Resenhas - O Adversário

Lys Coimbra 12/02/2016

Estarrecedor
"O adversário" é a história real de Jean-Claude Romand, um dos assassinos mais conhecidos da França, o homem que mentiu durante 10 anos para a família, os amigos e toda uma comunidade que era médico pesquisador da OMS. Antes disso ele enganou todo o seu círculo social, por aproximadamente 8 anos, acerca do curso de medicina, do qual concluiu apenas os dois primeiros anos.

Em 1993, perto de ser desmascarado, ele chacinou a família inteira - os pais idosos, o cachorro da família, a esposa e dois filhos pequenos - e depois incendiou a própria casa. Durante o relato da história do "Dr. Romand", Carrere levanta suspeitas de que ele também teria sido responsável pela misteriosa morte do sogro, alguns anos antes.

Emmanuel Carrere escreveu o livro com base nas investigações policiais que apuraram o caso e nas entrevistas concedidas pelas pessoas envolvidas com o falso médico e pelo próprio acusado.

Em busca de "mostrar a sua verdadeira história", Romand se mostrou animado para contar a Carrere a sua versão sobre todos os fatos e se declarou aliviado pelo fato de que já não precisava mais mentir para todos aqueles que o cercavam.

Cada detalhe dessa história é realmente estarrecedor, as motivações do assassino são as mais torpes, mas me impedirei de revelar mais detalhes para não tirar o fator surpresa daqueles que se interessarem pela leitura, pois, embora este seja um dos casos policiais mais famosos da França, até ler "o adversário" eu não tinha ideia das nuances dessa trama monstruosa.

A curiosidade acerca de detalhes não abordados no livro é inevitável e me peguei fazendo muitas pesquisas que me revelaram mais detalhes sobre o caso. Encontrei bastante coisa e me surpreendi ainda mais.

Jean-Claude Romand foi condenado à prisão perpétua, com direito ao pedido de indulto a partir de 2015. Não encontrei notícias de que tenha sido concedida liberdade condicional ou indulto. E mesmo que tenha se passado mais de vinte anos da condenação e que ele tenha se tornado um "prisioneiro modelo", espero, do fundo do coração, que a justiça francesa o mantenha preso até os seus últimos dias.

Invasão Bárbara 05/11/2023

O Adversário
O livro conta a vida do Jean-Claude Ramond que, em 1993, matou a tiros os pais, os dois filhos pequenos e a esposa; quase assassinou a amante e falhou na tentativa de cometer suicídio.

Poderia ser a biografia de um psicopata qualquer, porém, essa história é complexa e cheia de camadas.

Ramond foi criado sozinho nos bosques franceses e seu sonho era ser guarda florestal. Mas suas notas eram ótimas e a família começou a colocar altas expectativas sobre o menino. Então, ele entrou no curso de medicina.

Porém, após perder uma prova, teve a matrícula cancelada. Pela falta de tato social e medo de decepcionar aos familiares e amigos, mentiu que tinha passado e estava tudo bem. Desde então, ele frequentou a universidade nos anos seguintes assistindo às aulas - e faltando nos dias dos exames -. Fingiu ter se formado e conseguido um emprego como pesquisador na Organização Mundial da Saúde.

Casou-se, teve filhos e era um membro ativo na comunidade. Sua fonte de renda vinha de pessoas próximas que lhe confiavam altas somas de dinheiro para que fossem depositadas em bancos de outros países e assim rendessem mais para suas aposentadorias. Ninguém se preocupava em pedir comprovantes, afinal, Ramond era um homem acima de qualquer suspeita.

Pela personalidade amena e previsível, por 18 anos (!!!) as mentiras do Jean-Claude passaram desapercebidas. Ele próprio ficava pasmo com o fato de não ser descoberto.

No final de 1992, se envolveu numa discussão de pais e professores, algo bobo sobre a troca do diretor da escola. Todos eram a favor da decisão e ele, o único contra. A briga durou dias e um outro pai resolveu ligar para o Ramond no trabalho, para argumentar novamente, e essa foi a primeira vez que alguém soube que nunca teve um Jean-Claude Ramond na OMS.

Desesperado, Ramond tirou a vida de todos os seus familiares antes que eles soubessem da verdade.

O escritor Emmanuel Carrère assistiu ao julgamento e conversou com o Jean-Claude, pessoalmente e por correspondência, para escrever essa biografia.

Para encerrar, eu diria que esse livro, mais do que uma obra narrando um crime, é um estudo sobre a solidão.

site: https://www.instagram.com/invasao_barbara/

Gláucia 18/03/2016

O Adversário - Emmanuel Carrère
Publicado em 1999 foi baseado no tenebroso caso Romand ocorrido na França em 1993. O autor, assim como Truman Capote, conseguiu a história do próprio Jean-Claude Romand que matou a esposa, os filhos de 5 e 7 anos, os pais idosos mais o cachorro deles, tentou mas desistiu de matar a amante e sobrevivou ao incêndio de sua casa junto com o corpo dos familiares. Durante o inquérito descobriu-se que ele por 18 anos enganou amigos e família, se passando por médico (estudou até o segundo ano) pesquisador ocupando uma alto cargo na OMS.
Carrère ficou extremamente impressionado e quis obter a versão de Romand, a fim talvez de tentar entender o incompreensível. É bom mas não chega a ser hipnotizante como foi pra mim a narrativa de "A Sangue Frio".

Daniela.Orlandi 29/03/2020

Leitura interessante
Um mergulho curioso na intrigante história de Jean-Claude, que viveu por mais de 18 anos uma vida baseada em mentiras e usurpações, até elas o consumirem a ponto de assassinar seus familiares e tentar suicídio.
A narrativa, que segue o viés do jornalismo literário, deixa-se mesclar entre os pensamentos do autor, das construções acerca da visão de Jean-Claude e dos fatos comprovados. É clara a dificuldade que Emmanuel Carrère teve ao construí-la, expondo sua opinião diversas vezes e deixando o projeto de lado algumas outras, pois se encontrou perdido em dilemas éticos e morais - afinal, dá voz a um assassino.
Uma vez imerso no fluxo narrativo, o leitor pode se pegar pensando que está diante de uma ficção, mas as digressões do autor sobre o que se passa durante o julgamento e o desfecho da obra, no qual são expostas correspondências entre ele e Jean-Claude, e relatos de pessoas próximas a esse durante seu período em cárcere, trazem de volta o tom de realidade.
Uma leitura muito interessante, em alguns momentos apelativa, mas que se sustenta de forma envolvente. No final, deixa o leitor reflexivo, uma vez que tem conhecimento de todos os fatos, mas também da história, motivações e pensamentos do, antes de assassino, indivíduo Jean-Claude.
No entanto, por vezes, há uma certa confusão sobre o que está acontecendo ou de quem é determinado ponto de vista, devido à disposição de certas digressões.
No geral, recomendo a obra.