John 30/11/2023
Por que me calar, se já não tenho nada a perder?
Há aproximadamente 10 anos tentei ler Incidente na época de colégio, felizmente não consegui, creio que não teria a experiência que tive atualmente e não saberia aproveitar toda critica social que ele traz. O livro traça o panorama desde o surgimento até seu "desenvolvimento" , se assim podemos chamar, da cidade de Antares: uma cidade fictícia e pequena situada às margens do rio Uruguaia. neste local vemos todo um conjuntos de personagens da época, coronéis autoritários e relutantes com o progresso e mudanças de costumes, esposas entediadas com seus casamentos e traições, solteironas mexeriqueiras, bêbados, estudantes, etc.
A historia vai acompanhando a rivalidade de grandes famílias locais, os Vacarianos e os Campolargos, até o dia do fatídico incidente que é: devido a uma greve geral, inclusive de coveiros, sete mortos ficam insepultos, e por forças desconhecidas eles levantam de seus caixões e descem a cidade em busca do direito de serem enterrados. O interessante dessa descida é que eles já não tem o que perder, então para fazerem valer o direito de serem sepultados causam uma verdadeira desordem na cidade contando a todos que quiserem ouvir os podres e segredos sórdidos de todas as pessoas da cidade.
Além de divertido, traça uma critica social que até os tempos atuais se faz valer com temas corrupção, truculência de autoridades, hipocrisia, adultério, etc
Segue um trecho que achei bem interessante e digamos atual, onde um padre conversa com um cidadão Antarense sobre o delegado da cidade:
" -- Só Deus sabe, meu filho"
-- Padre, enquanto Deus não nos disser claramente o que Ele pensa de tudo isso, nós deveríamos em nome de Cristo, que era e é deste mundo, combater tipos como Inocêncio Pigarço, que matam em nome da Justiça do Capitalismo, do Comunismo, do Fascismo, da Família, da Pátria e (não ria!) até mesmo de Deus!" Érico Veríssimo, Incidente em Antares, página 394