Felipe 08/12/2022
Foster dividiu o livro em três partes. Na primeira parte discorreu sobre as disciplinas interiores, como a meditação, a oração, o jejum e o estudo. Na segunda parte abordou as disciplinas exteriores: simplicidade, solitude, submissão e serviço. Por fim, desenvolveu as disciplinas associadas, como a confissão, adoração, orientação e celebração.
A primeira parte do livro é fortemente marcada pela vida espiritual interior. Ao abordar a disciplina da meditação, o autor apresenta “o mundo interior da contemplação” (p.25) como a saída para a agitação e o barulho da vida moderna. Vale ressaltar a boa ênfase de Foster na necessidade da imaginação para a vida cristã, aspecto muito esquecido no período moderno, altamente marcado por proposições e silogismos.
As disciplinas exteriores apresentam, em minha opinião, o ponto alto da obra. Em uma cultura altamente sentimentalizada, pouco falamos de simplicidade, solitude, submissão e serviço como disciplinas.
Na disciplina da simplicidade, Foster se concentra no contentamento e em conselhos práticos de muita validade, como estabelecer que os bens devem ser adquiridos a partir de sua utilidade, não de seu status social (p.112). A solitude, talvez a mais ignorada do mundo contemporâneo, é desenvolvida como uma disciplina de descanso na soberania de Deus (p.125). A disciplina da submissão é apresentada como uma implicação da autonegação, finalizando com conselhos práticos para exercermos a submissão na vida cotidiana. O encerramento da segunda parte é realizado com a disciplina do serviço, cujo mérito está em ressaltar o valor do serviço comum e ordinário que oferecemos aos outros.
Na última parte o autor desenvolve as disciplinas associadas, onde alguns aspectos distintivos da tradição Quaker saltam aos olhos. Embora seu entendimento das disciplinas da confissão e celebração sejam saudáveis, muitos pontos são ignorados nas disciplinas da adoração e orientação.
No entendimento de Foster, a adoração é uma disciplina que está em oposição à ordem eclesiástica. Em suas palavras, “ela (a adoração) torna impertinente toda a parafernalha religiosa de templos e sacerdotes e ritos e cerimônias” (p.201). Por isso, ele defende que “Cristo é o dirigente da adoração no sentido de que só ele decide que instrumentalidades humanas devem ser usadas, caso se use alguma” (p.195). Esse é um ponto problemático que envolve o culto público. Em toda a escritura, não temos alguma margem que nos possibilite afirmar uma adoração pública sem instrumentalidades humanas.
Foster chega ao extremo da vida interior na disciplina da orientação, quando chega a dizer que os concílios eclesiásticos não fazem parte da obra de orientação corporativa do Espírito Santo (p.204). Neste campo ele demonstra a fragilidade do entendimento Quaker sobre a atuação do Espírito Santo para direcionar a igreja. Conquanto o Espírito Santo use muitos meios para conduzir a igreja, é por intermédio da Palavra de Deus que Ele a governa ordinariamente (Jo 14.26, 1 Co 1.22).
O livro de Foster faz uma grande contribuição no campo da vida cristã, principalmente ao fortalecer o resgate das disciplinas espirituais entre os evangélicos. Embora apresente alguns pontos fracos, sobretudo em sua eclesiologia, consegue cumprir o objetivo central da obra, auxiliar os cristãos na construção de uma espiritualidade mais robusta, algo raro no mundo contemporâneo. Por isso, é recomendado para cristãos que desejam desfrutar de uma comunhão mais sólida com Deus.
site: https://medium.com/@felipedsmarques-l/resenha-celebração-da-disciplina-18593e8a7587