juliusantos 09/01/2013
Fantástico! É esse o adjetivo para o livro do Denis Russo Burgierman, O Fim da Guerra - A maconha e a criação de um novo sistema para lidar com as drogas. De todos os documentários que assisti até hoje relacionado ao tema canábis e as drogas psicoativas em geral, esse livro deixou todos no chinelo. Até mesmo o bem filmado-editado-embasado "Quebrando o Tabu", liderado por FHC - como todos sabem.
O livro é uma aula sobre leis e sistemas, sobre história, sobre medicina, sobre a indústria famacêutica, sobre política, e dentre vários outros temas, sobre maconha. É impossível não ler e não ter uma outra visão do “sistema” atual, de como os governos federais lidam com as drogas e com os usuários, de como a ingenuidade é enorme ao não separarem a maconha das outras drogas psicoativas, e mais do que tudo, de não ter uma outra visão perante aos benefícios - pois é, acredite - que a tal planta trás para milhares de pessoas.
Um ponto mais do que positivo para o autor foi ele ter ido a campo, e não ter escrito um livro baseado apenas nas pesquisas e nos documentários já publicados por aí. A experiência dele em cada um dos cinco países - Holanda, Estados Unidos, Espanha, Portugal e Marrocos - visitados é com certeza o diferencial do livro: a troca de informação com os usuários, ex-usuários, ministros, médicos, empreendedores, assistentes sociais, xerifes, etc; trás pontos de vista diferentes e que devem ser levados em consideração.
Não acreditei quando li que os coffee shops de Amsterdã estavam enfrentando uma baita de uma crise, e que vários desses negócios tiveram as portas fechadas. Mais surpreso ainda fiquei quando li que isso era decorrente da pressão e do cerco do governo local. Desconhecia o uso de canábis medicinal na Califórnia, no berço do proibicionismo, como o próprio autor ressalta; desconhecia ainda mais a tal carteirinha, que nada mais é que um “passaporte” na Califórnia para que você possa conseguir o direito de se medicar (é assim que eles falam por lá) com canábis. A ideia dos clubs em Madri, na Espanha, é ótima, principalmente pelos seus regimentos internos e pelo conceito em geral. Mas, o sistema que achei mais gostei foi o de Lisboa, em Portugal, um país extremamente católico e conservador. A descriminalização e o jeito como eles tratam os usuários, é simplesmente fora de sério. Não entendo ainda como uma pessoa, ou melhor dizendo, um governo, continua apostando e deixando o ministério da justiça resolver o problema das drogas, e não o ministério da saúde.
Há alguns meses atrás eu era a favor da legalização, mas depois desse livro fiquei meio com um pé atrás. É óbvio que a legalização só vai fazer com que muitas indústrias e empresas entrem nessa produção, visando apenas o lucro e não tendo os mesmos cuidados que os clubs e as pequenas associações de uso de canábis tem em incentivar o consumo responsável, mostrando os riscos que um uso descontrolado por vir a causar. Mas continuo a favor da descriminalização, da regulamentação e do plantio individual.
Um outro ponto que eu não conhecia e que fiquei fascinado é sobre o sistema endocanabinoides. Imagine só você contar a uma pessoa que ela tem várias células maconheiras? rsrs Pois é. Pra minha surpresa a maconha é formada de vários canabinóides, como o famoso THC e o CDB; e nosso cérebro tem vários “receptores” que liberam substâncias químicas quando eles se encaixam. Claro que esses receptores não estão lá só esperando alguém fumar pra que eles possam ter alguma utilidade, e é aí que entra o sistema endocanabinoide, onde se descobriu que o corpo humano tem substâncias similares com as da maconha, como o CB-2, existente no sistema imunológico agindo na proteção contra invasores.
O livro é foda, mostra como muitos países, governos e políticos manipulam as coisas para se manterem no poder. Deixa claro como os governos passam a mensagem certa (que é a errada), e ocultam a mensagem errada (que é a certa, a que está dando resultados nos outros países).