Flavio Assunção 17/05/2017Demorei um pouco para escrever a resenha desse último livro da saga Apocalipse Z, em parte porque fiquei um pouco decepcionado, principalmente por esperar um fechamento que fosse à altura do primeiro volume, um grande exemplo de originalidade e tensão para livros do gênero. Infelizmente não foi o que aconteceu.
De fato, este terceiro volume começa bastante promissor. Após serem resgatados de uma tempestade, nossos heróis - o advogado, Lucía, Viktor e o gato Lúculo - chegam a uma comunidade religiosa ultraconservadora chamada Gulfport, cujo preconceito e racismo são os pilares que os mantém, utilizando de trabalho escravo e da violência sem limites. Sem outras alternativas, precisam colaborar para se manterem vivos. Ao mesmo tempo, na Coréia do Norte, único local do mundo não invadido pelos não mortos, a Inteligência do País descobre que em Gulfport está sendo produzido uma espécie de cura para pessoas infectadas, mas que ainda não se transformaram. E partem com todo um aparato militar para "conquistar", à base da força, essa regalia. No meio de tudo isso, nossos personagens favoritos passam por uma série de situações.
Como comentei, bastante promissor. O que pega, no entanto, é a previsibilidade e as saídas que o autor encontra para "salvar" os personagens. À exemplo do segundo livro, no meio de um cenário impossível, objetos e fatos improváveis surgem para que as barreiras sejam ultrapassadas. Existe uma situação extremamente desagradável perto do final do livro, que não posso falar do que se trata para não estragar a "surpresa", que é triste. Vou utilizar o mesmo exemplo que utilizei na resenha do segundo livro. É como se um dos personagens estivesse cercado por uma série de zumbis e, do nada, numa lata de lixo, é encontrada uma espingarda carregada para que ele abra caminho. São situações que tiram, ao menos para mim, o brilho da obra. Demonstra preguiça e falta de imaginação.
Outra coisa que ficou até desnecessária foi a inclusão da Coréia do Norte na história. Além dos personagens coreanos aparecem em poucos capítulos, não trazem qualquer profundidade, tornando tudo extremamente raso e sem propósito, o que fica evidente no final. A história bem poderia ser toda ela vivida em Gulfport, pois havia muito a ser explorado.
Claro, o livro tem ótimos momentos de tensão e um excelente argumento, mas o autor peca em querer criar mais do que conseguiria sem se perder e demonstrar preguiça em algumas cenas, além de ser previsível em alguns momentos.
No geral, Apocalipse Z é uma excelente série. O primeiro livro é soberbo, incrível; o segundo é mediado; e esse fechamento abaixo da média, porém aceitável. Uma trama com personagens principais muito bem construídos e um gato Lúculo - a bola de pelo laranja - extremamente cativante. O saldo foi positivo, mas fica a sensação de que poderia ser muito, muito melhor.