spoiler visualizarLiandra Schug 07/09/2015
Mesmo com um enredo muito simples tem como não se apaixonar pela escrita do Capote?
Escrito por volta dos anos 50, Travessia de verão não era um romance que provavelmente o autor teria publicado (pois acreditava já tê-lo destruído), mas creio que a melhor decisão foi a de mostrar ao mundo este belíssimo e breve romance. Capote talvez ficasse encabulado pela jovialidade, simplicidade e delicadeza quase infantis que cobrem as páginas deste romance, todavia eu, particularmente, senti-me como abraçada, cumprimentada e beijada pela obra. Com certeza não é o seu melhor romance (A sangue frio deve sê-lo), porém não tiramos o crédito da linda escrita que o autor desenvolve durante toda a obra. O final é a polêmica do livro, mas chegaremos lá aos poucos.
A história se passa na Nova York pós II Guerra Mundial, o que não é tão relevante para os personagens, apenas monta um cenário concreto. Grady é uma socialite que reconhece as importâncias e relevâncias do luxo que o dinheiro poderia dar a sua vida, tem 17 anos e vai passar o verão sozinha no Plaza em frente ao Central Park. Clyde tem aproximadamente 23 anos, trabalha num estacionamento e é judeu, algo que não é algo extravagante para a história, mas penso que talvez Capote estivesse pensando em trabalhar melhor com isso de alguma forma, caso o romance não acabasse tão abruptamente. Os dois se conhecem por acaso e tem um romance envolvente e cheio de mistérios revelados de um para outro durante todo o verão e por fim se casam!, talvez por medo da perda um do outro, se fosse outra coisa não saberia dizê-lo. Não é o enredo mais criativo, porém o que conta, o que faz o romance irresistível é a narrativa cheia de suspiros ansiosos por mais.
E o fim? Aquele que amo e odeio. Aquele que não sei, não é claro e penso que, quem sabe, a obra nem tivesse de fato acabado naquele instante. A cena é esta: Grady, Clyde e seus 2 amigos são expulsos duma boate por estarem muito drogados e saem de carro... o carro ficou nas mãos de Grady, que está mais high que os outros e acelera sem piedade para morte. “Droga, você vai nos matar” diz Gump, o amigo de Clyde, e ela sem tirar as mãos do volante diz “Eu sei”. Fim. Sem mais problemas, tudo o que preocupava ficou suspenso no abismo do nunca. Capote pode também ter tido suas razões para deixar um fim como esse; ter medo do que poderia ter ocorrido ou achar que a morte, depois de uma boa dose de drogas, poderia resolver qualquer coisa. O amor estava no auge, tudo era lindo e contínuo sendo para sempre porque não houve um “fim” no amor deles, apenas um em suas vidas. Especulações aqui fluem como um rio sem termino, leia e faça suas descobertas.
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