Carla Verçoza 05/02/2021
Releitura de um favorito da adolescência, numa edição velha, comprada nos anos 90, já está toda com as páginas soltas, mas não tenho coragem de me desfazer.
Augusto dos Anjos escolheu temas difíceis, nada de termos agradáveis, fez poesia sobre escarro, estrume, aborto, vermes, podridão, doença, morte. Adoro.
ETERNA MÁGOA
O homem por sobre quem caiu a praga
Da tristeza do Mundo, o homem que é triste
Para todos os séculos existe
E nunca mais o seu pesar se apaga!
Não crê em nada, pois, nada há que traga
Consolo à Mágoa, a que só ele assiste.
Quer resistir, e quanto mais resiste
Mais se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga.
Sabe que sofre, mas o que não sabe
E que essa mágoa infinda assim não cabe
Na sua vida, é que essa mágoa infinda
Transpõe a vida do seu corpo inerme;
E quando esse homem se transforma em verme
É essa mágoa que o acompanha ainda!