debora-leao 11/04/2024
Essa leitura eu decidi não esperar para resenhar. Acabei de terminar o livro e estou impactada, olhando para o teto, precisando disso aqui para ter fechamento em mim.
De início, naquela fase de ambientação com o universo possuímos quando começamos um novo livro, eu não senti que havia tanta ficção científica no livro, mas sim horror. Que é, combinemos, justamente o sentimento que um ambiente inóspito, solitário e caótico que pode ser uma grande cidade abandonada pós-apocalipse gera.
A questão vampírica me incomoda um pouco pq estou um pouco cansada dela, mas o mérito do livro é ir além disso. Há sim destaque para os vampiros (e os "infectados", mas como a voz narrativa é do Neville, o foco maior é dele. No fim, até o que parece confuso parece sê-lo pq ele está confuso, perdido, sem conhecimento o suficiente...
Conforme o andamento da história, porém, vi surgirem as questões humanas que são tão exploradas na ficção científica. A tecnologia versus a natureza humana, a colaboração em frente a adversidades biológicas e tecnológicas, a psique se remodelando para entender um ambiente novo com elementos similares ao entorno opressivo de savanas de onde viemos.
O personagem principal evolui muito, usando especialmente os pulos temporais para mostrar progresso. Apesar de me parecer um recurso de inabilidade ou preguiça por parte do escritor eu apreciei como ele conseguiu deixar Robert bem diferente em cada fase narrada no livro. A fronteira borrada (ao menos pra mim) entre flashback e presente foi desafiadora mas interessante pra mim, um bom treino pra essa rapidez de clique que eu demoro a ter.
O ritmo rápido da narrativa (que pode ser bem vagarosa às vezes mas quando muda o faz do nada e permanentemente, abandonando todo o legado anterior), com o plot mais original vindo nos últimos 15/20% do livro me soa potencialmente preguiçoso ou inábil mas também servir a um propósito na história. Provavelmente eu criticaria isso em 90% de outros livros, mas NESTE achei que coube bem.
Ao fim, "Eu sou a Lenda" é uma leitura interessante que exige pouco do leitor mas constrói uma atmosfera-alvo de forma muito boa e eficiente. Vejo sinceramente como a versão premium de assistir a um bom filme. Inclusive, uma análise psicológica bem feita do protagonista poderia ser muito interessante.
(SPOILER ABAIXO)
(SPOILER ABAIXO)
(SPOILER ABAIXO)
(SPOILER ABAIXO)
(SPOILER ABAIXO)
(SPOILER ABAIXO)
O brilho absoluto da história vem a partir do seu final. Adorei a noção de ver a si como anormal dentro da crença férrea e perdida da SUA normalidade. Acabei dialogando com a questão do conflito geracional em uma leitura recente minha, Pais e Filhos, mas acho que Eu sou a Lenda brilha na humildade do protagonista em aceitar que se o que ele mais desejava era companhia humana ele deveria aceitar que ela poderia não querê-lo também. Poderia não compreendê-lo ou aceitar seu passado. Essa possibilidade e essa atitude de Robert me deram... Esperança. Podemos formar uma nova sociedade (no caso atual, uma melhor?) e também podemos compreender mesmo as pessoas que nos fazem mal. Podemos ir além de nós mesmos ainda que precisemos lutar para sobreviver.
O amor entre Neville e Ruth é bonito também. Acredito vir da curiosidade e interesse por um ser tão diferente dela, e pela forte noção de si que ela portava em um mundo que ele se sentia tão perdido. Gostaria que tivesse sido mais desenvolvido, mas acho que a história ficou bem aparada como está, e que isso talvez tivesse descaracterizado o universo.