Cynthia 20/06/2012O Reino de Milian - Pamela ChrisMilian era um reino de beleza única, que agregava povos distintos que se misturavam entre cantores, sonistas e dançarinos. A alegria e a festa que chegava ao reino se intensificou ainda mais com a chegada de uma criança muito esperada, vinda do ventre da Rainha Sara, como um presente do Cavaleiro de Prata. Contente com a chegada de uma criança, o Rei Ricardo festeja e demonstra, com um sorriso de imensa satisfação, a sua alegria e a alegria que trará a Milian. Junto de Ricardo, os três representantes dos outros reinos que compunham Milian, Mateus, do reinos da Dança, João, do reino do Canto, e Carlos, do reino do Som, deveriam se sentir tão satisfeitos quanto o Rei pela chegada da criança. Por mais que todas as expectativas apontassem para o contrário, levando em consideração a impossibilidade de gerar uma criança que até então dominava a Rainha, um novo herdeiro do trono de Milian chegou ao mundo.
Na impossibilidade de existir um herdeiro vindo do sangue da realeza, Milian seria governada por seus três representantes. Abatidos pela possibilidade de terem seu governo ameaçado por uma simples criança, tomados pela inveja e convencidos pelo ardiloso Carlos, os três representantes armam um plano para tomar Milian e ter, cada um, domínio total de seu próprio reino.
É a partir desse momento que, de fato, começa a história de Ana, uma jovem negra de olhos claros, criada no Reino da Dança sob a guerra que já alguns anos afeta Milian. Com seu jeito caridoso e simpático, essa personagem consegue cativar não apenas os/as leitores/as, mas também David, um príncipe do Reino do Som que foi enviado pelo Cavaleiro de Prata em uma missão para devolver Milian ao seu herdeiro original, que acredita-se ainda estar vivo. Com a companhia de outros amigos, como Aline e Lucas, os jovens embarcam nessa aventura para trazer de novo a paz aos três reinos e unir Milian como há muito não acontecia.
Sem dúvida, O reino de Milian é um livro carregado de histórias fantásticas e fantasia, construindo aos poucos o imaginário da autora dentro das páginas do romance. Em todos os pontos, fiquei encantada com a proposta do livro e com a história criada por Pamela Chris. No que diz respeito à criatividade e à capacidade de passar para as páginas de papel um reino inteiro, não apenas com seus heróis e vilões, mas também com sua graça e beleza, sua complexidade, seus costumes, vestimentas, entre outras coisas, eu me senti admirada. Dificilmente me encanto com histórias muito fantásticas e, na maior parte das vezes, vejo uma certa dificuldade de novos/as autores/as em conseguir criar isso tudo: um mundo completamente novo, e incorporar pontos e peculiaridades que enriquecem a história.
Sim, é uma história que me encantou do começo ao fim. Infelizmente, não é apenas de histórias que se vive um romance. Cheguei a ter a impressão de que o livro não passou sequer por um único estágio de revisão, possuindo erros gritantes ao longo da leitura. Não apenas em relação à diagramação (como bem aponta também a Tamires, do blog Gaveta Abandonada), pois muitas vezes não há espaço de separação entre uma parte da história e outra, dando uma impressão errada de continuidade, mas também erros ortográficos aparentemente simples, mas que passam despercebidos no momento da escrita. Creio que seja uma falha muito maior da própria editora, que se dispôs a publicar o livro, do que da autora. Se não houve esse trabalho prévio de edição e revisão, eu diria que se trata muito mais de apenas uma gráfica do que uma editora de verdade. Digo isso porque, se compararmos com o trabalho fantástico que foi o livro Terra Ardente, da Janice Diniz, publicado pela mesma editora, é possível ver que o trabalho de editoração mesmo fica mais por conta de quem escreve do que de quem publica. Eu acredito que, quando alguém se dispõe a publicar um livro enquanto EDITORA, esse trabalho é fundamental, e pegar livros na livraria no estado em que estava O Reino de Milian, é tirar completamente a própria credibilidade e acabar se passando apenas por reprodutora de páginas.
No entanto, também verifiquei algumas falhas da autora. Havia muitos buracos na história, algumas informações que pareciam faltar no enredo para dar aquela ideia de continuidade e que também atrapalham um pouco o entendimento. Também reparei alguns desencontros de informações e descrições como, por exemplo, a cor dos olhos de David, que em um momento diz que são bem claros, depois diz que são negros. A cor da pele de Ana não está clara no início, no começo imaginei, sim, uma mulher branca pela descrição dos olhos claros, depois descubro que ela é negra. Claro que, depois, isso ficou mais acertado, mas no início da leitura me causou uma certa confusão.
Quanto aos recursos linguísticos e literários, reparei um excesso de metáforas e comparações, junto com uma falta de um estilo próprio e sólido de escrita. Falta explorar um pouco mais as possibilidades que se criam com o uso da palavra. Há uma predominância da ordem direta das orações, com um texto excessivamente comportado e, muitas vezes, repetitivo. Parece que a autora não explora muito o seu potencial de escrita, o que me remeteu muitas vezes ao estilo de um livro infantil, em que todas as ações precisam estar escritas de forma clara, direta e, sim, às vezes repetitiva. O que, na minha opinião, não era a intenção da Pamela, mais do que um livro apenas infantil, "O Reino de Milian" pode ser lido principalmente por jovens e adultos. Mais um ponto que me gerou um certo incômodo foi a forma como ela alterna o uso da segunda pessoa com o tu e você. Acredito que, para criar o clima de reino e castelo, ela procurou usar uma linguagem mais formal nas falas, mas não faz isso com continuidade, alterando muito e não mantendo um certo padrão.
Apesar das críticas, acredito que seja um livro que mereça atenção. É uma história bonita, envolvente e que possui um grande potencial para se tornar um livro altamente recomendável. Falta ainda um trabalho profundo de edição, revisão, reescritura (apenas para eliminar os desencontros da história) e uma editoração de verdade, mas, ainda sim, fiquei feliz de poder conferir essa história no book tour organizado pela autora e imaginar como seria viver em um reino como Milian.
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