livro, mas acredito que a seleção dos conteúdos abordados poderia ser bem melhor mesmo mantendo ou aumentando em poucas páginas a obra. Da forma como está, infelizmente, o livro é decepcionante, ainda que tenha seus méritos: a organização cronológica e as linhas do tempo no início de cada capítulo são bonitas e facilitam a compreensão, e os textos sobre filmes específicos são excelentes.
Para quem gosta de filmes e não tem nenhum conhecimento maior sobre cinema, pode ser uma introdução agradável, desde de que não se caia na armadilha de levar o título a sério. Mas para quem já tem algum conhecimento, é melhor ficar longe e procurar outras fontes que tragam mais diversidade e profundidade nos temas tratados.