Beatriz

Beatriz Cristovão Tezza




Resenhas - Beatriz


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Alê | @alexandrejjr 16/03/2022

A maleável vida da ficção

Cristovão Tezza se define como um “não contista”. Mesmo assim, um dos grandes escritores brasileiros contemporâneos resolveu voltar ao gênero neste bem resolvido “Beatriz”, seu segundo livro de contos, lançado em 2011.

Composto por um prólogo e sete histórias, “Beatriz” é o universo expandido do claustrofóbico e singular romance “Um erro emocional”. Expandido não no sentido burlesco que hoje é atribuído às grandes produções de entretenimento hollywoodianas, por exemplo, mas sim porque possui as mesmas personagens da empreitada romanesca de Tezza. São nessas narrativas breves - seis delas, pelo menos - que nós, leitores, podemos vislumbrar o intenso processo criativo do autor. Por isso, aos contos.

De cara duas narrativas se destacam: “Beatriz e a velha senhora” e “Um dia ruim”. Na primeira, a musa ficcional de Tezza passa por uma situação inusitada ao ser contratada por uma idosa que guarda um segredo. O conto, escrito numa pegada que emula um suspense de Edgar Allan Poe com o mote “eu não queria saber, mas soube” que dá vida aos romances de Javier Marías, é muito satisfatório, talvez o meu preferido do livro. Já o segundo conto mostra o olhar agudo do ficcionista para perigos reais: em uma narrativa que traz à tona um problema cada vez mais latente em nossa sociedade, Tezza coloca sua Beatriz novamente em (possível) perigo diante de, ora, ora, um idoso que quer contratar os serviços dela de revisora textual para um material que, iremos descobrir, é de teor revisionista e neonazista. Quem diria que o escritor catarinense radicado em Curitiba acompanharia no Brasil, anos depois, um governo colocar na secretaria da Cultura um sujeito que parafraseou Joseph Goebbels, braço direito de Adolf Hitler. Nem a ficção conseguiu ser tão surreal quanto a realidade…

Mas voltemos aos contos. Dois deles são protagonizados por Paulo Donetti, escritor idealizado por Tezza que sustenta a outra metade de “Um erro emocional”. No primeiro conto em que Donetti aparece, “Beatriz e o escritor”, Tezza faz uma espécie de anedota cáustica sobre a peculiar vida de quem sobrevive de histórias. Além disso, esse texto é claramente a semente do romance que ele posteriormente escreveu. Já no simples “A viagem”, acompanhamos mais devaneios de Donetti - ou seria de Tezza? - sobre as agruras dos escribas contemporâneos.

A trinca formada por “Aula de reforço”, “Amor e conveniência” e a novela “O homem tatuado”, todos protagonizados por Beatriz, contribuem substancialmente para tirar brilho do competente trabalho de Tezza, não por serem maus contos, e sim por permitirem que eu, em algum momento durante a leitura, os perdesse por desinteresse.

Dotado de um ritmo singular e uma linguagem claramente madura e segura de si, Cristovão Tezza mostra, mais uma vez, que é um mestre na arte de transformar o banal em literatura. É através da maleável vida da ficção que o autor catarinense ganha os leitores ao apresentar textos dotados de um esmero técnico impecável, ainda que fracos de fabulação. Ouso dizer, inclusive, que ninguém escreve como ele no Brasil das letras contemporâneas. OK. Posso aceitar a possibilidade de ainda não ter me deparado com outros escritores que também possuem um projeto estético tão robusto quanto o de Tezza. Mas o que importa no fim é isto: o convite. Então, que tal se aventurar pelos contos?
dani 16/03/2022minha estante
Ainda não li nada dele. Obrigada pela recomendação!


Alê | @alexandrejjr 17/03/2022minha estante
Vale a pena, Dani! Ele tem um cuidado milimétrico na hora de escolher as palavras, na maneira de ordenar as frases, ao encaixar a pontuação... é uma delícia ler os textos dele justamente por sabermos que vão estar bem escritos!


JurúMontalvao 17/03/2022minha estante
convite aceito?


skuser02844 21/05/2023minha estante
Alê, aquele vídeo do brother copiando Goebbles!!! Rs. Esses episódios obscenos da política brasileira comprometem meu senso de realidade, eu fico um tempo até digerir como fato concreto da existência. Rs
E, assim, foi mais que uma paráfrase (é que você é muito elegante). Rs
Volta e meia, com esses incidentes neonazistas, me lembro daquele ótimo filme "A onda", vc já viu? Acho que ia gostar. ?


Alê | @alexandrejjr 21/05/2023minha estante
Oi, Julia! Agradeço pela gentileza de comentar por aqui. E sim, ja vi "A onda" e acho um filme formidável!! Um dos meus filmes alemães favoritos!


skuser02844 21/05/2023minha estante
Acho formidável também, Alê! ?




Beatriz 07/07/2013

Leveza sublime
Peguei esse livro na biblioteca, por conta de seu título, afinal nunca havia encontrado um livro que fosse meu xará. A capa simples não chama a atenção, mas o conteúdo é incrível. Novamente, reforçando a ideia de não julgar o livro pela capa. Os dois personagens que permeiam as sete histórias curtas do livro são Beatriz e Paulo Daonetti, dois envolvidos com a arte da escrita, ela uma revisora de textos e ele um escritor. As histórias se entrelaçam de forma sutil, sem ficar obvio, mas também não imperceptível.
Meu conto favorito é com certeza o ultimo. "O Homem Tatuado" conta o encontro de Beatriz com um jovem, herdeiro de um sebo, com tatuagens intrigantes que cobrem todo seu tórax.
Um livro leve, gostoso de ler. Mais uma prova da alta qualidade da maravilhosa (e quase ignorada) literatura brasileira.
Aline164 15/04/2014minha estante
Encontrei esse livro por acaso, em uma "estante pública" para quem quisesse pegar. Fiquei mais interessada em ler agora que sei que a Beatriz é revisora de textos (entre outras coisas, também sou revisora).




Paula 03/11/2013

Beatriz
Acho que fiz as pazes com o Cristovão Tezza nesse livro. Explico: quando li o tão aclamado O Filho Eterno, eu não consegui me encantar pelo autor. Não sei se foi o momento certo para ler o livro, mas não gostei. Quando encontrei Beatriz em uma promoção da fnac, decidi dar mais uma chance ao escritor depois de ler o prólogo do livro ainda na livraria.

Beatriz é um livro composto de setes contos e um prólogo, e nesse prólogo, que o próprio autor diz ser coisa ultrapassada, mas que eu achei excelente, ele explica um pouco o livro e se aproxima do leitor, pois é quase uma conversa. Tezza diz que não é muito bom em contos, explica um pouco as diferenças entre o conto, o romance e a novela; reconhece que o público leitor é formado em sua maioria por mulheres (sim, estatisticamente comprovado que as mulheres leem muito mais) e diz que o livro surgiu de várias tentativas de compor uma personagem, a Beatriz, que inicialmente foi pensada como Alice. Achei interessante ver esse processo de criação no decorrer do livro e a personagem cresceu tanto que acabou virando personagem de um outro romance do autor, se não me engano, Um Erro Emocional. Não sei qual dos dois livros foi publicado primeiro, mas nesses contos vemos uma personagem que precisou ter mais vozes, vivenciar mais histórias.

Os três primeiros contos não me cativaram, confesso, e já estava pensando que tinha sido uma bobagem comprar o livro quando os contos começaram a melhorar, e foram crescendo até chegar ao último conto, O Homem Tatuado, que foi o que mais gostei. Parando para analisar o prólogo e esse crescente que foi o livro, terminei com uma boa impressão de Beatriz. Não é um livro perfeito, porque metade foi interessante, metade não, mas para quem se interessa por esse processo criativo dos escritores, acho que pode ser uma boa leitura. É, talvez eu tenha feito as pazes com o Tezza. Veremos.

Cristovão Tezza. Beatriz. Rio de Janeiro: Record, 2011.

site: http://pipanaosabevoar.blogspot.com.br/2013/11/beatriz.html
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Selennie 02/09/2020

Marcante?
Diferente do normal, os contos aqui são quase todos sobre a mesma personagem. Mas bem aleatórios.
Não me empolguei muito da primeira vez que li, mas por alguma razão sempre me lembro dele e marcou um antes e um depois em todos os contos que li.
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Liz 15/02/2012

Desafio literário 2012 - Fevereiro (títulos com nomes de pessoas)
" - Escritores não são boas pessoas. O que me intriga é que os milhares de leitores que ainda restam no mundo, como vocês, essas almas bem-intencionadas aí na platéia me ouvindo, não se apercebam dessa verdade simples e universal. Não satisfeitos em apenas ler os livros que escrevemos, querem também nos ouvir falar, fazem filas atrás de autógrafos, e alguns nos escutam com a adoração que se tem aos santos e aos sábios. [...]"

Uma pequena coletânea de contos com histórias paralelas de Beatriz, uma personagem que aparece em outro livro do autor, "Um erro emocional". Há também uma certa participação especial de outro ser deste livro, o escritor Paulo Donetti. É um livro pequeno, somente sete histórias; e não são nada excepcionais, mas eu gostei de todas. São até meio simples: em praticamente todos a personagem do título, alguém dependente da rotina, se encontra numa situação curiosa e diferente.

Um dos principais motivos de eu ter gostado do livro foi por causa da professora, que é nada mais que um ser humano comum desse século. Beatriz é bonita e jovem, mas não tem grandes preocupações na vida além de seu trabalho. Ela é um pouco tímida e tem medo de sair da zona de conforto, algo muito frequente em praticamente todos, inclusive eu.

E os contos são bem legais de serem lido, a escrita de Tezza não é complicada, como pensei que seria. É bem fluida, apesar de várias vezes confundir a narração com divagações e diálogos imaginários na cabeça da personagem. Às vezes pontuações são ignoradas e um parágrafo ocupa uma ou duas páginas inteiras, mas nem por isso a leitura fica complicada, pelo contrário, achei até mais divertido.

Não sei se entreternimento é o que Tezza pretende ao escrever seus livros, mas eu me diverti bastante lendo "Beatriz", e pretendo ler algum dia (não em breve, porque há tantos outros pendentes...) "Um erro emocional" e saber mais do relacionamento dos dois personagens que tanto me cativaram.

Resenha completa: http://bit.ly/z08fZS
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 19/05/2012

Cristovão Tezza - Beatriz
Editora Record - 144 páginas - lançamento setembro de 2011

Cristovão Tezza nasceu em Lages, Santa Catarina, em 1952, é conhecido do grande público pelo seu romance O filho eterno que ganhou todos os maiores prêmios literários brasileiros em 2008: Jabuti de melhor romance, Portugal Telecom de Literatura e Prêmio São Paulo de Literatura de melhor livro do ano.

Neste seu último livro, Tezza que se define como um "não contista", arrisca neste gênero, mas com uma particularidade: todas as sete narrativas têm um fio condutor em comum, a personagem Beatriz que foi protagonista do romance Um erro emocional de 2010. Outra característica interessante deste lançamento é o prólogo, recurso pouco utilizado atualmente, em que o próprio autor explica as motivações e estrutura do livro, além de discorrer sobre as diferenças entre o conto e romance.

Todos os contos estão relacionados direta ou indiretamente ao trabalho do escritor e ao ambiente literário, seja na função de revisora de texto, professora ou amante de um jovem tatuado que é herdeiro de um sebo de livros, Beatriz está sempre associada às relações entre leitor e autor. A motivação para a criação do livro, ainda segundo o próprio Tezza foi a sua participação em uma mesa-redonda em Curitiba particularmente desagradável e transformada em ficção no primeiro conto de Beatriz:

"Fiz um silêncio retórico e dei um gole de água daquele copo horroroso de plástico com uma certa pose episcopal, para sentir a temperatura da platéia de Curitiba, que eu desgraçadamente desconhecia; a cidade parece que tem uma inexplicável fama de culta. Ao lado, meu parceiro de mesa (o nome me escapa), um simpático romancista municipal e professor universitário que tentava segurar o riso, talvez por imaginar (ele não me conhece), vítima daquele tipo de respeito semiformal ao outro que é a marca da província, que eu falasse a sério, e que uma gargalhada poderia ser ofensiva ao visitante. E então, súbito, eu senti o silêncio gélido da platéia (...)".

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Paulo Sousa 11/08/2018

Beatriz, de Cristóvão Tezza
Livro lido 1°/Ago//38°/2018
Título: Beatriz
Autor: Cristóvão Tezza (BRA)
Editora: @grupoeditorialrecord
Ano de lançamento: 2011
Ano desta edição: 2013
Páginas: 144
Classificação: ??????
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"O leitor é crédulo ? acredita no que está escrito e acredita nos que escrevem. Os que escrevem têm 'o dom'. É aí que fazemos a festa" (Posição no Kindle 149/9%).
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Já faz algum tempo que li "O filho eterno", considerado talvez a melhor obra do escritor curitibano Cristóvão Tezza. E de fato é um livro muito bom e baseado no drama real de como é ser pai de uma criança portadora da Síndrome de Down.
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Por acaso, topei com Beatriz: são sete contos, e em cada um deles acontece basicamente o encontro de Beatriz, revisora e professora particular de português, jovem e divorciada, com um personagem diferente, em situações diferentes. Sempre, no entanto, existe um elemento que torna o encontro um tanto estranho, como se para torná-lo digno de ser contado. Em Aula de reforço, ela é contratada por uma mãe super-protetora e com segundas intenções para dar aulas de português para um adolescente; em Beatriz e a velha senhora ela acaba por escutar a confissão de um crime; em Um dia ruim ela é contratada para revisar um trabalho de cunho racista escrito por um velho, que acaba morrendo quando ela chega na casa dele. Com isso já se pode ter uma ideia do inusitado de algumas situações. Os sentimentos despertados também se alternam, sendo que se as vezes as coisas parecem muito engraçadas, em outras tudo é muito terrível. Outras vezes, como em O homem tatuado, há um lirismo sutil, que empresta uma espécie de alegria melancólica ao conto.
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O resultado, no entanto, não é mau. Eu diria até que fica bastante próximo dos romances, com as mesmas qualidades e alguns defeitos, coisa que não tira o valor da obra. Gostei particularmente do primeiro conto, Beatriz e o escritor, e de O homem tatuado, principalmente por retratarem não só os ditames porque os escritores passam como a própria relação do leitor com o livro. O prefácio é outro elemento que ajuda a deixar o livro com um tom mais interessante.
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