Mauricio (Vespeiro) 27/07/2017Fina ironia de um mestreSe você não nutre grande admiração pela língua portuguesa, evite Machado de Assis. Um grande erro da educação no Brasil é tentar empurrar logo cedo uma obra machadiana nas fuças do estudante, na maioria das vezes fazendo com que ele perca o interesse e o prazer que o hábito da leitura pode nos proporcionar. O Bruxo do Cosme Velho não é companhia para iniciantes.
Em “O Alienista”, além de linguagem lapidada como raro diamante, o conto é enriquecido por deliciosa crítica dotada de ironia elegante. Conta a história de Simão Bacamarte, médico, expoente da ciência, que volta ao Brasil depois de estudar na Europa, fixa-se em Itaguaí (RJ), na época do Brasil Colônia, para aplicar sua teoria sobre o limite entre sanidade e loucura. Mergulhado nos livros, define quem está em pleno domínio das suas faculdades mentais. E parte para o estudo de campo, onde descobre que quase todos os habitantes da pequena cidade são desequilibrados. Como autoridade intelectual máxima e inquestionável (até então), manda internar, um a um. Depois de muito protesto, conflitos e até mortes, o alienista reformula sua teoria, conduzindo a história até uma conclusão inusitada. Tudo isso contado com bom humor (onde predomina o estilo britânico), criticando a miopia da sociedade, a ganância pelo poder, a subserviência por comodismo, construindo um bioma político sem espaço para o controverso duplipensar.
Ampliei minha experiência de leitura apreciando também as adaptações (ambas majestosas) para os quadrinhos feitas por artistas de renome nacional. Por fim, assisti a um “Caso Especial” produzido pela Rede Globo, em 1983, recontando a história. Porém, mesmo com grande elenco (Marco Nanini, Antonio Calloni, Giulia Gam, Milton Gonçalves, Cláudio Correa e Castro, Marisa Orth, Sérgio Mamberti, Marcelo Tas e Luiz Fernando Guimarães), não conseguiu agradar. As atuações exageradas de teatro bufão acabaram por transformar o humor em chatice.
Nota do livro: 7,08 (4 estrelas)
Nota da HQ de Fábio Moon e Grabriel Bá: 6,83 (3 estrelas)
Nota da HQ de Cesar Lobo e Luiz A. Aguiar: 6,77 (3 estrelas)