Veneella 18/05/2014Lindo, melancólico e eternamente fascinanteComo falar de um livro de um livro como esse, que evoca melancolia só de pensar no título? Por que durante toda a leitura eu sabia o que aconteceria no fim, e isso cobriu até os momentos mais lindos de uma atmosfera triste e saudosista. A escrita de Jodi, cadenciada e até mesmo delicada, só ajuda a reforçar essa atmosfera misteriosa, mágica e triste.
“Deixe-me dizer uma coisa de uma vez. Essa é uma história de amor, mas não como nenhuma que você já tenha escutado. O garoto e a garota estão longe de serem inocentes. Vidas queridas estão perdidas. E o bem não vence. Em alguns lugares, em última analise, existe alguma coisa boa em finais felizes. Em Neverland, esse não é o caso.”
pág.3
O livro é narrado por Tinkerbell (Sininho) em primeira pessoa, uma criaturinha peculiar, incapaz de dizer uma palavra, mas que observa tudo e nos conta cada pedacinho da história. Achei esse detalhe incrivelmente adorável, pois Tinker é uma personagem deliciosamente engraçada e possui uma sabedoria que ninguém imaginaria pertencer a uma fadinha travessa. Faltaram marcadores coloridos para as reflexões e quotes lindos espalhados pelo livro.
Em Tiger Lily, temos um romance construído de forma mágica e peculiar. Peter e Tiger se apaixonam em meio a aventuras em terras selvagens e perigosas, embalando um amor ingênuo com suas personalidades fortes e explosivas. Em muitos momentos vemos essa vulnerabilidade dos Meninos Perdidos, e até mesmo de Peter, o que quebra de forma surpreendente a perspectiva de que eles eram “safos” e jamais desejariam sair da Terra do Nunca. A autora fez um trabalho maravilhoso desmistificando esses personagens e os tornando mais humanos, mostrando que todos sentem medo e querem ser protegidos em algum momento e que até os mais fortes ficam assustados.
Por um outro lado, é possível ver uma crítica à imposição de costumes e crenças. Quando os ingleses encontraram a Terra do Nunca, eles se empenharam em instaurar sua cultura e suas crenças como a única verdade, o que levou a uma quantidade de eventos infelizes. Isso me levou a refletir muito sobre o nosso estilo de vida. Quem sou eu para dizer como uma pessoa deve viver?
“Eu não sou estranho ao seu amor por causas perdidas, querida. Mas você precisa ser cuidadosa com as pessoas que você conhece” ele disse, fumando o cachimbo, pensativo. “Você não pode desconhecê-los”
pág.11
Por fim, temos a valente e misteriosa Tiger Lily em si. Uma personagem forte, cativante e inteligente, que sempre se sentiu deslocada. Uma alma feroz e selvagem demais para ser compreendida, até que encontra uma alma parecida e se apaixona, mas seu destino nunca foi simples. Tinker é uma das únicas que consegue desvendar ao menos parte do que se passa na cabeça da protagonista, e serve de intérprete ao leitor. Apesar de todas as suas características marcantes, Lily é introspectiva e misteriosa, e mantém seus segredos até o fim do livro.
“Ainda assim, quanto mais eu ficava ao redor dela, mais eu podia ver as cores da sua mente e os recessos de seu coração. Havia uma fera ali. Mas também havia uma garota que tinha medo de ser uma fera, e que se perguntava se outras pessoas também tinham feras em seus corações. Havia força, e também a determinação de parecer forte. Ela guardava a si mesma como um segredo.”
pág.21
Já nunca fui fã da Wendy, e a detestei ainda mais depois de ler. Tiger Lily é um livro lindo, tocante e triste. É sobre amor, amizade e força, e sobre finalmente se encontrar. Eu chorei horrores no final e tive a certeza de que jamais assistiria Peter Pan da mesma forma. É impossível não ter carinho por essa história tão cativante, mesmo que triste. Mesmo envolto em melancolia, sei que sempre pensarei nesse livro com carinho.
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