gabi.acervodagabii 01/05/2023
Chinua achebe, considerado o pai da literatura africana moderna, nos transporta para uma nigéria pré-colonial. a partir da perspectiva do povo ibo, achebe narra de forma quase oniciente a relação das pessoas com a terra e o plantio, seus cultos aos deuses, suas relações familiares e festas tradicionais.
o livro nos apresenta okwonko, um guerreiro da tribo ibo cujo ideal é se tornar um herói. sua jornada é interrompida pela chegada do homem branco que estemece as bases da cultura da tribo, principalmente a religiosa. o clã de umuófia é guiada por rituais, superstições e vários deuses com características humanas. o colonizador chega e coloca tudo isso em xeque.
okwonko é orgulhoso e averso não só ao ócio e à preguiça, mas sim a tudo que não diz respeito a guerra e virilidade. então logo nota-se, principalmente, a repressão violenta sofrida pelas mulheres ibos. apesar deste e de outros aspectos, sabemos que não se pode julgar uma cultura diferente com valores pessoais e o tempo inteiro tive que exercitar o não-julgamento. e esta é justamente uma das propostas de achebe.
apesar de, no final, ser narrada a chegada do homem branco e o início do que viria a ser um processo de colonização, achebe constroi uma narrativa amoral, muito além do maniqueismo e da visão de algoz e vítima. o colonizador chega, impõe sua religião, usando primeiramente a manipulação, depois a força. no entanto, a tribo também tem bases patriarcais, elitistas e excludentes. então o cristianismo conseguiu erodir os costumes ibos fazendo uso da própria hipocrisia do clã e conquistando pessoas que tinham algum ponto frágil em relação às bases da sociedade ibo.
pela primeira vez, li algo tão detalhado a partir da divisão do colonizado, e não do colonizador, indo muito além do imaginário popular e do inconsciente coletivo. o livro reúne ancestralidade e tradições, combatendo a predominância da visão eurocêntrica na literatura e nos transportando para a verdadeira áfrica. muito além dos estereótipos.