Robson 03/12/2010
Talvez a melhor e mais complexa obra de Shakespeare!!!
Rei Lear, considerando-se velho e cansado, decide dividir seu reino entre suas três filhas: Regan, Goneril e Cordélia. Pede a cada uma que declare o seu amor pelo pai. As duas primeiras respondem com todo tipo de adulação, dizendo que amam apenas o pai; e Cordélia, apoiando-se numa sinceridade completa, flagra a contradição das irmãs e diz: “Por que se casam as manas se dizem / Que só amam a vós? Quando eu casar-me / O que me tomar a mão há de levar / Consigo meio amor, dever, cuidados; / Não me caso por certo como as manas / Para amar só o pai”. O rei se irrita com a resposta e a renega, tirando dela toda a herança. O conde de Kent fica ao lado da jovem, contra a atitude intempestiva do rei. Ele, que é fiel ao rei, também é expulso do palácio.
Cordélia vai para a França, onde se tornará rainha, mesmo sem ter nenhuma herança, nada. As irmãs também se casam – Regan com o duque de Cornwall e Goneril, com o duque de Albany –, cada uma tendo para si a metade da Inglaterra. Aos poucos, as duas vão se negando a acolher o pai e seus cem cavalheiros. O enredo agrega novos personagens, como o Conde Gloucester e seus dois filhos, Edgar e o bastardo Edmund. Edumund também trama contra seu irmão, para ficar como único herdeiro. E joga o pai contra o filho legítimo.
Edgar, instigando maldosamente pelo irmão, foge. Edmund, ainda não satisfeito, passa a tramar agora contra o próprio pai. “Shakespeare manipula magistralmente os enganos dos dois pais em relação aos seus filhos, o que traz a desgraça para ambos”. O rei perambula ao lado do conde de Kent, que reaparece disfarçado de Bobo (criação magistral do escritor) para poder ajudar Lear, sem que ele saiba, e depois com Edgar, também disfarçada de louco. As cenas dos três são delirantes, com as falas de Edgar, entre o humor e o lirismo.
O destino dos personagens é trágico: Lear enlouquece; Kent é preso; Gloucester, traído pelo filho bastardo, tem os olhos arrancados; Cordélia, que tenta ajudar vindo da França, morre; as duas irmãs se matam mutuamente. “Os abalos da família, que causam tormentos da natureza e do estado, fazem também Rei Lear terminar com a recuperação do equilíbrio do reino pelas mãos de Albany, o genro que se revolta contra a crueldade e a traição da mulher, e de Edgar, que se dedica com imenso amor ao pai, que o repudiou”.
O que impressiona na obra é a transformação dos personagens que perdem tudo que os distinguia na sociedade, como o próprio rei, que termina só e louco. “Agora cada um não é mais que uma sombra de si mesmo. Apenas um homem”.