Felipe 21/12/2010
Ficção e realidade em harmonia
Ruy Castro é um conhecido biógrafo, entre suas obras estão os fantásticos “Chega de Saudade” e “Estrela Solitária” sobre João Gilberto e Garrincha respectivamente. Mas em “Era no tempo do rei” Ruy Castro deixa o seu lado ficcionista aflorar e nos brinda com uma obra em que realidade e ficção convivem em pura harmonia. Isto pode ser visto logo nos dois protagonistas, D. Pedro I e Leonardo, este saído direto do livro de Manuel Antônio de Almeida “Memórias de um Sargento de Milícias”, do qual o livro de Castro é uma homenagem desde o seu título, que é a frase que o Almeida inicia sua obra clássica protagonizada por Leonardo.
“Era no tempo do rei” se passa nos dias de carnaval de 1810, quando a família real estava no Rio fugida de Napoleão. O romance conta as travessuras de Pedro, o futuro imperador do Brasil e Leonardo. Eles se conhecem de maneira que só podia ser saída de uma obra de ficção, porém bem possível de ter sido real conhecendo um pouco da biografia de nosso primeiro imperador. Na trama Pedro e Leonardo se envolvem com prostitutas, piratas e sequestros. Ao final, a ironia que marca a obra de Almeida encerra em grande estilo o livro de Castro.
Mas a trama, apesar de ser muito boa, fica ofuscada pela forma da obra de Castro, que mistura personagens reais com outros saídos de “Memórias de um Sargento de Milícias”. O constante diálogo entre a História e a história de Almeida é o grande atrativo do livro de Castro. Estão entre os coadjuvantes em “Era no tempo do rei”, D. João VI, Carlota Joaquina e Napoleão. No mesmo nível, ou até maior de importância na trama, os personagens criados por Manuel Antônio de Almeida, o major Vidigal e o padrinho Quincas. O texto de Castro é tão fluente que o leitor não tem como perceber onde acaba a ficção e inicia a realidade.
O único ponto que o texto pode ser criticado é em seu final. Parece que Castro economizou no encerramento da trama, incluindo um epílogo frio nas páginas finais. Um livro como este merecia um final mais desenvolvido e com maior riqueza de detalhes. Porém recomendo fortemente “Era no tempo do rei” assim como todas as outras obras de Ruy Castro.